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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Annie West

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O herdeiro secreto do xeque, n.º 1807 - dezembro 2019

Título original: The Desert King’s Secret Heir

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-806-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Deixa-me ser o primeiro a felicitar-te, primo. Espero que tanto tu como a tua princesa sejam felizes durante o resto das vossas vidas.

Hamid sorriu com tal benevolência que Idris não pôde evitar imitá-lo. Não tinham uma relação muito estreita, mas Idris sentira a falta do primo quando as suas vidas se tinham separado, Idris ficara em Zahrat enquanto o primo estudara no Reino Unido.

– Ainda não é a minha princesa, Hamid – declarou Idris, em voz baixa, consciente de que estavam rodeados por várias centenas de convidados importantes, desejosos de ter notícias do seu casamento, que se celebraria em breve.

Hamid mostrou-se surpreendido ao ouvir aquilo.

– Disse algo inadequado? Tinha ouvido…

– Ouviste bem – disse Idris, suspirando.

Tinha de fazer um esforço para manter a calma cada vez que pensava no casamento.

Ninguém o obrigava a casar-se. Era o xeque Idris Baddour, rei de Zahrat, defensor dos fracos e da sua nação. A sua palavra era lei no seu próprio país e também ali, na embaixada luxuosa de Londres.

No entanto, não escolhera casar-se. O casamento escolhera-o. Era necessário para cimentar a estabilidade da região, para garantir a linha de sucessão. Respeitava as tradições do seu povo. Havia muito em jogo com aquele casamento.

Fora complicado fazer mudanças em Zahrat e, ao aceitar comprometer-se com a pessoa adequada, conquistaria as últimas pessoas da velha guarda que se tinham oposto às reformas. Chegara ao trono com vinte e seis anos e muitos tinham pensado que era demasiado cedo, mas, quatro anos depois, tinham outra opinião. No entanto, sabia que, com aquele casamento, conseguiria o que não conseguira com a diplomacia.

– Ainda não é oficial – murmurou a Hamid. – Sabes que as negociações avançam devagar.

– És um homem sortudo. A princesa Ghizlan é uma mulher bela e inteligente. Será a esposa perfeita para ti.

Idris olhou para a mulher que era o centro das atenções muito perto dali. Estava radiante com um vestido vermelho que se ajustava à sua figura perfeita. Era a fantasia tornada realidade de qualquer homem. Além disso, tinha um conhecimento muito enraizado da política do Médio Oriente, era encantadora e muito educada. Idris sabia que era verdade, era um homem sortudo.

Era uma pena que não se sentisse assim.

Nem sequer a ideia de possuir aquele corpo o excitava.

Passara demasiadas horas envolvido nas negociações de paz com os dois países vizinhos complicados, demasiadas tardes a procurar estratégias para implementar reformas numa nação que ainda estava a pôr-se em dia com o século XXI.

E, antes daquilo, tivera demasiados encontros sexuais vazios, com mulheres que não lhe tinham importado.

– Obrigado, Hamid. Tens razão, tenho a certeza.

Ghizlan era a filha do governante do país vizinho e isso significava selar a paz a longo prazo. Como futura mãe dos seus filhos, o seu valor era inestimável. Aqueles filhos garantiriam a estabilidade no reino e fariam com que não se repetissem os distúrbios acontecidos depois do falecimento do tio, que não tivera filhos.

Idris pensou que aquela falta de entusiasmo desapareceria assim que partilhasse a cama com Ghizlan. Tentou imaginar o seu cabelo preto na almofada, mas, na imagem, apareceu um cabelo loiro e frisado.

– Terás de vir para casa para a cerimónia. Será ótimo ter-te lá durante algum tempo e, assim, poderás sair deste lugar tão frio e cinzento.

Hamid sorriu.

– A tua opinião não é imparcial. A Inglaterra tem muitas coisas boas.

– Claro, é um país admirável – comentou Idris, olhando à volta ao recordar que alguém podia ouvi-los.

Hamid desatou a rir-se.

