Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
© 2010 Leanne Banks. Todos os direitos reservados.
FILHO INESPERADO, N.º 985 - Abril 2012
Título original: From Playboy to Papa!
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em portugués em 2011
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-687-0248-3
Editor responsável: Luis Pugni
ePub: Publidisa
A foto do jornal que estava sobre a mesa chamou a atenção de Rafe. A mulher do fundo parecia-lhe familiar. Olhou mais de perto e identificou-a de imediato. Tabitha.
Sentiu um nó no estômago e foi tomado por uma série de emoções. Reconhecia o sedoso cabelo loiro, embora estivesse mais escuro, os olhos azuis e sensuais, o corpo capaz de endoidecer qualquer homem e do qual ela sempre soubera tirar partido. Conseguira que Rafe ficasse obcecado por ela e depois prendera-o até quase sufocá-lo.
– Esse negócio deve ser muito importante se até te leva a deixares South Beach – disse o seu irmão Michael. Rafe esforçou-se por voltar ao presente.
– Não me importo de viajar se for pelo cliente certo. Este já comprou dois iates de luxo e tem uns amigos que desejam alugar outros – Rafe também não se importava nada de roubar negócios à Iates Livingstone. Na verdade, até tinha muito prazer em torturar o pai de Tabitha, mas isso não confessava ele. – E tu? O negócio parece correr-te bem – disse Rafe, olhando em volta. O seu irmão transformara o bar no novo sítio da moda em Atlanta. – O toque mágico de Michael triunfa novamente.
– Sabes que não é assim – Michael soltou uma gargalhada. – Mato-me a trabalhar.
– Como todos os Medici – disse Rafe, pensando no seu irmão mais velho. – Damien concordaria, mas só até certo ponto, visto que agora vivia um casamento feliz – voltou a olhar para o jornal. Custava-lhe acreditar que, outrora, tivesse chegado a ponderar um futuro com Tabitha.
– Ei, não estás a ouvir uma palavra do que digo – queixou-se Michael. – Que estás tu a ver?
Rafe semicerrou os olhos ao ver um menino pequeno junto a Tabitha. Deduziu que aquela mentirosa tinha andado a encontrar-se com outro enquanto incendiava a sua cama. Se até a descobrira a tentar seduzir um dos seus clientes…
– Conheces o tipo da cadeira de rodas? – perguntou Michael.
– Quem…? – Rafe fez uma pausa e lançou uma olhadela ao artigo sobre um veterano da Marinha que estava a tentar ter uma nova vida apesar das suas incapacidades. Perguntou-se que raios faria Tabitha com ele. Ela não passava de uma rapariga rica e mimada.
Enrugou a testa e analisou novamente a foto. O menino, de cabelo escuro e encaracolado, parecia tímido. Rafe fez contas de cabeça e sentiu um arrepio. Parecia um Medici. Embora ela o tivesse enganado, ele podia ser filho dele.
– Rafe, hoje estás estranhíssimo– disse-lhe o irmão, num tom alarmado.
– Pois, bem… – abanou a cabeça e apontou para o artigo. – Sabes onde é isto?
– Sim, não fica no melhor dos bairros – Michael arqueou uma sobrancelha. – Não te aconselharia a ficares por lá muito tempo depois do anoitecer.
Rafe olhou para o seu relógio. Praguejou ao ver que eram onze da noite. Fechou o punho com raiva. Tinha que descobrir se tinha um filho ou não.
– Que se passa? – perguntou Michael.
– Não tenho a certeza, mas vou descobrir assim que amanhecer.
Nicole Livingstone fechou-se bem no casaco, para proteger-se do frio de Janeiro. Atlanta ficava no Sul mas as temperaturas podiam baixar aos zero graus. Foi para o seu carro e observou um homem alto e bonito que caminhava para ela.
Se fosse dada a namoriscar, este seria um bom momento. O homem vestia um casaco de cabedal preto e dava passos longos e vigorosos. O vento alvoroçava-lhe o cabelo escuro. Os seus olhos escuros eram emoldurados por cerradas sobrancelhas e tinhas as faces vermelhas de frio. A única coisa negativa era que apertava os lábios, como se estivesse desagradado com algo.
Desviou o olhar.
– Tabitha – disse o homem, parando à frente dela. – Tabitha Livingstone.
– Não sou… – olhou para ele, espantada por ele saber nome da sua irmã.
– Não tentes enganar-me. Tu e eu conhecemo-nos muito bem.
