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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Annie West

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento por ambição, n.º 1685 - Julho 2016

Título original: The Sinner’s Marriage Redemption

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8603-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Epílogo

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Prólogo

 

Ouviu-se o barulho do carro a acelerar na noite tranquila, quebrando o silêncio que Flynn tanto apreciara depois do burburinho de Londres.

Enquanto esticava as pernas numa caminhada à meia-noite pela propriedade de Michael Cavendish, esperara ouvir apenas o som de uma coruja ou de algum animal em busca de alimento. Estava demasiado distante da mansão para ouvir os sons da festa anual de inverno dos Cavendish.

O carro aproximou-se em direção à curva fechada do longo caminho da entrada. Flynn acelerou o passo, ficando em alerta. O motorista não abrandava para fazer a curva.

Quando o barulho terrível dos travões e da colisão abalou a noite, Flynn já corria.

A nuvem que encobria a lua afastou-se enquanto a adrenalina o possuía. E ali estava: um descapotável mergulhado na folhagem escura. O luar incidiu num vidro partido e Flynn pisou os vidros.

Entretanto os seus olhos estavam fixos no lugar do motorista e na figura que lutava para abrir a porta. Os cabelos prateados pelo luar caíam sobre os ombros nus e os braços estavam pontilhados do que ele suspeitava que era sangue. O seu coração acelerou, mesmo que sentisse um certo alívio. Pelo menos, estava consciente.

– Não se mexa – indicou.

– Quem está aí? – perguntou a mulher, de imediato, afastando-se da porta.

Ela ergueu a cabeça e o choque dominou Flynn. Ava? Não podia ser a pequena Ava Cavendish. Não com aquele vestido de noite justo e branco. Não com aquele par de seios luxuriantes.

– Quem é?

Daquela vez, Flynn registou o tom de medo na voz dela. Ela já tentava sair do outro lado do carro, mas o vestido comprido impedia-a.

– Ava? Estás bem. Sou eu, Flynn Marshall – alcançou a porta do motorista, mas não conseguiu abri-la. Estava emperrada. A frustração dominou-o.

– Flynn? O filho da senhora Marshall?

A voz dela parecia arrastada e Flynn preocupou-se. Não era mau sinal?

– Sim, sou Flynn – confirmou, num tom sereno, enquanto tentava lembrar-se dos ensinamentos sobre primeiros socorros. – Conheces-me.

Um suspiro profundo acompanhou essa revelação e ela murmurou alguma coisa. Flynn ouviu a palavra «segura».

Franziu a testa.

– É claro que estás segura comigo.

Tinham crescido juntos na propriedade. Ava crescera na mansão e ele, num chalé com os pais que trabalhavam em Frayne Hall.

– Anda. Por aqui – tinha de a tirar do carro.

Ela mexeu os braços e as pernas. Felizmente, não se magoara muito, pois já se ajoelhara no banco.

Remexeu-se e uma garrafa caiu no chão.

Desde quando é que Ava bebia champanhe? Devia ter apenas... Flynn fez um cálculo mental rápido... dezassete anos. Além disso, a Ava que conhecera era demasiado responsável para beber e conduzir, mesmo num rompante de rebeldia adolescente.

– Tens a certeza de que és mesmo Flynn? – ela franziu a testa, sentando-se sobre os calcanhares. – Estás diferente.

Ava nunca o vira de fato ou a vestir algo tão caro como um casaco de caxemira. Quando visitava a mãe, Flynn preferia roupas mais informais. Contudo, naquela noite, sabendo que a mãe estaria na mansão a trabalhar, chegara tarde e resolvera passear para arejar a cabeça. E para se despedir. Aquela seria a sua última visita. Finalmente, convencera a mãe a deixar Frayne Hall.

– Sou Flynn com toda a certeza – inclinou-se e pegou nela ao colo, tirando-a pela porta com cuidado. Porém, quando ia deixá-la de pé no chão, Ava passou os braços pelo seu pescoço.

– Tens de me prometer.

Os olhos grandes e brilhantes observaram-no e Flynn sentiu um nó no estômago.

– Promete-me que não me levas de volta.

– Precisas de cuidados, estás ferida – as marcas escuras nos braços dela eram manchas. Sangue. Raios! Precisava de a tirar dali e de verificar a gravidade dos ferimentos.

– Podes ajudar-me. Só tu.

Ela observou-o com os lábios a reluzir ao luar. Para seu horror, Flynn excitou-se.

– Por favor?

Ava pestanejou várias vezes e ele viu as lágrimas.

