sab1806.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Caitlin Crews

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Nos braços do duque, n.º 1806 - dezembro 2019

Título original: Undone by the Billionaire Duke

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-805-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Eleanor Andrews tinha a certeza de que conseguia lidar com Hugo Grovesmoor, embora ninguém tivesse conseguido fazê-lo antes. Conforme a imprensa dizia diariamente, o décimo segundo duque de Grovesmoor não só era conhecido por ser um homem terrível, em todos os aspetos, como era impossível. Demasiado rico. Demasiado presunçoso. E, pior ainda, era tão tremendamente atraente que parecia ter nascido já mimado e que piorara depois.

E Eleanor estava a pôr-se diretamente nas suas garras.

– Não sejas tão dramática – dissera Vivi, a irmã mais nova, depois de Eleanor expressar um pouco de preocupação com o seu novo papel de precetora da pobre criança de sete anos que estava sob o cuidado de Hugo.

Ainda que, de vez em quando, Vivi fosse uma pessoa complicada, Eleanor não conseguia evitar amá-la. Desesperadamente. Vivi era tudo o que lhe restava depois de os pais falecerem num acidente de viação trágico que quase levara também a vida de Vivi. Eleanor nunca esqueceria que quase a perdera também.

– Não acho que esteja a ser dramática – defendeu-se Eleanor.

Vivi estava a olhar para Eleanor através do espelho do chamado «quarto» do pequeno apartamento que partilhavam no bairro menos adequado de Londres. Vivi estava a pôr a terceira camada de rímel para realçar aqueles olhos que um dos namorados descrevera como calorosos e brilhantes como o ouro. Eleanor ouvira-o gritar, quando estava bêbado, por baixo da janela da casa dos primos com quem tinham ido viver depois do acidente em que os pais tinham falecido.

Vivi guardou o rímel e observou-a:

– De facto, não vais ver o Hugo. Vais ser a precetora da criança que tem a cargo e, sejamos sinceras, não acho que sinta muito carinho por ela, tendo em conta como a história é arrevesada. Porque haveria de dedicar tempo a alguma das duas?

Gesticulando, resumiu os detalhes acidentados que todos conheciam a respeito de Hugo Grovesmoor, graças ao fascínio que a imprensa amarela sempre mostrara por ele.

Eleanor conhecia muito bem os detalhes. A sua relação inconstante e dramática com Isobel Vanderhaven, que todos pensavam que Hugo estragaria com a sua fama de malvado e que nem sequer a bondade inata de Isobel conseguiria salvar. A forma como Isobel o abandonara ao engravidar de Torquil, o melhor amigo de Hugo, já que, como todos diziam, o amor triunfara sobre a maldade e Isobel merecia algo melhor. E o facto de, depois do casamento, Isobel e o melhor amigo de Hugo terem tido um acidente de barco e Hugo ter acabado por ser nomeado o tutor legal da criança, cuja existência destruíra a sua oportunidade de ter uma relação com Isobel.

Enquanto isso, os cidadãos aplaudiam e choravam, como se conhecessem todas aquelas pessoas pessoalmente e o seu respetivo sofrimento.

– Um homem tão rico como Hugo tem tantas propriedades que não tem tempo para visitar metade delas no prazo de um ano. Ou em cinco anos – redarguiu Vivi, com indiferença, e Eleanor recordou que Vivi passara muito tempo com pessoas do estilo de Hugo Grovesmoor.

Fora ela que estivera em escolas de pessoas ricas e, embora não se tivesse destacado academicamente, tivera uma grande vida social em Londres. Tudo isso contribuiria para um casamento triunfante que ambas sabiam que Vivi teria algum dia.

Vivi era dezanove meses mais nova do que Eleanor e a mais bonita das irmãs. Tinha um corpo, um olhar e uma boca que deixavam os homens boquiabertos quando a observavam. Literalmente. O seu cabelo frisado e alvoroçado fazia com que parecesse que acabara de sair da cama de alguém. O seu sorriso atrevido insinuava que estava disposta a correr para qualquer aventura e sugeria que, se um homem fizesse bem a sua jogada, conseguiria ir para a cama com ela.

E pensar que, depois do acidente, os médicos não tinham sabido se conseguiria voltar a andar!

Vivi provara a si própria que era como uma tentação para certos homens. Normalmente, para aqueles com muitas propriedades e muito dinheiro, ainda que, até ao momento, não tivesse conseguido fugir do rótulo de «possível amante».

Por outro lado, Eleanor fora a muito poucas festas, visto que trabalhava e, às vezes, quando a situação estava difícil, tinha mais de um emprego. Enquanto Vivi era a mais bonita, Eleanor era a mais sensata. E ainda que, às vezes, tivesse desejado ser tão bonita e encantadora como a irmã, aos vinte e sete anos, encontrara o seu lugar na vida e sentia-se tranquila. Tinham perdido os pais e Eleanor não podia recuperá-los. Também não podia mudar os anos que Vivi passara nas salas de cirurgia dos hospitais, mas podia aceitar parte do papel de uma mãe com Vivi. Tentar ter bons trabalhos e pagar os gastos das suas vidas.