Nicole respirou fundo, entre decepcionada e excitada. Já tinha sido confundida com a sua irmã muitas vezes, mas o seu problema era que nunca sabia como Tabitha teria tratado a pessoa em questão. Dado que a sua irmã morrera há alguns anos, explicar o erro costumava emocionar o seu interlocutor.
– Sou Nicole Livingstone, irmã gémea de Tabitha – observou o homem enquanto este digeria a informação. O rosto dele passou da incredulidade à confusão.
– Nunca me falou de uma gémea.
– Gostava de guardar a informação para mais tarde surpreender – Nicole soltou um risinho nervoso, – para o caso de alguma vez precisar de culpar de algo a sua malvada gémea…
– Hum – o homem franziu a testa e esfregou o queixo. – Onde está ela?
Nicole mordeu o lábio. Sentiu uma dor que a surpreendeu. Pensava já ter ultrapassado a morte da irmã mas, afinal, parecia que não.
– Morreu há três anos.
– Não sabia – olhou para ela, surpreendido.
– Teve uma infecção muito grave e os médicos não conseguiram salvá-la. Nós pensávamos que, dada a sua obstinação, sobreviveria a qualquer coisa. A sua morte comoveu-nos a todos.
– Lamento muito a tua perda – disse ele, com uma certa dureza no olhar. Estendeu-lhe uma mão. Ela aceitou-a e sentiu-se surpreendida com a sua força e calor.
– Obrigada. Quem és tu?
– Rafe – respondeu ele. – Rafe Medici.
A ela, pareceu-lhe que o seu mundo vacilava. O seu coração acelerou como se acabasse de tocar um alarme de incêndios dentro de si. Levou um momento a retirar a mão. Precisava afastar-se dele o mais depressa possível.
– Obrigada uma vez mais. Adeus.
Começou a contorná-lo, mas ele tocou-lhe num braço. Mordeu o lábio e esperou, sem olhar para ele.
– Vi no jornal uma foto tua com um menino. Era filho de Tabitha?
– É meu – disse ela, sentindo o sangue subir-lhe à cabeça. – Joel é meu.
– Tabitha teve algum filho antes de morrer?
– Joel é meu. Tenho que ir-me embora – respondeu. Seguiu pela calçada até ao seu carro, que estava no parque de estacionamento. Com o coração acelerado, abriu a porta e entrou. Estava a fechar a porta quando Rafe Medici a deteve.
– Senhor Medici – gemeu ela, aterrorizada.
– O meu pai morreu quando eu era pequeno. Foi uma perda terrível. Não quereria isso para um filho meu – disse ele.
A sua expressão compassiva surpreendeu-a. A sua irmã tinha-lho descrito como um ser egocêntrico.
– Por favor, afaste-se do meu carro. Tenho que ir-me embora – conseguiu dizer no seu tom mais frio.
Ele afastou a mão, lentamente, perscrutando-a.
Pelos vistos, não era fácil intimidá-lo. Mas era lógico: era muito mais alto que ela e, a julgar pela largura dos seus ombros, poderia levantar no ar três mulheres como ela.
– Até depois – disse ele.
Nicole fechou a porta e arrancou, rezando para que não houvesse nenhum «depois».
Joel estava quase a fazer quatro anos e ela pensava que estavam a salvo. Enfim, não Rafe Medici me fora ao funeral da sua irmã. Não enviara flores, nem nada. Fez-se à estrada, banhada num suor frio, sentindo a cabeça às voltas.
Nicole levava uma vida discreta. Tabitha é que era do tipo de chamar as atenções. Mas levara Joel a conhecer um dos seus pacientes, porque este tinha uma colecção de modelos de dinossauros. Um repórter, que escrevia um artigo sobre veteranos de guerra incapacitados, surpreendera-os ali e publicara a sua foto no jornal. Pura má sorte.
Apertou os dedos sobre o volante e perguntou-se se deveria partir de imediato com Joel. Mas ele era um menino tímido e parecia sentir-se muito bem no seu jardim infantil.
Recordou o olhar de determinação de Rafe e estremeceu. Considerou as suas opções. A sua mãe vivia do outro lado do mundo, na França. Poderia ir-se para lá com Joel, por algum tempo. Mas a sua mãe tinha uma vida social muito activa e um menino interferiria com o seu estilo de vida.
Tabitha teria recorrido ao seu pai e tê-lo-ia bajulado para sacar-lhe dinheiro, mas Nicole reduzia o contacto com o pai ao mínimo. Depois do que tinha feito…
Respirou fundo para acalmar-se. Sempre lhe tinham dito que era a gémea prática. Haveria de pensar em algo. Acima de tudo, e sem lugar para dúvidas, protegeria Joel.