Flynn apertou-a entre os braços, ignorando que a pequena Ava crescera e se transformara numa mulher sedutora e sensual.

– É claro que te ajudo.

– E prometes não me levar de volta? Não dirás aos outros onde estou?

A intensidade do olhar angustiado arrepiou-o.

Ava parecia mais assustada do que bêbeda.

Flynn franziu a testa, pensando que estava enganado, que ela apenas não queria enfrentar os factos. Batera com um carro de luxo e andara a beber. Naturalmente, o pai ficaria furioso. Contudo, Flynn tinha certeza de que, apesar de ser um patrão impiedoso, Michael Cavendish era um santo com a família. Ava não tinha nada a temer.

– Promete-me! – o desespero fê-la quase gritar e tremer entre os seus braços.

Flynn olhou na direção da mansão que não passava de uma mancha iluminada ao longe. Ninguém viera atrás dela. Talvez nem tivessem notado a sua ausência. Suspirou.

– Prometo. Pelo menos, por enquanto – levá-la-ia para o chalé da mãe, verificaria os ferimentos e, então, decidiria se era bom transportá-la para um hospital e avisar o pai... o último homem na face da terra com quem desejava conversar.

– Obrigada, Flynn.

Ava sorriu, encostando a cabeça no seu peito. Os cabelos fizeram cócegas no nariz de Flynn e o cheiro de rosas e feminilidade envolveu-o.

– Sempre gostei de ti, Flynn. Sabia que podia contar com a tua ajuda.

 

 

Ava fez uma careta ao entrar na cozinha acolhedora, iluminada pelo sol da manhã. Não semicerrara os olhos por causa da luminosidade forte, mas por causa do que vira no espelho da casa de banho. As olheiras e os lábios pálidos, agora que retirara o batom escarlate. A pele lívida marcada por pequenos cortes.

Pele demasiado lívida.

Tentara levantar o vestido à frente para se cobrir melhor, mas não adiantara. Aquela roupa fora idealizada para exibir, não para esconder.

O seu lado covarde preferiria escapar sem que Flynn percebesse. Fora maravilhoso. Mas o que pensaria dela? Danificara o carro, recusara-se a chamar o pai e fincara pé no chalé da mãe dele. Ava susteve a respiração. Teria de enfrentar a senhora Marshall naquela manhã?

– Estás com dores de cabeça? Tenho analgésicos.

Ava virou-se com brusquidão. Ali estava Flynn, alto, moreno e sombriamente atraente, a observá-la com um ar preocupado. Estendia um copo e um remédio. O seu coração tolo acelerou apenas ao vê-lo.

Depois, sentiu-se constrangida. Ele antecipara que estaria de ressaca. Aquela situação poderia ficar pior do que já estava?

Refletiu se Flynn pensaria que fazia aquelas coisas o tempo todo. Pensaria que ela andara em festas como uma louca? Tremeu.

Depois, viu-se empurrada com delicadeza para um banco com algo quente sobre os ombros. Cheirava a florestas depois da chuva. Como Flynn. Ava inalou profundamente. O cheiro masculino penetrou no seu cérebro.

– Obrigada.

Ava encontrou os seus olhos escuros e sentiu novamente o constrangimento. Desviou o rosto. Ele envergonhava-a. Desde criança, sentira-se atraída por Flynn, apesar dos sete anos de diferença de idade entre os dois. Porém, o seu temperamento aventureiro e a sua bondade impressionavam-na.

Entretanto, mais recentemente, sentira-se tímida com ele, pois tornara-se um homem seguro e bonito. Até o seu andar ágil era atraente. Saberia que fazia o coração dela acelerar? Que ela se derretia quando a observava com os seus olhos enigmáticos? Que, às vezes, sonhava...

– Obrigada pela água – tentou fazer uso dos longos anos de disciplina e projetou uma segurança que não sentia ao aceitar o copo e o analgésico. Fingiu que era normal estar ali, com um vestido de festa rasgado que a deixava seminua. – A tua mãe está em casa?

– Não. Dorme na mansão quando há festas grandes e tem de acordar cedo para fazer o pequeno-almoço.

Ava aquiesceu com um gesto de cabeça, tentado não pensar no que estaria a acontecer em Frayne Hall naquele momento.

– Estás pronta para conversar sobre o que aconteceu ontem à noite, Ava?

A voz de Flynn era baixa e suave, percorrendo a pele de Ava como uma carícia. Adorava ouvi-lo a dizer o seu nome. Porém, não podia permitir que a distraísse.

– Obrigada por me ajudares – pousou o copo na mesa da cozinha. – Está na hora de voltar.

