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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Anna DePalo. Todos os direitos reservados.

UMA NOITE COM UM PRÍNCIPE, N.º 1050 - Fevereiro 2012

Título original: One Night with Prince Charming

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-9010-665-5

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo Um

Acabava de presenciar uma catástrofe.

Não no sentido literal da palavra, pensava Pia durante o banquete de casamento. Mas um tal desastre em sentido figurado é igualmente terrível.

Tinha sido estranho presenciar aquilo a partir da nave de uma igreja, com metros de cetim cor de marfim à vista e o aroma dos lírios e das rosas a misturar-se no ar de junho.

Como organizadora de casamentos, já tivera de lidar com uma boa data de desastres. Noivos que sucumbiam ao pânico próprio antes da hora H; noivas que tinham engordado tanto que não cabiam nos seus vestidos. Até uma vez que um dos padrinhos engolira uma das alianças. Mas nunca esperara que a sua amiga, prática como ela era, se visse envolvida naquele tipo de problemas no dia do seu próprio casamento. Ao menos, isso pensara até duas horas antes.

Os convidados tinham ficado de boca aberta nos seus lugares quando o marquês de Easterbridge percorrera a nave e anunciara que tinha uma boa razão para que o casamento de Belinda Westworth e Tod Dillingham não se celebrasse. E aquela razão era que o apressado e secreto casamento de Belinda com Colin Granville, atual marquês de Easterbridge, nunca fora anulado.

A fina flor da sociedade nova-iorquina tinha ficado estupefacta em massa, mas felizmente ninguém tivera o desplante de protagonizar um desmaio, quer fosse real ou simulado. Coisa que Pia agradecera sobremaneira. Pouco podia fazer uma organizadora de casamentos quando o cão já tinha comido o bolo, quando um táxi já tinha sujado de lama o vestido da noiva ou quando, nesse caso, o marido legítimo da noiva, pela graça de Deus, decide aparecer e acabar com o casamento.

Pia não se tinha mexido da nave central. «Ai, Belinda, porque é que nunca me contaste que tinhas casado em Las Vegas e, para mais, com o pior inimigo da tua família?».

No fundo, sabia a resposta: Belinda estava arrependida. Pia pensou em como devia estar a sentir-se a sua amiga naquele momento. Ela e Tamara Kincaid, uma das damas de honor, eram as suas duas melhores amigas de Nova Iorque.

Em parte, pensou, a culpa era sua. Devia ter visto e intercetado Colin, como qualquer boa organizadora de casamentos teria feito. Por que não tinha ficado à porta da igreja?

As pessoas perguntavam-se por que razão a organizadora do evento não se tinha preocupado com manter o marquês de Easterbridge bem longe para impedir a catástrofe pública que acabava de arruinar o casamento da sua amiga e a sua própria reputação profissional.

Ao pensar no impacto que aquilo ia ter na sua recém-constituída empresa, a Pia Lumley Wedding Productions, sentiu vontade de chorar.

O casamento Wentworth-Dillingham devia ser o mais importante da sua carreira. Ela estabelecera-se por conta própria dois anos antes, após um longo percurso como assistente numa grande empresa de organização de eventos.

E aquilo era horrível, um pesadelo. Tanto para Belinda como para ela própria.

Tinha chegado a Nova Iorque há cinco anos, procedente de uma pequena cidade do Pensilvânia, assim que acabara a universidade. Nunca imaginaria que o seu sonho de triunfar em Nova Iorque acabaria daquela forma.

E para confirmar os seus piores temores, depois da noiva, o noivo e o marido dela terem desaparecido para, supostamente, resolverem o que não tinha solução possível, uma senhora da alta sociedade dirigira-se a ela.

– Pia, minha querida, não viu o marquês a aproximar-se? – sussurrou-lhe a senhora Knox.

Pia teria gostado de poder dizer que não fazia ideia de que o marquês era marido de Belinda e que, em qualquer caso, se assim fosse, não teria valido de nada intercetá-lo. Mas por lealdade à sua amiga, decidiu calar-se.

Os olhos da senhora Knox brilharam.

– Podia ter evitado este espetáculo.

Era verdade. Mas Pia pensou que ainda que tivesse tentado detê-lo, o marquês parecia um homem muito decidido e, além disso, era bastante mais alto e encorpado do que ela.