Rafe, enquanto a observava a sair do parque de estacionamento, soube que ela lhe mentira. Tinha sentido um formigueiro na mão esquerda que nunca o enganava. Essa mulher significaria problemas. Possivelmente mais que Tabitha, se é que isso era possível.
Tabitha tinha actuado como se gostasse de viver com ele, mas depressa descobriu que só lhe interessava o dinheiro dele. Nunca tinha percebido a sua avareza, tendo em conta quão rico era o pai dela. Recordava como lhe suplicara que a deixasse tratar da venda de alguns dos seus iates. Ele acedera, pensando que estava a ganhar o jogo ao poderoso Conrad Livingstone com a ajuda da sua própria filha. Mas tinha saído queimado. Ela mentira-lhe para ganhar uma comissão maior e tentara seduzir um dos seus clientes, um príncipe. Sem sucesso.
Semicerrou os olhos e dirigiu-se para seu carro de aluguer. Não seria difícil descobrir a verdade sobre Tabitha, Nicole e Joel. Entrou para o veículo, arrancou o motor e ligou ao seu irmão.
– Olá, Rafe, que se passa? – perguntou Michael.
– Preciso do nome de um bom investigador privado, rápido e discreto – respondeu.
– De acordo. Isto tem algo a ver com a tua estranha atitude de ontem à noite?
– É possível – admitiu Rafe.
– Significa isso que ficarás em minha casa mais uma noite?
– Sim, a não ser que isso represente um problema.
– Não. Mas estarei fora quase todo o tempo. Acabo de encontrar uma empresa que posso comprar barata. Pões-me a par do assunto? – inquiriu Michael.
– Assim que souber mais. Dá-me o telefone dele – Rafe queria respostas e ia consegui-las.
Após receber um relatório preliminar do detective, Rafe reuniu com um advogado.
– Até que ponto pode Nicole Livingstone lutar pela custódia?
– Pode lutar, mas se não conseguir provar que és um pai inadequado, não ganhará. Só precisas de um teste de paternidade que prove que o menino é teu. Será fácil conseguir uma ordem judicial.
Rafe pensou nos anos que lhe tinham roubado da vida do seu filho. A amargura revolveu-lhe o estômago. Era tudo culpa dos Livingstone.
– Esta gente enganou-me da pior maneira possível. Quero ter Joel o mais depressa possível.
– Não tão rápido assim – o advogado ergueu a mão.
– Por que não? – exigiu Rafe. – Acabas de dizer-me que conseguirei a custódia sem problemas.
– Certo. Mas tens que pensar no bem-estar do teu filho. Queres realmente separá-lo da única pessoa que conhece desde que nasceu? Ao que parece, Nicole Livingstone cuidou muito bem de Joel. Não concordas?
– Sim – admitiu ele, contrariado.
– Legalmente, talvez tenhas o direito de tirar-lho. Mas como se sentirá Joel se afastares dele a mulher que conhece como mãe?
Rafe sentiu o estômago apertado. Ele passara por uma experiência similar: perdera os seus pais em criança, embora não fosse tão pequeno quanto Joel. O trauma levara-o a sentir-se perdido durante anos. Embora não gostasse dos Livingstone, tinha que reconhecer que Nicole fora uma boa mãe para Joel.
Parecia diferente de Tabitha, mas era cedo para sabê-lo com segurança. Custava a acreditar que se parecesse tão pouco com a irmã e com o pai.
Sentiu uma onda de amargura. Por fim, tinha a oportunidade de vingar-se dos Livingstone, tirando-lhes Joel para sempre. A ideia era gratificante, mas egoísta. Tinha um filho em quem pensar e isso desconcertava-o.
Nicole poderia ser-lhe útil. Não era nada o seu tipo: não chamava a atenção e mantinha a sua sensualidade sob controle. No entanto, intrigara-o sexualmente. Suspeitava que quando se deixava ir era explosiva e que o homem certo poderia acender-lhe o pavio… Noutras circunstâncias, teria tentado satisfazer a sua curiosidade, mas estava em jogo algo muito mais importante: o seu filho.
Na noite seguinte, após jantar e dar um banho a Joel, Nicole ajudou-o a vestir o pijama e sentou-se ao seu lado, na cama.
– Que conto queres que te leia hoje? – perguntou.
Sentiu uma pontada no coração quando o menino levantou quatro livros e olhou para ela, esperançado. Era seu sobrinho, mas via-o como seu filho. E assegurara-se de que também o era à luz da lei.
– Quatro? Pensava que hoje só ia ler-te dois.
