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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Carol Marinelli

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A mulher do siciliano, n.º 857 - Janeiro 2016

Título original: The Sicilian’s Bought Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7904-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

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Capítulo 1

 

– Eles não devem ter sofrido.

– É claro que não devem ter sofrido – disse Catherine com amargura e franqueza, despertando um sentimento de estranheza na enfermeira. No entanto, ela estava muito cansada e muito furiosa para suavizar o tom. – A minha irmã e o marido sempre se recusaram a sofrer. Que necessidade tinham de se preocupar quando podiam pensar noutras coisas? Por que teriam que se preocupar com os seus problemas quando havia sempre alguém da família que os resolvia? – questionou Catherine com raiva. Estava desesperada. Não sabia bem o que fazer ou o que pensar. Era tudo tão complicado.

Sabia que a pobre enfermeira não fazia ideia do que se passava, estava simplesmente a tentar ajudar com as suas palavras.

O acidente acontecera rapidamente e Janey e Marco tinham morrido imediatamente. Porém, aquelas palavras não lhe serviam de nada. Talvez daqui a um tempo, Catherine disse para si, respirando profundamente e tentando acalmar-se.

Talvez daqui a um tempo, quando pudesse pensar com clareza, aquelas palavras a consolariam. No entanto, naquele momento, sentada só e cansada na sala fria do hospital, não conseguia encontrar consolo em nada.

– Lamento muito – disse-lhe a enfermeira, enquanto lhe dava um envelope. Catherine agarrou-o com força e conseguiu sentir o metal no seu interior.

– Eu também – respondeu ela, com menos amargura. – Todos vocês foram maravilhosos – sussurrou, num tom de agradecimento. Sabia que estava a ser injusta com a enfermeira mas não conseguia conter a sua fúria.

– Há mais alguma coisa que possa fazer por si?

Catherine quase não conseguia responder e a enfermeira deixou-a sozinha. Abriu o envelope e tirou o conteúdo lá de dentro. Olhou com curiosidade para as três jóias que pôs sobre a palma da sua mão e evocou as lembranças que havia em cada uma delas. Enquanto observava o anel de diamantes que Janey usava e que pertencera à sua mãe, voltou a sentir o mesmo que sentira há oito anos, depois do acidente que matara os seus pais.

Na verdade, há oito anos e dois meses, para ser mais exacto. Sim, tinha passado muito tempo, muito tempo.

Tinham passado oito anos e dois meses desde aquele dia em que tinham devolvido os pertences dos seus pais juntamente com um peso e uma responsabilidade que uma rapariga de dezanove anos não merecia. A parte fácil fora lidar com os advogados e contabilistas que tentavam desenredar o caos que os seus pais tinham deixado.

A parte mais difícil fora lidar com uma adolescente de dezasseis anos, problemática, a sua irmã Janey.

Catherine olhou fixamente para o anel e, de repente, observou-se ao espelho da sua mãe, desejando que o seu cabelo denso, escuro e encaracolado, fosse tão liso e suave como o da sua mãe e o de Janey, e que os seus olhos castanhos fossem tão azuis como os delas. Enfim, não podia desejar tudo.

Contudo, herdara o físico do seu pai e também alguma da sua personalidade. Na verdade, grande parte dela. Ela era frágil, no entanto, não tão frágil como fora o seu pai. Ele sempre estivera aos pés da sua mãe, que utilizava o seu sorriso para que John Masters concordasse com tudo e lhe fizesse as vontades todas.

E Janey fora igual. Sempre tivera a certeza de que com o seu físico poderia conseguir tudo o que quisesse. Tinha uma atitude que mantinha os homens permanentemente intrigados e tinha a confiança de que havia sempre alguém que resolveria o caos que ela deixara para trás. Até àquele momento, isso funcionara.

Depois, Catherine contemplou a safira que tanto lembrava os intensos olhos azuis da sua irmã. Ter nas suas mãos o anel de noivado que Janey usara com tanto orgulho causava-lhe uma dor aguda, uma dor física. Tivera a certeza que aquele anel proporcionaria o fim do desastre financeiro em que se metera, a solução para os problemas que Catherine fora incapaz de a ajudar a resolver.

– Marco é incrível – dissera-lhe Janey, entusiasmada. – Catherine, devias ver onde vive. Fica mesmo na praia. E quando digo praia, refiro-me literalmente na praia. Quando sai do pátio, já está na areia. Só a garagem é tão grande como o teu apartamento. – continuara Janey, completamente inebriada com os bens de Marco.

Catherine não se incomodava minimamente com o tamanho da garagem de Marco, porém, decidira ouvir a conversa emocionada de Janey com a esperança de que se acalmasse e de que lhe apagasse a euforia e, assim, pudesse pensar com mais frieza.