– Vais para a mansão? – ele franziu a testa. – Na noite passada, nem cavalos selvagens te fariam voltar para lá.

– Na noite passada, estava fora de mim.

– Não queres conversar sobre isso? Estavas muito nervosa.

Ava tentou lembrar-se. O que dissera? Seria terrível se Flynn descobrisse o motivo para ter fugido da mansão de modo tão insensato na noite anterior.

– Ava? Não confias em mim? – ele baixou-se ao seu lado. Era tão atraente, tão forte que, por um momento, Ava desejou confiar-lhe tudo.

Pensou em tocar nos cabelos escuros de Flynn, mas deteve-se. Ele não podia resolver os seus problemas, apenas ela podia fazer isso.

– É claro que confio – era o único homem em quem ela confiava. – O modo como me ajudaste ontem... não sei como expressar o que significou para mim. Mas preciso de me ir embora agora.

Estava na hora de enfrentar os factos. Sozinha.

Capítulo 1

 

Sete anos mais tarde

 

Flynn recostou-se no banco, deixando que as sombras o envolvessem enquanto observava os turistas na proa do barco. Conversavam animadamente, debruçando-se sobre o rio Sena para conseguir a fotografia perfeita de Paris ao entardecer.

Só uma das turistas estava sozinha como ele. Ergueu os óculos escuros, afastando o cabelo da cor do trigo e revelando uma pele cor de pêssego e um rosto com formato de coração.

A jovem não era uma beleza clássica com o nariz reto e a boca demasiado grande, mas isso não impediu Flynn de a observar com atenção. Porém, ficou tenso.

O entusiasmo sempre fora um ponto positivo que iluminava as feições de Ava e, ao passarem pela Catedral de Notre-Dame, o seu rosto irradiava satisfação.

Da última vez que ele a vira... A noite que ela passara no chalé da mãe depois do acidente de carro... Ainda ostentara um ar juvenil, apesar do corpo de mulher, e Flynn sentira-se culpado por a desejar. Agora, aos vinte e quatro anos, o rosto dela tinha personalidade e elegância que só aumentavam com o sorriso displicente...

Mas, de qualquer modo, a intensidade da sua reação surpreendeu-o. Era algo que fazia o seu sangue aquecer.

Franziu a testa, tentando definir essa sensação. Atração... sim. Era uma mulher interessante. Entretanto, não fazia o seu tipo, com umas calças de ganga e uma camisa com flores coloridas. Flynn preferia mulheres que projetavam estilo e sofisticação. Porém, Ava também podia ser assim. Nascera e crescera para ser assim.

Era claro que era essa a explicação. Sentia-se atraído porque era a mulher certa. Soube que seria perfeita.

Era sempre bom perceber que um plano funcionaria.

Observou-a a olhar para um casal que se abraçava na margem do rio e a sorrir.

Quando chegou perto dela, parou e inclinou a cabeça para a observar. Ela virou-se e esbugalhou os olhos. O calor invadiu-o, fazendo com que respirasse fundo.

– Flynn?

Flynn sorriu. Era um homem de sorte.

 

 

Uma semana mais tarde, Flynn observava os mesmos olhos azuis e alegrou-se quando Ava pegou na sua mão. Os dedos delicados entrelaçaram-se com os dele e apertou-os com força.

Ela parecia desapontada com a sua partida, mas determinada a não o demonstrar. Em silêncio, amaldiçoou a emergência de trabalho que o chamava de volta. Estava tão perto de conseguir o que queria. Com um pouco mais de tempo...

– É claro que tens de ir. Precisam de ti em Londres.

– Sei disso – os seus negócios tinham crescido muito e era um presidente atento. Não gostava de delegar responsabilidades.

– Além disso... – Ava ergueu o queixo. – Deixo Paris amanhã para ir para Praga.

Saberia o quanto revelava dos seus sentimentos, mesmo com o sorriso corajoso? No modo como se inclinava para a frente, pedindo para ser abraçada?

A satisfação de Flynn aumentou. Quem sabia se a sua ausência forçada acabaria por ser positiva. Quem sabia se lhe daria mais vantagem.

Capítulo 2

 

Ava folheou as páginas do guia, pensando que era bom poder explorar Praga sozinha. Veria mais coisas... sem se distrair com os olhos escuros e o sorriso atraente de Flynn.

A semana que passara em Paris fora repleta de animação e prazer. Como um sonho romântico.

Mas soubera que não poderia durar. Os sonhos nunca duravam.