– Gosto destes todos – disse o menino, olhando para os livrinhos. Era óbvio que lhe custava escolher.
– Bem, mas só desta vez – suspirou ela. Sabia que voltaria a convencê-la no dia seguinte. Gostava daquele momento ainda mais que ele.
Ele sentou-se no seu colo e abriu o conto do morango gigante e do rato que queria comê-lo.
Nicole perguntou-se se voltaria a ouvir falar de Rafe Medici. Descontraíra um pouco ao não ter mais notícias dele na noite anterior nem ao longo do dia. O seu medo inicial quase a levara a sair do país com Joel.
Tabitha morrera quando Joel tinha seis meses e o menino via Nicole como a sua verdadeira mãe.
Nicole sentira-se unida a ele desde o dia do seu nascimento. Fora um parto difícil e ela estivera com a sua irmã em todos os momentos. Tabitha desenvolvera uma infecção no hospital e os seis meses seguintes tinham sido uma loucura. Nicole pedira dias livres no trabalho para cuidar da mãe e do filho.
Tabitha impacientara-se com o médico e parara de tomar a medicamentação com regularidade. Insistira em sair à noite, para uma festa, enquanto Nicole cuidava de Joel.
Uma noite, desmaiara e tinham-na levado para o hospital. A infecção estendera-se por todo o seu corpo e falecera uma semana depois.
Nicole, devastada e comovida, solicitara a custódia legal de Joel, seguindo as instruções de Tabitha. O seu pai convidara-os a viver com ele, mas ela recusara. Negava-se a submeter Joel ao carácter imprevisível do seu pai.
Embora a ameaça que Rafe Medici representava continuasse a ocupar-lhe os pensamentos, aninhou Joel contra o peito e leu-lhe o segundo e o terceiro conto. A meio do quarto, o corpinho de Joel caiu sobre o seu. Nicole sorriu. Cobriu-o, beijou-lhe a testa, desligou o candeeiro e saiu do quarto.
Foi para a salinha e o silêncio envolveu-a como um manto. No início, após a morte de Tabitha, custava-lhe superar o pânico que sentia perante a missão de criar o filho da sua irmã. Não sabia se seria capaz mas compreendera que não havia outra opção e que teria que fazê-lo.
Após ultrapassar com sucesso a dentição, a varicela e as mudanças de fraldas, não questionava tanto a sua capacidade. Joel era um menino feliz e são.
O silêncio apenas sublinhava o facto de estar sozinha. Ligou a aparelhagem e pôs a tocar uma selecção de canções pop. Por puro hábito, começou a rever alguns documentos de trabalho.
Nicole ficava consciente da sua solidão após cada vez que deitava Joel. A sua mãe vivia na outra ponta do mundo e não podia confiar no seu pai.
Agradecia a Deus por poder contar com Julia, a sua prima. Julia costumava desafiá-la a sair mais, mas a Nicole custava-lhe deixar Joel à tarde. O homem com quem Nicole andava a sair antes da morte de Tabitha não quisera assumir a responsabilidade de uma família já formada. Talvez, no momento certo, um homem voltasse a entrar na sua vida. Um homem normal, que não fosse um egocêntrico obcecado com o sucesso. Mas esse dia ainda não tinha chegado.
Concentrou-se no trabalho para distrair-se. Meia hora depois, bateram à porta. Eram oito e meia. Foi até à entrada e, cautelosa, olhou pelo óculo. O seu coração deu um salto. O seu pior pesadelo estava no alpendre.
Nicole pensou não abrir, mas não queria que Rafe Medici continuasse a tocar à campainha e acordasse Joel. Respirou fundo, abriu e olhou para ele em silêncio, preparando-se para a batalha que sabia que estava por chegar.
– Joel é meu filho – disse ele com voz dura.
– Joel é meu, legalmente e em todos os sentidos – replicou ela de imediato. Não lhe foi difícil falar num tom frio, já que o sangue lhe tinha gelado nas veias.
– Tabitha era a mãe dele – disse, curvando os lábios num sorriso amargo. – Não me surpreende que não mo dissesse, já que me queria só para diversão e não como algo permanente na sua vida.
– Tabitha expôs os seus desejos em testamento – alegou Nicole. – Sabia que Joel precisava de um lar estável e cheio de carinho.
– Joel merece conhecer o seu pai – disse Rafe, com os olhos a faiscar de raiva. – Isso foi-lhe negado durante quase quatro anos.
– Garanto-te que Joel não tem sofrido estando a meu cuidado. Ele é a minha prioridade.
