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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Annie West. Todos os direitos reservados.

AMANTE POR CONVENIÊNCIA, N.º 1033 - Dezembro 2013

Título original: The Greek’s Convenient Mistress.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3805-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Costas desligou o carro e olhou para a casa, pela qual atravessara meio mundo. Um apartamento de tijolo vermelho nos subúrbios de Sidney. Era simples e sólido e com um certo ar de abandono. A publicidade saia para fora do correio e a relva estava muito grande.

Franziu o sobrolho ao abrir a porta do carro para sair e esticar os músculos do seu corpo alto.

Apesar de o correio não ser recolhido, soube que ela estava em casa. Ou que estivera trinta horas antes, antes de ele ter saído de Atenas. Rejeitou a possibilidade de considerar que ela não estivesse em casa. Tinha demasiado interesse para considerar o fracasso.

Cerrou os punhos e esticou-se, tentando desentorpecer os ombros. Viajara em primeira classe, como sempre, mas fora incapaz de dormir. A tensão que acumulava desde há muito tempo chegara ao seu ponto crítico. Não dormia há três dias e mal tinha comido.

Não conseguiria dormir até que obter o que precisava daquela mulher.

Levou vinte segundos a atravessar a tranquila rua, abrir a cancela e percorrer o caminho de cimento que conduzia à entrada principal. Tocou à campainha e olhou através do minúsculo pátio cujas teias de aranha pendiam nas esquinas da janela da frente. Era uma governanta relaxada, pensou. Porque é que não se surpreendia?

Voltou a tocar à campainha, premindo o botão um pouco mais de tempo. Não estava com paciência para que o ignorassem. Especialmente aquela mulher. A impaciência começou a aumentar dentro dele. Já tinha sofrido demasiado com a sua falta de atenção. Ia ver com quem estava a lidar.

Percorreu o pátio e deu uma olhadela do outro lado da casa. Tinha a certeza de que uma das janelas estava completamente aberta. Só o mosquiteiro o afastava do interior da casa, mas não estava disposto a entrar de forma ilegal.

A menos que tivesse de o fazer. Voltou para a porta principal, tocou à campainha novamente e pôs-se de pé. O som ecoava no interior da casa.

Bom! Aquilo faria com que ela tivesse de se mexer. Não suportaria aquele barulho muito tempo, no entanto, passaram muitos minutos antes que se ouvisse uma porta a bater no interior e mais qualquer coisa antes que alguém tocasse na maçaneta da porta.

A expectativa mantinha-o em tensão. Uma vez que estivessem cara a cara, ela faria o que ele quisesse, não teria escolha. Convencê-la-ia se tivesse de o fazer, embora, considerando o seu comportamento, se sentisse tentado em esquecer a boa educação e ir directamente à questão. Respirou fundo e convocou ao seu formidável autocontrolo. Precisaria dele para aquela conversa.

A porta abriu-se e apareceu uma mulher. Evidentemente não a que fora visitar, mas... Diavolo!

Ficou gelado, sentindo que a sua compostura desaparecia ao ver aquelas feições. O coração bateu-lhe aceleradamente e começou a transpirar da testa. Sentiu uma pontada como se tivesse visto um fantasma.

A rapariga tinha a mesma estrutura óssea. Os mesmos olhos grandes, nariz elegante e pescoço magro. Durante um instante, ficou a olhar para ela, espantado. Depois, respirou fundo e o bom-senso voltou a ocupar o seu lugar. Aquela mulher era de carne e osso, não um espectro do passado.

Conseguiu ver as diferenças subtis no seu rosto. Os seus olhos eram da cor do mel, não pretos. A boca era perfeita, com uns lábios mais carnudos do que os de Fotini.

Reparou no cabelo escuro com brilhos castanhos apanhado num coque. As rugas das suas faces demonstravam que estava deitada. A blusa e a saia amarrotada pareciam indicar que saíra directamente do trabalho para uma festa de fim-de-semana. Reparou na palidez e nas olheiras e perguntou-se se seriam provocadas por drogas ilegais ou simplesmente pelo álcool.

Importava? Só de olhar para ela ficava alterado, trazia demasiadas lembranças. Mas não tinha muito tempo para dedicar aos seus pensamentos, portanto iria direito à questão com a mulher atrás da qual percorrera meio mundo.

– Procuro Christina Liakos – disse.

Ela olhou para ele, pestanejando. Costas franziu o sobrolho perguntando-se se não o teria entendido.