Quando Flynn fora chamado para Londres, tinham-se despedido sem fazer planos para se reencontrar. Acontecera tão depressa que Ava não percebera isso até o ver a afastar-se.

Não falara sobre o futuro. Não passara de uma mera companhia de férias?

Ava cerrou os dentes. Era ridículo ficar tão triste. Entretanto, não conseguiu conter um suspiro. Quando Flynn continuara em Paris depois das reuniões de negócios, prolongando a estadia para uma semana apenas para ficar com ela, fora a experiência mais maravilhosa da vida de Ava.

«Encara a realidade, Ava. Foi a única experiência maravilhosa que já tiveste. Os contos de fadas não são para ti.

Obrigou-se a percorrer o guia, lendo sobre o episódio da defenestração de Praga quando habitantes irados tinham atirado três homens da janela do castelo onde ela se encontrava naquele momento.

Defenestração. Que palavra pomposa para dizer que alguém atirara outra pessoa da janela. Ava lembrou-se do pai. Mas Michael Cavendish nunca seria apanhado a cometer um assassinato. A sua especialidade era manter-se nos bastidores, tramando.

Ava fechou o livro com raiva.

A vida teria sido melhor para muita gente se alguém tivesse defenestrado Michael Cavendish há anos.

– Ava.

Ela ficou paralisada. Certamente, estava a imaginar aquela voz baixa.

Acordara excitada e nervosa naquela manhã a sonhar com aquela voz. Levantara-se meio tonta, quase a pensar que fizera o que desejava ter feito em Paris.

– Ava?

Ergueu a cabeça e lá estava ele... como a resposta para um desejo que não ousara formular.

Usava roupa desportiva e observava-a com um sorriso provocante. O rosto lindo e sombrio e o charme indescritível tornavam Flynn Marshall o homem mais atraente que ela conhecera.

– Flynn? Não acredito! – o sorriso dela ampliou-se. Não conseguia sufocar a alegria no seu coração e, por um instante, sentiu falta de ar.

Parecia que todos os anos passados a aprender a esconder os seus sentimentos e revelar apenas um rosto alegre para o mundo nunca tinham existido.

Com Flynn, não tinha de usar essa fachada. Sabia que estava completamente a salvo com ele.

– Por que estavas a franzir a testa? Parecias triste.

Passou os dedos pela sua testa e algo no peito de Ava explodiu. Pensou que não podia ser o seu coração, mas também pouco se importava se fosse.

Flynn estava ao seu lado!

Não podia ser coincidência. Ele não planeara visitar Praga. Os seus negócios eram em Londres.

– Ava?

– Eu parecia triste? – repetiu. Estivera a pensar no pai. Por isso, sem dúvida, franzira a testa. – Estava apenas a ler o guia. Sabias que foi aqui que aconteceu a defenestração de Praga? A segunda.

Estava a gaguejar? Provavelmente. Era difícil concentrar-se com Flynn ali e a devorá-lo com os olhos. Tremeu e sentiu-se excitada.

Sem dúvida, não a observara com tanto desejo em Paris, pois, se fosse assim, teria afastado os escrúpulos de uma vida inteira e tê-lo-ia convidado para...

– Talvez seja um passatempo nacional... Atirar pessoas das janelas.

– Mas os checos são pessoas tão amigáveis! – protestou.

– Quem sabe? Talvez tenham o seu lado secreto – retrucou.

«Como tu, Flynn», pensou ela.

Tinham passado quase toda a semana anterior juntos em Paris e Ava sentira uma ligação com ele como nunca sentira com qualquer outro homem. Talvez porque o conhecia desde criança... Quando Flynn fora um rapaz mais velho e misterioso, ostentando uma liberdade que ela invejara. E fora um amigo leal quando ela precisara. Nunca esqueceria a sua generosidade na noite da festa do pai.

Contudo, sabia que Flynn escondia alguma coisa. Mas quem não escondia? As suas próprias experiências tinham-na tornado extremamente reservada.

– Estás outra vez séria.

– Estou a imaginar o que fazes aqui. Se bem me lembro, tinhas uma crise para enfrentar em Londres.

Flynn encolheu os ombros e observou-a. Uma onda de calor voltou a dominá-la.

– Ah... A emergência.

Porém, em vez de explicar que emergência fora essa, deu um passo para o lado, convidando Ava a fazer o mesmo. De imediato, um grupo tomou o seu lugar à janela, observando os telhados vermelhos da velha Praga.

Ava ficou com Flynn num canto tranquilo, perto de outra janela grande, mas não olhou para o cenário lá fora, pois a sua atenção estava concentrada em Flynn.