– Isso não altera o facto de que também precisa de um pai – Rafe olhou para dentro da casa. – Vamos continuar a discutir isto no alpendre, ou vais deixar-me entrar?
Ela, contrariada, pôs-se de lado. Não pôde deixar de reparar como o seu corpo alto e musculoso enchia o diminuto vestíbulo.
– Se acordares o meu filho, não hesistarei em chamar as autoridades para que te tirem da minha casa.
– Não costumo ter necessidade de levantar a voz – disse ele num tom que sublinhava poder e solidez.
De imediato, Nicole concluiu que com tal segurança em si mesmo não precisaria gritar e praguejar como o seu pai costumava fazer. Talvez conseguisse tudo o que quisesse com apenas um olhar autoritário. Olhou para as suas enormes mãos e sentiu uma pontada de medo. «A não ser que use os punhos», pensou.
Tabitha nunca referira qualquer tipo de violência da parte dele, mas sim que era um tipo forte e dominante. Um homem pouco sofisticado mas, num primeiro momento, encantador e a quem, pelos vistos, tinha subestimado.
– Já é tempo de eu conhecer o meu filho – disse ele.
– Não quero que a vida de Joel seja perturbada – respondeu ela com apreensão. – É feliz e sente-se seguro. Conhecer-te poderia confundi-lo. Além disso, está visto que não sabes nada de crianças, ele está a dormir há mais de uma hora.
– Em algum momento, saberá que tem um pai. Quanto mais tarde isso acontecer, mais lamentaremos ambos o tempo perdido. Tenho direitos legais. Se é necessário seguir esse caminho, segui-lo-ei.
– Não te atrevas a ameaçar-me – Nicole olhou-o nos olhos. – Que tens tu para oferecer-lhe? Onde vives? Numa espécie de iate de playboy? Que tipo de vida é essa para um menino?
– Estou disposto a fazer mudanças pelo meu filho – Rafe cerrou os lábios. – Deveria estar a viver comigo. Posso contratar alguém para ajudar-me.
– Contratar alguém? – o sangue de Nicole começou a ferver. – Isso é muito paternal da tua parte Não me parece que queiras uma relação real com Joel. Só queres ter o controlo, tal como Tabitha dizia.
Rafe olhou para ela fixamente e Nicole compreendeu que tinha falado demais. Ele pôs as mãos nas ancas e olhou-a de alto a baixo.
– Que te contou Tabitha sobre mim?
Ela, nervosa, deu um passo atrás.
– Disse-me que tinha medo de ti. Que se conheceram num clube em Miami e que tiveram uma aventura que durou alguns meses. No início, eras lindo e encantador, embora menos polido que os seus namorados habituais. No final da relação, transformaste-te numa pessoa que queria controlá-la – calou-se antes de dizer-lhe que Rafe a fizera lembrar muito do seu pai.
Rafe inspirou, dilatando as narinas. A sua expressão era serena, mas os seus olhos brilhavam.
– E aceitaste a opinião dela sobre mim como se fosse a Bíblia. Sem sequer me conheceres.
– Por que não iria acreditar nela? – Nicole pestanejou. – Ela era minha irmã.
– Então, deves saber bem que não era perfeita.
– Ninguém é perfeito.
– Algumas pessoas são mais mentirosas que outras – apontou ele.
– Estás a insinuar que Tabitha mentiria sobre algo tão importante como isto…
– Não mentia sobre outras coisas importantes? –perguntou ele.
Ela ia protestar, mas hesitou.
– Nunca sobre nada assim tão importante.
– Não me conheces e julgaste-me baseando-te na opinião de uma mulher instável. És tão inconstante quanto ela?
– Não – respondeu ela, impulsivamente, arrependendo-se de imediato. Frase a frase, ele parecia estar a ganhar-lhe a batalha. Tinha que proteger Joel. – Não permitirei que gozes com a minha irmã, a mãe de Joel. Tabitha cometia os seus erros, como toda a gente. Adorava a vida e acabou por praticamente entregá-la quando deu à luz Joel. Quero que te vás embora daqui.
Reparou que ele controlava a sua impaciência.
– Tenho direitos, Nicole. Sou o pai de Joel. E se não sou o homem que Tabitha dizia que era? Como vais explicar-lhe isso quando ele começar a perguntar onde está o seu pai?
Ela sentiu a semente da dúvida e tentou afastá-la, sem sucesso.
– Tenho que protegê-lo.
– Dou-te uma noite para que lhe expliques quem sou. Depois de amanhã, virei conhecê-lo.
– É demasiado depressa – disse ela, em pânico.
– É razoável – respondeu ele com firmeza.