– A que se dedica? – perguntara-lhe Catherine, com entusiasmo, tentando esconder a sua indiferença.

– Diverte-se – respondera Janey, com um tom desafiante e encolhendo os ombros. – A mãe dele morreu quando ele era ainda um adolescente. Tal como a nossa. A única diferença é que Bella Mancini deixou alguma coisa aos seus filhos. – comentara ela, fazendo alusão ao facto de os seus pais as terem deixado praticamente na miséria.

– Queres dizer que lhes deixou dinheiro! – exclamara Catherine, num tom de advertência. A sua mãe, Lily, talvez não tivesse sido uma mãe muito convencional, porém o seu amor pela vida e a paixão que sentia pelas suas filhas tinham deixado um vazio que nunca poderia preencher. E nenhuma herança teria conseguido diminuir a dor que tinham sentido ao perdê-la. Dinheiro nenhum traria a sua mãe de volta.

Pelo menos para Catherine.

– Deixa-te de sermões – dissera Janey, com desprezo. – Não quero voltar a ouvir-te quando dizes que o dinheiro não é importante, nem quero voltar a ouvir que tiveste dois empregos enquanto fazias o estágio como professora, mas que isso não te incomodou desde que estivéssemos juntas. Se os teus pais não se tivessem esquecido de pagar o seguro de vida, não terias precisado de trabalhar tanto. Também não terias tido necessidade de vender a casa da família para te mudares, depois, para este apartamento tão pequeno.

– Não me incomodei com isso – insistira Catherine.

– Mas eu sim. Sempre odiei ser pobre e não quero passar o resto da minha vida a pensar nas contas que tenho que pagar. Agora Marco pode tomar conta de mim, do mesmo modo que a mãe dele tomou conta dele. Bella Mancini tinha uma empresa construtora e quando ela morreu o negócio passou para os filhos.

Catherine encheu-se de esperança ao reconhecer a empresa de que Janey falava. O império Mancini! Ela normalmente não lia as páginas de negócios dos jornais, porém, não era muito difícil saber como os Mancini eram poderosos. As suas construções estavam por todo o lado e o nome deles encabeçava as grandes obras de Melbourne. Sim, os Mancini tinham realmente um império invejável.

Catherine pensou que para administrar um negócio daqueles era preciso muita energia, muita inteligência e, sobretudo, muita responsabilidade, qualidades que Janey precisava num homem para que ele a levasse pelo bom caminho.

– Então Marco está no negócio da construção? Faz parte da cadeia Mancini? – perguntara Catherine, tentando esconder o seu enorme entusiasmo. Há muito tempo que aprendera que quando ela concordava com uma relação de Janey, a sua irmã acabava com ela imediatamente. Sempre fora assim.

– Bom, na verdade, Marco vendeu a parte dele da empresa ao seu irmão Rico. Quando fez dezoito anos, Marco queria fazer parte do negócio, mas Rico queria aumentar o negócio e estava disposto a trabalhar sessenta horas por semana. – contara Janey, ainda maravilhada com toda a família Mancini.

– É assim que se trabalha, Janey – dissera-lhe Catherine, tentando fazer com que a sua irmã aprendesse alguma coisa.

– Porquê? Por que é que precisas de te incomodar quando já tens sucesso? Marco já é rico. Não precisa de trabalhar e não trabalha. É simples.

– Vive da sua herança? Nunca teve um emprego? – perguntou Catherine, preocupada e ansiosa para saber mais coisas sobre o homem com quem a sua irmã se metera.

– Falas como o irmão dele. E eu vou dizer-te o mesmo que Marco diz a Rico. O dinheiro que ele gasta é dele.

– Mas que tipo de homem…?

– E tu o que sabes sobre homens? Quem és tu para me dar conselhos? – perguntara Janey com desprezo.

– Sou a tua irmã e preocupo-me contigo, Janey, quer queiras quer não. Desde que o papá e a mamã… – continuou Catherine, emocionada. Não queria remexer no passado, não queria voltar para aquelas lembranças tão dolorosas, contudo, sabia que tinha que falar sobre eles naquele momento. – Fiz tudo o que pude por nós. Tentei estar sempre disponível para ti. E, agora, estou a pedir-te que me ouças. Penso que estás a precipitar-te. Só conheces Marco há dois meses. Por que não esperas e…?

– Estou grávida – respondera Janey, repentinamente.

Aquelas palavras eram suficientes para que Catherine ficasse paralisada e para que a sua discussão mudasse de rumo totalmente. No entanto, apesar da notícia ser surpreendente, Catherine tentou, deliberadamente, esconder a sua surpresa. Também fez todos os possíveis para não dar um sermão a Janey. Naquele momento, era a última coisa de que precisava. Tinha que ter calma.