– Tem muito a seu favor – comentou. – Incluindo uma mulher muito especial. Alguém que quero apresentar-te.

Idris esbugalhou os olhos. Hamid teria uma namorada formal?

– Deve ser alguém fora do normal.

Se havia alguma coisa que os homens da família faziam bem era evitar o compromisso. Ele próprio fizera-o até as necessidades políticas o terem obrigado ao contrário. O pai tivera muitas aventuras, mesmo depois de se casar. E o tio, o xeque anterior, estivera tão ocupado a divertir-se com as suas amantes que não conseguira ter um filho com a esposa.

– É. O suficiente para fazer com que pense na minha vida.

– Também é uma intelectual, como tu?

– Nada tão aborrecido.

Idris sabia que Hamid vivia para as suas investigações. E que fora por isso que não lhe tinham dado o trono quando o tio falecera. Todos, incluindo Hamid, reconheciam que se concentrava demasiado a estudar História para governar um país.

– E vou conhecê-la esta noite?

Hamid assentiu e o olhar dele iluminou-se.

– Foi refrescar-se antes de… Ah, ali está – acrescentou, apontando para a outra ponta da sala. – Não é linda?

Idris seguiu o olhar do primo e interrogou-se se se referiria à mulher alta e morena ou à loira esbelta, envolta em diamantes e pérolas. Não podia ser a que estava a rir-se às gargalhadas e usava uns brincos enormes.

Várias pessoas mexeram-se e, então, viu um vestido de seda verde-claro, uma pele branca como o leite e um cabelo que brilhava como o céu ao amanhecer, com raios dourados e cor-de-rosa ao mesmo tempo.

O coração acelerou e ficou com falta de ar. Teve uma sensação familiar na barriga. Sentiu um ardor na nuca.

Então, alguns homens voltaram a tapá-la.

– Qual é? – perguntou.

Por um segundo, sentiu algo que não sentia há anos, uma atração tão forte que não podia ser real. Pensou na única amante que nunca conseguira esquecer.

Contudo, a mulher que conhecera tinha o cabelo encaracolado, não liso, nem apanhado num coque apertado.

– Agora, não a vejo. Vou buscá-la – disse Hamid, sorrindo. – A não ser que queiras descansar das formalidades por um instante.

Segundo a tradição, o rei recebia os seus convidados sentado no seu trono, num palco, para as audiências formais. Idris quase lhe disse que esperaria ali quando se interrogou há quanto tempo não se dava ao luxo de fazer o que queria.

Olhou para Ghizlan, que estava a conversar com vários políticos. Como se tivesse sentido o seu olhar, levantou o dela, sorriu por um instante e continuou a conversa.

Não havia dúvida de que seria a rainha adequada. Não exigiria a sua atenção como tantas ex-amantes tinham feito.

Idris virou-se para Hamid.

– Vamos, primo. Estou desejoso de conhecer a mulher que capturou o teu coração.

Avançaram entre a multidão até Hamid parar à frente da mulher de verde, com a pele cremosa, o cabelo loiro e a figura delicada. Idris reparou em como o vestido se colava às ancas e ao rabo.

Ficou imóvel, com a sensação de que já estivera ali antes. Parou de ouvir as conversas ao seu redor e o olhar toldou-se.

Os seus lábios carnudos.

Aquele nariz reto.

O pescoço esbelto.

Percebeu que a conhecia, que a recordava melhor do que qualquer outra mulher que tivesse passado pela sua vida.

E sentiu náuseas só de pensar naquela coincidência.

A ideia de aquela mulher pertencer a Hamid deixou-o furioso.

– Aqui está, finalmente. Arden, gostaria de te apresentar ao meu primo Idris, o xeque de Zahrat.

Arden sorriu e tentou não se mostrar impressionada porque estava a conhecer o que seria o seu primeiro e último xeque. Já ficara muito nervosa ao saber que ia a uma receção cheia de pessoas importantes.