Assim, decidiu fazer a única coisa que estava nas suas mãos para tentar salvar o dia. Após consultar rapidamente os membros da família Wentworth, animou os convidados a irem para o local do copo-de-água, que se celebrava no Plaza.

E lá estava ela, a observar os convidados e os empregados de mesa que percorriam a sala com grandes tabuleiros cheios de canapés. O murmúrio constante das conversas ajudou-a a descontrair os ombros, embora a sua cabeça ainda continuasse agitada.

Concentrou-se na respiração, uma técnica de relaxamento que aprendera há algum tempo para enfrentar as crises das noivas e os casamentos stressantes.

Tinha a certeza de que Belinda e Colin haviam de encontrar uma solução. Podiam enviar um comunicado aos média que começasse com as palavras: «Devido ao um infeliz mal-entendido…»

Tudo se havia de resolver.

Voltou a passar os olhos pelos convidados e, então, viu um homem alto de cabelo loiro escuro do outro lado da sala.

Embora estivesse de costas para ela, Pia achou-o familiar e um mau pressentimento provocou-lhe um arrepio nas costas. Quando ele se virou para falar com um homem que se tinha aproximado dele, pôde finalmente ver-lhe a cara. Ficou sem ar. O mundo acabava de parar em seco.

Quando pensava que o dia não podia correr pior, aparecia ele. James Fielding, o homem menos apropriado para ela.

O estava ele a fazer ali?

Não o via há três anos, quando ele entrara e saíra da sua vida como um relâmpago. Mas era impossível não reconhecer aquele Adónis dourado e sedutor.

Era quase dez anos mais velho do que ela, que tinha vinte e sete, mas o maldito homem parecia um miúdo.

Tinha o cabelo loiro mais curto do que ela se lembrava, mas continuava a ser igualmente forte e impressionante com o seu metro e noventa de estatura.

A expressão do seu rosto era afetada, não divertida e despreocupada como fora no passado.

Uma mulher nunca esquece o seu primeiro amor, especialmente quando este desaparece sem dar explicações.

Pia começou a andar na direção dele sem se aperceber. Não fazia ideia do que ia dizer, mas os seus pés estavam a mexer-se enquanto a ira percorria as suas veias.

Ao aproximar-se, apercebeu-se de que James estava a falar com um reconhecido gestor de fundos de cobertura de Wall Street, Oliver Smithson.

«Excelência…», dizia este.

Pia esteve prestes a perder o equilíbrio. Excelência? Por que alguém havia de dirigir-se a James daquele modo? Naquela sala havia uma enorme quantidade de aristocratas britânicos, mas mesmo os marqueses eram tratados por milorde. Que ela soubesse, «excelência» era uma forma de tratamento reservada aos… duques.

Será que Oliver Smithson estava a brincar? Era improvável…

Hesitou por uns segundos, mas já era tarde demais. James já a tinha visto. Pia confirmou com satisfação que a tinha reconhecido.

Estava muito bonito com um smoking que enaltecia o seu físico esplêndido. Os seus traços eram uniformes, se bem que o seu nariz era tudo menos perfeito. A mandíbula era firme e quadrada. Umas sobrancelhas ligeiramente mais escuras do que o cabelo emolduravam uns olhos que a tinham fascinado durante a única noite que tinham passado juntos, já que pareciam ter a capacidade de mudar de cor.

Se não estivesse tão chateada, o impacto de tanta perfeição masculina podia tê-la feito perder os sentidos. Mas em vez disso, sentiu cócegas dos nervos.

Era compreensível que tivesse sido parva há uns anos atrás, pensou para si. James Fielding era puro sexo embutido num fato civilizado.

– Aqui vem a nossa linda e charmosa organizadora de casamentos – disse Oliver Smithson, alheio à tensão que havia no ambiente. – Foi uma volta imprevisível, não acha?

Pia sabia que o comentário se referia ao drama da igreja, mas a mesma coisa podia aplicar-se à situação que estavam a viver naquele momento, já que ela também nunca esperara encontrar-se com James ali.

Smithson dirigiu-se a ela.

– Conhece sua Excelência, o Duque de Hawkshire?

O Duque de…?

Pia esbugalhou os olhos. Então era mesmo um duque? Seria verdade que se chamava James?