Bom, os gastos de Vivi, já que Eleanor não precisava de usar essa roupa tão cara que Vivi usava para sair com os seus amigos da classe alta. Vestir bem custava muito dinheiro. E Eleanor sempre conseguira ganhá-lo de uma forma ou de outra.

O último emprego que conseguira, a trabalhar como precetora para o homem mais odiado de Inglaterra, era o mais lucrativo de todos. Por esse motivo, Eleanor deixara o seu emprego como rececionista numa empresa importante de arquitetura. Visto que se rodeava de pessoas de classe alta, Vivi descobrira que o duque precisava de uma precetora e o que tencionava pagar à pessoa que ocupasse o posto era muito mais do que Eleanor alguma vez recebera.

– Diz-se que o duque rejeitou todas as precetoras que entrevistou. Aparentemente, o maior motivo para isso foi o risco de se transformarem numa distração para ele e… – comentara Vivi, encolhendo os ombros. – Talvez sejas perfeita para o lugar!

A agência que lhe fizera a entrevista aceitara-a, portanto, Eleanor estava a fazer a mala para a viagem até aos campos de Yorkshire.

– O cargo de precetora está entre os cargos mais baixos dos empregados domésticos, Eleanor – dizia Vivi. – É muito difícil encontrares o Hugo Grovesmoor lá.

Eleanor achava bem. Era imune ao poder da fama e à sensação de prepotência que estava associada a ela. Pelo menos, era o que se repetia na manhã seguinte, durante o trajeto de comboio até Yorkshire.

Não ia para o norte de Inglaterra desde que era uma criança e os pais ainda estavam vivos. Eleanor recordava vagamente passear junto das muralhas que rodeavam a cidade de York, sem ter consciência de que tudo mudaria em breve.

«Não tem sentido ser sentimental», repreendeu-se, enquanto esperava pelo comboio que a levaria aos subúrbios, exposta ao frio do mês de outubro na estação de York. A vida continuava a avançar com despreocupação.

Independentemente de tudo aquilo que as pessoas perdiam pelo caminho.

Eleanor esperava que alguém fosse buscá-la ao chegar à pequena estação de comboio de Grovesmoor Village, no entanto, a plataforma estava vazia. Não havia ninguém senão ela, o vento de outubro e os restos da névoa matinal. Não era um começo muito animador.

Eleanor olhou para a mala que fizera para passar as seis primeiras semanas em Groves House. Depois, procurou o mapa no telemóvel e descobriu que havia uns vinte ou trinta minutos de caminho a pé até à única casa senhorial da zona: Groves House.

– Será melhor começar a andar – murmurou.

Pôs a mala de mão ao ombro, agarrou na alça da mala com rodas e começou a andar. Cinco minutos depois, apercebeu-se de que avançava na direção contrária e que se enganara.

Uma vez na direção correta, Eleanor avançou pela estrada solitária que entrava cada vez mais entre a névoa, concentrando-se unicamente na sua respiração. Depois de viver rodeada da atividade de uma cidade como Londres, esquecera o que era a tranquilidade do campo, sobretudo, numa zona rodeada de colinas.

Encontrou o desvio para Groves House entre dois marcos de pedra e seguiu pelo caminho. O percurso era sinuoso e, quando finalmente viu a casa, Eleanor já perdera a noção da distância que percorrera.

Nada poderia tê-la preparado.

A casa era numa colina e era uma demonstração de prepotência. No entanto, nenhuma das fotografias que ela vira lhe fazia justiça. Havia algo nela que fez com que Eleanor sentisse um nó na garganta. Por algum motivo, a forma como as luzes do interior contrastavam com a do entardecer fez com que não conseguisse olhar para outro lado.

Não era uma casa acolhedora. De facto, não era uma casa. Era demasiado grande e claramente intimidante, no entanto, Eleanor só conseguia pensar numa palavra para a descrever: Perfeita.

Algo ecoou no seu interior e, quando começou a andar novamente, apercebeu-se de que respirava com agitação.

Foi então que ouviu o barulho de cascos a aproximar-se dela.

Como o destino.

 

 

Sua Excelência o duque de Grovesmoor, Hugo para os poucos amigos que lhe restavam e para a imprensa, tinha poucas coisas claras naqueles dias. A bebida fizera com que lhe doesse a cabeça. Os desportos extremos tinham perdido a sua beleza, pois sabia que, depois de numerosos séculos, a sua morte significaria o fim da linha de sucessão da família Grovesmoor e deixaria o ducado nas mãos de uns primos distantes que salivavam a pensar nas propriedades e na renda que lhes proporcionaria.

Até o sexo indiscriminado perdera o seu encanto depois de cada uma das suas «indiscrições» ser publicada na imprensa. Ou se saturava até não poder mais para se esconder dos seus piores remorsos ou era tão frívolo que não era capaz de ter mais de um ou dois encontros sexuais. Eram sempre as mesmas histórias e igualmente aborrecidas.

Odiava admiti-lo, mas era possível que a imprensa amarela tivesse conseguido ganhar.