– Então, também estou contigo, Janey. Podemos resolver isto. O facto de estares grávida não significa que tenhas que te casar com ele. Não tens que fazer nada que não queiras fazer. Sabes disso, não sabes?

– Não entendes nada, pois não? Achas que foi um acidente? – perguntara Janey, rindo-se maliciosamente. – Tens alguma dificuldade a entender coisas muito simples, mesmo sendo professora. Não penses, nem por um segundo, que este bebé é um acidente. Não sejas tão ingénua, querida irmã!

– O que queres dizer com isso?

– Volto a repetir-te, Catherine, que sei muito bem o que estou a fazer. Este bebé não foi um acidente.

– Janey, lamento muito. Não estava a sugerir que não queres o teu bebé. Simplesmente nunca pensei que tu… nunca mostraste nenhum interesse por crianças. – continuou Catherine, ainda preocupada.

– E não tenho a intenção de o ter agora. Como posso dizer-te isto, Catherine? Nunca estive tão bem. Posso entrar numa loja e não olhar para os preços e posso ir aos melhores restaurantes. E se achas que o vou deixar escapar, então não me conheces minimamente. Talvez Marco me ame e o seu amor continue para sempre, contudo, não quero arriscar-me. Esta criança é o meu seguro de vida – dissera, apontando para o seu estômago sem o mínimo sinal de ternura. – E se estás preocupada com a minha falta de instinto maternal, não percas tempo. Marco tem dinheiro para contratar as melhores amas, não terei que fazer nada. Portanto, podes poupar-me os sermões de irmã mais velha e os teus discursos aborrecidos, porque não preciso de ti, Catherine. – dissera aquelas últimas palavras com agressividade.

Passado um ano, aquelas palavras ainda lhe faziam mal.

Contemplou a aliança de Janey, mas naquele caso as lembranças não contemplavam exclusivamente a sua irmã. Rico, elegante no seu fato escuro, demorara muito a dar os anéis aos noivos. Naquele momento, Catherine apercebera-se de que ela não era a única que tivera dúvidas quanto àquele casamento.

– Como se sente? – perguntou-lhe a enfermeira, interrompendo as suas lembranças dolorosas. Agradecia a interrupção.

– Estou bem, mas penso que vou ao quarto de Lily para estar um pouco com ela – respondeu Catherine com um nó na garganta ao pensar na sua sobrinha órfã. Por um momento, sentiu-se invadida por um sentimento de ódio, ódio pela sua irmã morta.

– Disseram que já a chamariam. Penso que não vão demorar muito. Deve estar muito cansada por estar a enfrentar tudo isto sozinha. Pelo menos, já localizámos os pais de Marco. Pelos vistos, estão de férias nos Estados Unidos.

– São o seu pai e a sua madrasta. A mãe dele morreu há muito tempo – explicou Catherine. Não esperara que os Mancini desistissem das suas férias e, embora soubesse que teria que organizar muitas coisas, sentiu-se aliviada por saber que não teria que fazer nada naquela noite. Sentia-se exausta.

Aquela noite tinha sido suficientemente complicada.

– Bom, já contactámos com eles. Na verdade, alguém chamado Rico vem para cá agora. Telefonou e disse para o esperar aqui. Sente-se bem? – perguntou a enfermeira a Catherine, ao ver como empalidecia.

– Estou bem, é que… – respondeu Catherine, enquanto sentia o seu coração a acelerar e as suas pernas a tremer. A enfermeira guiou-a até à cadeira mais próxima.

– Respire fundo, menina Masters, e baixe a cabeça. Assim. Está só um pouco tonta. É natural, depois de tudo o que aconteceu. Não me surpreende que esteja assim, depois deste choque. Vou buscar-lhe um pouco de água. Espere aqui.

Catherine assentiu e envolveu o rosto com as suas mãos. Sentia-se culpada pela amabilidade da enfermeira.

Na verdade, o que acontecera naquele dia não fora um choque.

Era uma agonia e doía-lhe mais do que podia imaginar, mas o fim daquelas vidas não representava nenhuma surpresa. A forma como Marco e Janey tinham vivido, quebrando todas as regras e com a certeza de que o dinheiro sempre os protegeria, fazia com que aquele final fosse inevitável.

Mas não foi o acidente, nem as suas consequências que fizeram com que Catherine quase desmaiasse, embora, sem dúvida alguma, tivessem contribuído para isso, assim como as longas entrevistas com os assistentes sociais ou o facto de não ter comido nada desde o pequeno-almoço. No entanto, tudo estava relacionado com o facto de voltar a ver Rico. Depois de todos aqueles meses, finalmente ia vê-lo novamente.