Um momento, ela podia responder àquela pergunta, já que tinha visto a lista de convidados do casamento. O que não sabia era que James Carsdale e o nono Duque de Hawkshire eram a mesma pessoa.

Sentiu-se mal-disposta.

James olhou para Oliver Smithson.

– Obrigado por nos apresentar, mas a verdade é que a senhorita Lumley e eu já nos conhecemos –disse, antes de se dirigir a ela. – Pode chamar-me Hawk. É assim que me chama toda a gente.

Sim, conheciam-se, e intimamente, pensou Pia amargamente. Como se atrevia Hawk a adotar aquela atitude tão serena e arrogante?

– S-sim, já tive o prazer – respondeu ela levantando o queixo.

E corou imediatamente. A mensagem daquele jogo de palavras não era exatamente a que pretendia passar. Pelo contrário, tinha ficado como uma menina ingénua e nervosa. Ficou irritada por ter gaguejado. Andara a ver uma terapeuta durante anos para eliminar aquele defeito da fala com origem na sua infância.

Hawk, que tinha captado a mensagem, semicerrou os olhos e lançou-lhe um olhar intenso e sensual que provocou uma estranha excitação no peito de Pia.

– Pia.

Ao ouvir o seu nome pronunciado por aqueles lábios cinzelados sentiu-se invadida por uma onda de memórias. Uma noite de sexo apaixonado entre os brancos lençóis da sua cama…

– Que prazer tão… inesperado – disse Hawk fazendo uma careta, como se estivesse a seguir-lhe o jogo.

Antes que ela pudesse responder, um empregado deteve-se junto deles e ofereceu-lhes uma bandeja de canapés de baba ghanoush.

Pia olhou para os aperitivos e decidiu tirar vários.

– Obrigada – disse ao empregado e, virando-se para o duque, sorriu docemente. – Estão ótimos. Espero que faça bom proveito.

E sem dizer mais nada, escarrapachou o puré de beringelas na cara do duque. A seguir, virou-se e dirigiu-se à cozinha do hotel.

Enquanto avançava, registou os olhares incrédulos do gestor e de outros convidados antes de abrir as portas rolantes da cozinha. Se a sua reputação profissional já não estivesse arruinada, agora já não havia dúvidas de que estava. Mas tinha valido a pena.

Hawk aceitou o guardanapo que um diligente empregado lhe oferecia.

– Obrigada – disse com a sua pose tipicamente aristocrática enquanto limpava o baba ghanoush da cara.

– Bem, bem… – conseguiu dizer Oliver Smithson.

– Está ótimo, embora um pouco amargo.

Estava a referir-se tanto ao aperitivo como à pequena e explosiva mulher que lho tinha dado a provar. Perguntou-se onde se teria enfiado o seu amigo Sawyer Langsford, Conde de Melton, porque a sua ajuda seria de agradecer para acalmar os ânimos quentes. Sawyer era parente afastado do noivo, além de um bom amigo de Easterbridge.

Hawk apercebeu-se de que Smithson estava a olhar para ele com curiosidade, certamente a perguntar-se o que devia dizer num momento tão embaraçoso como aquele.

– Desculpe-me – disse e, sem esperar pela resposta, foi atrás de Pia.

Pensou que não devia mostrar tão pouco interesse num bom contrato de trabalho, mas tinha um assunto urgente para resolver.

Empurrou a porta giratória da cozinha e entrou. Pia virou-se para olhar para ele.

Estava tão atrativa como no dia em que se conheceram. O seu corpo, compacto e curvilíneo, estava enfiado num vestido justo de cetim. Tinha o cabelo loiro escuro apanhado num prático e glamouroso coque. E depois estava a sua pele, suave como a seda, os seus lábios sensuais e aqueles olhos cor de âmbar pálido. Uns olhos que estavam a olhar para ele a faiscar.

– V-vieste buscar-me? – perguntou Pia. – Então fica a saber que chegaste uns anos atrasado.

Hawk admirou o seu espírito combativo.

– Vim ver como estavas. Garanto-te que se soubesse que estavas aqui…

Os olhos de Pia abriram-se, enfurecidos.

– O que é que terias feito? Terias fugido a correr na direção oposta? Não terias aceitado o convite para o casamento?