O cavalo que montava nesse dia, o orgulho dos seus estábulos, segundo lhe tinham dito, sentia tão pouca ligação com ele que começara a cavalgar pelo campo tão depressa como se ambos tivessem fugido de um livro sangrento do século XVIII.

A única coisa que faltava a Hugo era uma capa.

Não importava a distância que cavalgasse, não podia fugir de si próprio. Nem da sua mente e dos seus remorsos.

Era evidente que o cavalo o percebia. Tinham passado semanas a jogar um jogo de dominação, percorrendo a propriedade a galope.

Ao ver uma figura a andar entre as sombras para Groves House, a única coisa que pôde pensar foi que era algo diferente no meio de uma tarde outonal.

Hugo estava desesperado por algo que fosse diferente.

Um passado diferente. Uma reputação diferente… Porque quem podia ter antecipado onde o facto de menosprezar todas as notícias que a imprensa amarela publicara sobre ele o levaria?

Desejava ser uma pessoa diferente, mas isso nunca fora possível.

Hugo era o décimo segundo duque de Grovesmoor, mesmo que não gostasse, e o título era o mais importante sobre a sua pessoa, a única coisa importante que o pai tentara inculcar-lhe. A menos que arruinasse as propriedades e se desfizesse do título ao mesmo tempo ou morresse enquanto fazia alguma atividade irresponsável, Hugo seria sempre mais outro apontamento na lista interminável de duques que tinham o mesmo título e mais uma gota do mesmo sangue. O pai sempre dissera que essa noção lhe proporcionara tranquilidade. Paz.

Hugo não estava familiarizado com nenhuma dessas sensações.

– Se é um caçador furtivo, está a fazê-lo muito mal – troçou Hugo, quando se aproximou do estranho que entrara na sua propriedade. – Pelo menos, devia tentar fugir em vez de continuar a andar.

Avançou com o cavalo e parou à frente do estranho. Então, apercebeu-se de que era uma mulher.

E não qualquer mulher.

Hugo era famoso pelas suas mulheres. Pela maldita Isobel, é claro, mas por todas as outras também. Antes e depois de Isobel. Embora todas tivessem tido as mesmas coisas em comum: Todos as consideravam bonitas e todas queriam ser fotografadas ao seu lado. Isso significava seios falsos, dentes branqueados, extensões no cabelo, unhas impecáveis, pestanas postiças e tudo o resto. Tinham passado muitos anos desde a última vez que vira uma mulher a sério, a menos que fosse uma mulher que trabalhasse para ele. Por exemplo, a senhora Redding, a sua governanta mal-humorada, que mantinha porque estava sempre tão incomodada como o pai estivera quando ele aparecia nos jornais. E Hugo achava-o uma sensação agradável.

A mulher que o observava naquele momento não era nada bela.

Ou se era, fizera o possível para o disfarçar. Tinha o cabelo apanhado num coque que, só de olhar para ele, fazia com que Hugo sentisse dores de cabeça. Vestia um casaco largo que a cobria do queixo até à barriga das pernas e que a fazia parecer muito maior do que era. Além disso, usava uma mochila grande no ombro e arrastava uma mala com rodas. Tinha as faces rosadas pelo frio e um nariz delicado que muitos dos seus antepassados teriam invejado, tendo em conta que tinham sido amaldiçoados com o que se conhecia como o nariz grande dos Grovesmoor.

No entanto, o que mais chamou a atenção de Hugo foi a expressão do seu rosto. Sem dúvida, tinha o sobrolho franzido.

E isso era impossível, pois ele era Hugo Grovesmoor e as mulheres que costumavam entrar na sua propriedade sem convite consideravam tão atraente a ideia de o conhecer que não paravam de sorrir. Nunca.

Aquela mulher parecia que ia partir-se em dois se tentasse sorrir.

– Não sou uma caçadora furtiva, sou uma precetora – corrigiu, com frieza. – Ninguém foi buscar-me à estação, caso contrário, garanto-lhe que não estaria a andar, e muito menos o caminho todo, pela encosta acima.

Hugo apercebeu-se de que estava incomodada. Ninguém se mostrava incomodado com ele. Talvez o odiassem e lhe chamassem Satã ou outras coisas horríveis, mas nunca se mostravam incomodados.

– Tendo em conta que se escondeu na minha propriedade, acho que devia ter-me apresentado – disse ele, enquanto o cavalo se mexia com nervosismo de um lado para o outro. A mulher não parecia ter consciência do perigo que corria. Ou não se importava.

– Andar para a entrada principal não é esconder-se – corrigiu ela.

– Sou o Hugo Grovesmoor – apresentou-se ele. – Não tem de fazer uma reverência. Afinal de contas, sou conhecido por ser um malvado terrível.

– Não tinha intenção de fazer uma reverência.

– É claro, prefiro considerar-me um anti-herói. De certeza que isso merece uma reverência. Ou, pelo menos, um certo reconhecimento?

– O meu nome é Eleanor Andrews e sou a precetora contratada mais recentemente, conforme dizem, de uma longa lista – comentou a mulher. – Tenho intenção de ser a definitiva e, se não me engano, a forma de consegui-lo é mantendo a distância.

– Sua Excelência – murmurou ele.

– Desculpe?