O rosto do xeque parecia esculpido pelos ventos do deserto. Tinha as maçãs do rosto marcadas e uns lábios firmes, mas muito sensuais. Tanto o nariz como o queixo eram fortes. E o ângulo das suas sobrancelhas escuras intimidou-a. Tal como o seu nariz, que se mexera como se o xeque tivesse sentido um cheiro inesperado.

Surpreendida, sentiu que perdia a força nos joelhos.

Aqueles olhos…

Eram escuros como uma tempestade à meia-noite e observaram-na fixamente enquanto se agarrava ao braço de Hamid. Depois, fixaram-se nos dela, com desdém.

Arden ficou nervosa e pensou que não era possível. Não podia ser.

Por muito que o seu corpo lhe dissesse o contrário, não era possível que conhecesse aquele homem.

No entanto, o seu cérebro não ouvia razões. Garantia-lhe que era ele. O homem que lhe mudara a vida.

Sentiu calor da cabeça aos pés, só um instante e, então, ficou gelada.

Agarrou-se ao braço de Hamid enquanto o seu olhar se toldava. Era como se tivesse saído do mundo real para entrar numa realidade alternativa, em que os sonhos se tornavam realidade, mas tão distorcidos que eram quase irreconhecíveis.

Não era ele. Não podia ser. Baixou o olhar para o seu pescoço. Já tinha aquela cicatriz ali?

É claro que não. Aquele era um homem mais duro, muito mais intimidante do que Shakil. De certeza que não sabia sorrir de forma encantadora.

No entanto, desejou perguntar-lhe se podia tirar o fato e a gravata para verificar se tinha uma cicatriz que fizera a montar a cavalo.

– Arden, estás bem? – perguntou Hamid, preocupado, agarrando-lhe a mão.

Aquilo fê-la voltar à realidade. Afastou a mão da dele e endireitou os joelhos.

Naquela noite, percebera que Hamid pensava que eram mais do que amigos. Ela não podia permitir que tivesse ilusões, por muito agradecida que se sentisse com ele.

– Estou… – começou a dizer, pigarreando e hesitando. – Vou ficar bem.

No entanto, continuou a olhar para o outro homem como se fosse uma espécie de milagre.

Então, percebeu que não podia ser Shakil. Se fosse Shakil, não teria sido um milagre, mas outra lição que a vida lhe dava. Um homem que a usara para depois se livrar dela.

– É um prazer conhecê-lo, Alteza – disse. – Espero que esteja a desfrutar da sua estadia em Londres.

Demasiado tarde, questionou-se se devia fazer uma reverência. Tê-lo-ia ofendido? Parecia muito tenso, como se estivesse preparado para uma batalha, não para uma receção.

Fez-se o silêncio e o xeque não respondeu. E ela franziu o sobrolho. Ao seu lado, Hamid inclinou a cabeça bruscamente para o xeque.

– Bem-vinda à minha embaixada, menina…

«Aquela voz. Tinha a mesma voz.»

– Wills. Arden Wills – disse Hamid.

Arden não conseguia falar e, de repente, quase não conseguia respirar.

– Menina Wills – concluiu o xeque.

E Arden achou ver confusão nos seus olhos escuros, mas não foi capaz de o assimilar porque estava demasiado ocupada a pensar que o primo de Hamid se parecia demasiado com Shakil. Ou com um Shakil muito mais sério e alguns anos mais velho.

Aquele homem tinha o rosto mais magro, o que acentuava a sua estrutura óssea. E a sua expressão era séria, muito mais dura do que alguma vez vira em Shakil. Shakil fora um amante, não um guerreiro e aquele homem, apesar de estar vestido de forma ocidental, dava a sensação de estar montado num cavalo, a galopar para a batalha.

Arden tremeu e, com mãos trémulas, tocou nos braços.

Ele disse alguma coisa. Ela viu que os seus lábios se mexiam, mas não entendeu as palavras.

Pestanejou, inclinou-se para a frente e endireitou-se, atraída pelo olhar de veludo preto.

Hamid agarrou-a.

– Lamento. Não devia ter insistido que viesses esta noite. Estás demasiado fraca.