– Este encontro foi tão inesperado para mim co mo para ti.

A verdade era que não a tinha visto até que ela se aproximara dele. Na igreja havia quatrocentos convidados, mais uma pessoa que, claramente, ninguém tinha convidado. E toda a gente, incluindo ele, tinha ficado de boca aberta perante a presença de Easterbrisdge. Quem teria imaginado que a noiva tinha um marido escondido, e não outro senão o marquês terratenente mais famoso de Londres? Mas aquilo não era nada comparado com a surpresa de encontrar Pia e ver o misto de surpresa e dor no seu rosto.

– Inesperado e infeliz, disso tenho a certeza, «excelência» – replicou Pia. – Não me lembro de teres mencionado o teu título da última vez que nos vimos.

– Naquela altura ainda não tinha herdado o ducado.

– Mas também não eras só James Fielding, pois não? – contra-atacou ela.

Ele não soube o que dizer, por isso ficou calado.

– Eu bem sabia! – saltou ela.

– O meu nome completo é James Fielding Carsdale e agora sou o nono Duque de Hawkshire. Antes era Lord James Fielding Carsdale ou, simplesmente, «senhoria», embora preferisse prescindir do título e das formalidades a que este obriga.

O certo era que nos seus dias de playboy se tinha habituado a andar incógnito sob o simples nome de James Fielding, hábito que o poupava à companhia das caçafortunas. Até que finalmente a sua farsa e o hábito de desaparecer sem dar explicações a ninguém tinha magoado muito alguém: Pia.

Não se tinha transformado no herdeiro do título do seu pai até que William, o seu irmão mais velho, morrera num trágico acidente. Limitara-se a ser Lord James Carsdale, o filho mais novo e despreocupado que ignorara as responsabilidades inerentes à condição de duque. Demorara três anos, durante os quais assumira essas responsabilidades, em aperceber-se de quão desconsiderado tinha sido e da dor que tinha causado. Especialmente a Pia. Ficava muito contente por voltar a vê-la, por ter a possibilidade de resolver as coisas.

Pia franziu o sobrolho.

– Estás a sugerir que o teu comportamento é desculpável só porque me disseste o teu verdadeiro nome?

Hawk suspirou.

– Não, estou a tentar confessar-te a verdade, se é que isso serve para alguma coisa.

– Não serve de nada – informou ela. – A verdade é que já te tinha completamente esquecido, não fosse esta hipótese de te perguntar porque é que desapareceste sem deixar rasto.

Estavam a começar a atrair os olhares curiosos dos cozinheiros e dos empregados.

– Pia, podemos falar sobre isto noutro sítio? –perguntou Hawk olhando em volta. – Estamos a contribuir para o melodrama do dia.

– Acredita quando te digo que estive em suficientes casamentos para saber que isto não é um melodrama. Melodrama é quando a noiva desmaia no altar ou quando o noivo vai de lua de mel sozinho. Não quando a organizadora do casamento discute com um homem com quem passou uma única noite e que, além disso, é um grosseiro.

Hawk ficou calado. Não restavam dúvidas de que Pia estava muito chateada. Certamente, o transtorno do casamento afetara-a mais do que estava disposta a admitir. E como se não bastasse, ele tinha reaparecido do nada.

Pia cruzou os braços e bateu no chão com o salto.

– Foges sempre a correr na manhã seguinte?

Não, só da única mulher que, afinal, era virgem, ou seja: tu.

Sentira-se tão atraído pelo seu rosto em forma de coração e pela sua figura curvilínea. Na manhã seguinte apercebera-se da confusão em que se tinha metido.

Hawk não se orgulhava do seu comportamento, mas ele já não era o mesmo.

Embora ainda morresse de vontade de se aproximar dela, de tocá-la…

Afastou aquele pensamento da sua mente. Lembrou-se do rumo que a sua vida tomara desde que se transformara em duque, e aquele rumo não incluía voltar a destruir a vida de Pia. Daquela vez desejava compensá-la pelo que lhe fizera, pela oferenda que ela lhe fizera sem ele saber…

Inclinou-se.

– Queres falar de segredos? – perguntou em voz baixa. – Quando é que tinhas pensado dizer-me que eras virgem?

O peito de Pia subia e descia agitadamente.