Flynn Marshall conseguia hipnotizar qualquer mulher. A pele morena delatava a sua ascendência romana e o nariz ligeiramente comprido, que fora partido há anos, reforçava a aura atlética. Nem mesmo o cabelo extremamente curto que, Ava sabia, ondularia e se enroscaria no colarinho se ele o deixasse crescer, conseguia domar o seu ar selvagem.

– Estavas a explicar o que vieste fazer aqui – indicou ela, num tom um pouco agressivo.

Ele sorriu e o coração de Ava bateu com mais força. Agarrou no livro e deu um passo atrás... batendo com as costas na janela.

Flynn observou-a, trocista, porém, pela primeira vez, Ava não se sentiu disposta a participar na brincadeira. Tremia de antecipação e sentia o peito apertado.

Desejava muito mais do que apenas o sorriso de Flynn. Contudo, como podia sentir-se assim e desejá-lo tanto após uma única semana de convívio?

O aperto no peito aumentou e Ava ressentiu-se com Flynn por causar tal efeito. Detestava sentir-se vulnerável. Era uma sensação que lutara muito para tirar da sua vida.

E que se prometera nunca mais sentir.

Ava ergueu o queixo.

O sorriso no olhar de Flynn desapareceu, deixando-o sério.

Ergueu a mão para tocar nela outra vez, mas ela encolheu-se. Abrir-se como fizera com Flynn em Paris fora uma experiência totalmente diferente. Só agora percebia o perigo que correra por se deixar levar.

– Vim por tua causa – a voz dele foi como uma brisa suave de verão na pele de Ava.

– Por mim?

– Sim.

Flynn inclinou-se para a frente, mas não lhe tocou. Não precisava. O seu olhar penetrante minava as resistências de Ava e acabava com as suas dúvidas.

– Não consegui ficar longe, Ava.

– Mas tinhas trabalho para fazer...

– Lidei com a crise num dia e reprogramei tudo o que não era tão urgente.

Quando Flynn a observava desse modo, via-se tentada a pensar que ele nutria os mesmos sentimentos por ela. Respirou fundo.

– Uma das vantagens de ser o patrão? – Ava manteve um tom displicente. – A tua secretária deve adorar.

– Sou um bom patrão.

Ava percebeu o orgulho na sua voz.

– E, em geral, é fácil trabalhar comigo. Porém, nunca fiz isso antes. Isto é, reprogramar.

O clima ficou tenso. Ava teve a certeza que ele conseguia ouvir o seu coração acelerado.

Engoliu em seco e respirou fundo. O companheirismo sereno ameaçava tornar-se algo que ia para além da sua experiência. Até ao momento. Ava sempre se mantivera do lado seguro. Via-se dividida entre a alegria e o medo de ultrapassar os limites que se impusera.

– Nunca copiaste numa aula antes? – Ava tentou manter o assunto inocente. Era mais fácil fingir que não decifrara o seu olhar penetrante. – É difícil de acreditar.

Flynn abanou a cabeça e sorriu.

Ninguém, para além do irmão Rupert, sabia ler os pensamentos de Ava com tanta facilidade.

– Já infringi algumas regras na vida – murmurou ele.

A rebeldia de Flynn diante das normas impostas em Frayne Hall era lendária e uma das queixas favoritas do pai de Ava. As acusações contra o filho dos empregados iam desde caçar ilegalmente a ser desrespeitoso e «Demasiado esperto para o seu próprio bem».

Quanto a Ava, sete anos mais jovem, aplaudia a audácia de Flynn e sentira a falta dele quando se fora embora. Ansiara seguir os seus passos e enfrentar a opressão e o autoritarismo. Finalmente, conseguira fazer isso, porém, anos de conformismo tinham deixado as suas marcas.

– Mas não agora que te tornaste um empresário? – fora uma surpresa descobrir que Flynn, o rebelde, era um empresário respeitável a trabalhar na cidade grande.

– Corro riscos calculados, porém, cancelar reuniões importantes não faz o meu estilo – o sorriso desaparecera, substituído por um ar sério. – Até hoje. Até apareceres.

– Porém, estarei de volta a Londres na próxima semana – replicou ela, num tom rouco e com falta de ar.

– Não podia esperar tanto tempo.

O coração de Ava acelerou ao ler a mensagem no olhar dele. Flynn pegou na sua mão e levou-a aos lábios sem parar de olhar para ela.

Era a primeira vez que a beijava.

Em Paris, imaginara que isso aconteceria e esperara que acontecesse. Repreendera-se por não ter tomado a iniciativa e beijado Flynn.