Arden ficou tensa ao ver que o xeque respirava fundo. Hamid era seu amigo, mas mais nada. Além disso, há muito tempo que não gostava que lhe tocassem.

– Estou lindamente – murmurou.

Recuperara da gripe, mas dava-lhe a desculpa perfeita para estar um pouco atordoada e fraca.

Afastou-se um passo de Hamid e voltou a olhar para o xeque nos olhos. Não era possível. Shakil era um estudante, não um xeque.

– Obrigada, Alteza. É uma festa linda.

Nunca tivera tanta vontade de se ir embora.

– Tem a certeza, menina Wills? Dá-me a sensação de que cambaleia.

Ela sorriu, tensa.

– Obrigada pela sua preocupação. É apenas cansaço depois de uma semana muito comprida – comentou, corando. – Lamento muito, mas receio que seja melhor ir-me embora. Não te preocupes, Hamid, posso voltar para casa sozinha, vou ficar bem.

Mas Hamid não ia permitir aquilo.

– O Idris não se importa que me vá embora contigo, pois não, primo?

E sem esperar pela resposta, continuou:

– Acompanho-te a casa e, depois, volto.

Pelo canto do olho, Arden viu como o xeque arqueava as sobrancelhas, mas não se preocupou com ofendê-lo, preocupava-se mais com como fazer Hamid entender que o seu interesse repentino não era recíproco sem ferir os seus sentimentos.

Também a preocupava muito que o xeque Idris se parecesse tanto com o homem que lhe mudara a vida.

E, sobretudo, preocupava-se com continuar a desejar tanto aquele homem depois de quatro anos.

 

 

Passar a noite em branco não foi bom para Arden. Devia ter-se alegrado por ser domingo, o único dia da semana em que podia dormir em vez de ir trabalhar na florista, mas a verdade era que teria preferido a segunda hipótese.

Faria tudo para se distrair das preocupações que começara a ter na noite anterior. E, sobretudo, das lembranças que a tinham impedido de dormir.

A vida ensinara-lhe os perigos do desejo sexual e de se apaixonar. Ou de pensar que podia ser especial para alguém.

Durante os quatro últimos anos, pensara que era tola e ingénua e a realidade demonstrara-lhe que estava certa. Mesmo assim, não conseguira impedir o desejo ao olhar para os olhos do xeque Idris de Zahrat.

Ainda naquele momento, à luz do dia, uma parte dela continuava a estar convencida de que era Shakil. Um Shakil que talvez tivesse sofrido um traumatismo craniano e a tivesse esquecido. Um Shakil que passara anos a procurá-la desesperadamente, sem pensar noutra mulher.

«De certeza. E a fada madrinha chegará de um momento para o outro com a varinha e a carruagem.»

Shakil poderia tê-la encontrado se quisesse fazê-lo. Não lhe mentira acerca da sua identidade.

Gostara de seduzir uma jovem inglesa, sonhadora e inocente, nas suas primeiras férias no estrangeiro.

Arden tremeu e esfregou os braços com ambas as mãos.

Tinha de parar de sonhar. Pensou que Hamid lhe recordara alguém da primeira vez que o vira, no Museu Britânico, e que a atraíra com o seu sorriso amável e a sua modéstia na hora de falar daquela exposição em que se exibiam frascos de perfume e joias, antiguidades de Zahrat.

Fizera-a pensar em Shakil. Um Shakil mais calado, mais reservado. Era possível que lhe tivesse acontecido o mesmo com o xeque, que era o seu primo? Talvez o cabelo escuro, as feições marcadas e os ombros largos fossem traços comuns de todos os homens daquele país.

Não queria conhecer mais homens de Zahrat. Nem sequer queria saber nada de Hamid, que passara de ser seu amigo a querer ser namorado. Como era possível que não o tivesse visto vir?

Cerrou os dentes, pegou numa camisola velha e vestiu-a. Depois, abriu o armário da limpeza com cuidado para não fazer barulho. Pelo menos, se fosse a única acordada, poderia pensar no que fazer a respeito de Hamid e da sua possessividade repentina.