– Ou seja, a culpa de te teres ido embora agora é minha…

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Não, mas admitamos que nenhum dos dois foi completamente sincero naquela noite.

Após acompanhá-la ao seu apartamento, um pequeno estúdio no bairro nordeste de Manhattan, tinham-se comportado responsavelmente até o ambiente aquecer. Ele quisera deixar claro que estava limpo e ela permitira-lhe arrebatar-lhe a sua virgindade… sem querer.

Raios. Nem sequer nos seus dias de jovem irresponsável desejara ser o primeiro amante de mulher alguma. Não queria lembrar-se de nada nem que se lembrassem dele. Não combinava com o seu estilo de vida despreocupado.

Ela assegurava que o tinha esquecido. Seria verdade ou teria dito aquilo por orgulho?

Porque ele não conseguira tirá-la da cabeça, e bem que tentara.

Como se estivesse a responder à sua pergunta, Pia olhou para ele com fúria calada e virou-se.

– Desta vez, quem se vai embora sou eu.

Internou-se nas profundezas da cozinha para acabar de vez com aquele dia verdadeiramente terrível, deixando Hawk a falar sozinho sobre o fortuito encontro.

Pia ficara perplexa com a sua inesperada aparição e a descoberta da sua verdadeira identidade. Mas também estava preocupada: o «quase casamento» de Belinda não ia ter boas consequências para a sua empresa. E a forma como Pia lhe tinha feito provar o baba ghanoush à frente de alguns convidados estupefactos, não ia contribuir para melhorar as coisas.

Era óbvio que Pia precisava de ajuda. E apesar do incidente das beringelas e da acalorada discussão que tinham tido depois, ele sentia-se na obrigação de a ajudar.

Com aquela ideia em mente, Hawk começou a idealizar um plano.

Capítulo Dois

Quando Pia regressou a casa após a festa no Plaza, não tentou voltar a exorcizar Hawk. Pelo contrário, após afastar Mr. Darcy, o seu gato, da cadeira que tinha à frente do computador, abriu o Google e procurou o nome e o título de Hawk.

James Fielding Carsdale, nono Duque de Hawkshire.

A Internet não a desiludiu, já que lhe deu inúmeros resultados em poucos segundos.

Hawk fundara a Sunhill Investments, um fundo de cobertura, há três anos, pouco depois de lhe ter arrebatado a sua virgindade e ter desaparecido. A empresa estava a correr bem e Hawk e os seus sócios eram multimilionários. Que raiva. Custava-lhe aceitar que depois de a ter deixado apeada, a sorte lhe tivesse sorrido em vez de o fazer sentir a ira da justiça cósmica.

A Sunhill Investments tinha a sua sede em Londres, mas abrira um escritório em Nova Iorque recentemente. A presença de Hawk naquele lado do Atlântico podia, deste modo, dever-se a mais do que à união Wentworth-Dillingham.

Pia continuou a investigar enquanto afagava Mr.

Darcy. Adotara-o três anos antes e vivia com ela no apartamento de dois quartos, na parte mais modesta do bairro nordeste de Manhattan, para o qual se tinha acabado de mudar.

O facto de o apartamento ser de renda fixa e descontável na declaração das finanças permitia-lhe pagar um espaço situado nos limites do mundo no qual ela queria entrar: o das escolas privadas para futuras debutantes, das famílias endinheiradas e dos edifícios com segurança fardada.

Decorara o apartamento de forma elegante e com imaginação, já que às vezes recebia visitas de potenciais clientes. Mas a maior parte das vezes era ela quem ia ver as clientes às suas casas elegantes e luxuosas.

Clicou no rato. Minutos depois, apareceu um velho artigo do Diário Social de Nova Iorque que falava de Hawk. Aparecia uma fotografia dele entre duas modelos loiras, com um copo na mão e um brilho matreiro no olhar. De acordo com o artigo, Hawk frequentava os círculos sociais de Londres e, em menor medida, os de Nova Iorque.

Pia apertou os lábios. Ao menos o artigo confirmava que ela era o seu tipo quanto ao físico, já que parecia sentir-se inclinado para as loiras. Embora com o seu metro e sessenta e cinco de altura, fosse bastante mais baixa, além de mais cheiínha, do que as modelos esquálidas e pernilongas que apareciam na fotografia.