Saiu para a rua com um pano e um frasco de cera na mão. Pensava sempre melhor enquanto trabalhava. Esfregou a maçaneta da porta e a caixa do correio.

Acabara de começar quando ouviu que uns passos desciam as escadas da casa principal que havia por cima da sua casa, que era na cave. Uns passos de homem. Arden concentrou-se na limpeza, dizendo-se que não estaria tranquila até saber que Hamid se fora embora.

– Arden… – murmurou alguém, num tom baixo e suave.

Ela pestanejou e fixou o olhar na tinta preta da porta. Estava a imaginar. Passara toda a noite a pensar no xeque e…

Ouviu passos nas escadas que levavam ao pequeno jardim que havia à frente da sua casa.

Ficou tensa. Aquilo não era imaginação dela.

Virou-se e o frasco de cera bateu nos ladrilhos do chão.

Capítulo 2

 

 

 

 

 

Uns olhos enormes observaram-na. Uns olhos tão brilhantes como duas pedras preciosas do seu tesouro real. Uns olhos de um verde-azulado tão claro como o mar de Zahrat.

Quantas vezes, ao longo dos anos, sonhara com aqueles olhos incríveis? Com um cabelo dourado com reflexos cor-de-rosa, que caía em ondas sobre os seus ombros brancos.

Por um instante, Idris só conseguiu olhar para ela. Preparara-se para o encontro. Cancelara o pequeno-almoço com Ghizlan e com os seus respetivos embaixadores para ir lá, mas o desejo que sentiu ao ver Arden Wills gozou com ele. Pensara que conseguiria controlar a situação.

Onde fora parar o seu autocontrolo? Como podia desejar uma mulher que pertencia a outro? Ao próprio primo?

Onde estava a sensatez? O que fazia ali?

Idris já não se comportava de forma impulsiva. Nem egocêntrica. Já não o fazia há anos. Mas fora impulsivo e egocêntrico ao ir ali.

Aquilo zangou-o.

– O que fazes aqui? – perguntou ela, num tom rouco.

E ele recordou como gritara o seu nome ao chegar ao clímax, como o fizera sentir-se em tão pouco tempo.

Como podia ter aquelas lembranças tão frescas?

Fora apenas uma aventura de verão, como tantas outras. Porque é que aquela era diferente?

Porque fora diferente. Pela primeira vez na sua vida, pensara na possibilidade de continuar com ela depois. Não quisera afastar-se de Arden tão depressa.

– O Hamid não está – disse ela, agarrando os dedos com nervosismo.

E Idris sentiu satisfação. Não era o único que estava tenso.

– Não vim ver o Hamid – declarou.

Aqueles olhos cinzentos esbugalharam-se num rosto que parecia ainda mais branco do que antes. Hamid dissera que estava delicada. Estaria grávida? Seria por isso que parecia que podia ser levada por um sopro de vento?

Idris sentiu ciúmes, sentiu-se furioso, embora não tivesse motivos. Mas isso não importava. Às quatro da madrugada, decidira que não ia continuar a pensar que não sentia nada por Arden Wills. Era um homem pragmático. A verdade era que sentia. E estava ali para descobrir o motivo e, depois, para lhe pôr fim.

– Devias sentar-te. Não tens bom aspeto.

– Estou lindamente – respondeu ela, cruzando os braços e fazendo com que Idris reparasse nos seus seios, que lhe pareceram mudados, ainda mais… – Eh, estou aqui.

Arden passou-lhe uma mão à frente da cara e ele sentiu vergonha pela primeira vez na vida. Corou. Não estava habituado àquela sensação.

Quando levantou o olhar, percebeu que ela também estava corada. Seria aborrecimento? Vergonha? Ou algo parecido com a atração que ele sentia, para sua tristeza?

– Vim ver-te – admitiu, num tom possessivo, não pôde evitá-lo.

– A mim? – perguntou ela, estranhando.

– A ti. Podemos entrar?