Kyria Liakos? – perguntou na sua língua.

Ela entreabriu os olhos e ele reparou nos seus nós dos dedos pálidos agarrados à ombreira da porta.

– Vim falar com Christina Liakos – disse de modo deliberadamente lento e preciso, – por favor, diga-lhe que tem uma visita.

Ela abriu os lábios, mas não disse nada. Fez um gesto para falar, mas depois, rapidamente, fechou a boca e engoliu com dificuldade. Tinha os olhos muito abertos.

– Oh! Céus! – ouviu-se um murmúrio rouco, pouco audível apesar da proximidade. E um instante depois, afastou-se a cambalear pelo corredor, deixando Costas de pé a olhar para ela através da porta aberta.

Não hesitou: um segundo depois estava no corredor. A jovem desapareceu dentro de uma divisão ao fundo da casa. Os ombros encolhidos e uma mão a tapar a boca explicavam tudo. Teria exagerado na noite anterior e estava a pagar as consequências.

Por um momento, Costas voltou a sentir aquela sensação horrível de déjà vu provocada pela sua parecença com Fotini. Mas não sentiu nenhuma simpatia por uma jovenzinha estúpida que não respeitava o seu próprio corpo.

Tinha todos os sentidos em alerta, preparado para enfrentar a sua presa. Como a casa tinha um certo ar de vazia, teve a sensação de que a rapariga e ele eram as únicas pessoas ali. Mas tinha de se certificar. Levou apenas alguns minutos a ver a casa toda, era muito pequena. O lugar parecia confortável e limpo, excepto a sala, com um monte de garrafas, copos e pratos com restos de comida. E a cozinha, onde alguém começara a empilhar os tachos que era preciso lavar.

Devia ter havido uma festa, pensou, ao ver aqueles pratos todos e os restos de comida pela bancada, os copos no lava-loiça... E nenhum rasto da mulher que queria encontrar. A mulher que tinha o seu futuro nas mãos.

Mas havia uma pessoa que sabia exactamente onde estava Christina Liakos. Pôs-se a andar em direcção à casa de banho e entrou para voltar a sair imediatamente.

Não foi devido aos vómitos. Nem a nenhum sentido de delicadeza que o fizesse respeitar-lhe a privacidade. Foi a visão de umas nádegas perfeitas e redondas numa saia preta, enquanto a sua proprietária se inclinava sobre a sanita. E as pernas perfeitas com meias pretas. Ridículo, disse para si. Nenhuma mulher podia estar sexy, enquanto vomitava. Nem sequer uma tão bonita como aquela.

 

 

Os olhos de Sophie estavam cheios de lágrimas, enquanto tentava respirar através da sua garganta maltratada e dorida. A sua boca tinha um sabor horrível e tremia tanto, que mal conseguia manter-se de pé. As náuseas estavam a desaparecer, mas a pele inteira ardia-lhe como reacção. E parecia que alguém lhe tinha atado a cabeça com uma fita e que a estava a apertar.

– Tome.

Abriu os olhos e viu uma toalha húmida à frente dela. Uma mão masculina segurava-a. Uma mão grande e quadrada com dedos compridos segurava-a. E pele bronzeada. Com a manga de um casaco de malha delicada. Um vislumbre de um punho branco como a neve. A elegância comedida de um botão de punho de ouro.

Sophie olhou para ele, mas não teve a força necessária para se levantar.

– Não consigo – murmurou. Estava tão fraca que toda a sua força desaparecia ao tentar manter-se de pé.

Ouviu qualquer coisa atrás dela. Pareciam palavrões, pelo som, mas num grego incompreensível. E então um braço rodeou a sua cintura e levantou-a até a apoiar contra a solidez de um corpo. O seu calor intenso era como se tivesse um forno nas costas. Mas nem sequer isso conseguia mitigar o frio que sentia. Passou-lhe a bendita toalha pela testa, pelas faces, pela boca e pelo queixo e, em silêncio, agradeceu àquele homem, fosse quem fosse.

Ocorreu-lhe olhar para ele. Era um completo estranho. Nenhuma mulher esqueceria um homem como aquele, tão masculino, arrogante e sexy.

Voltou a apoiar a cabeça no seu peito. Bocejou. Assim que a largasse, voltaria para a cama, pensou aborrecida, mas então, agarrou-a pelos ombros, fazendo com que estremecesse ao sentir que os dedos lhe cravavam a pele e abanou-a.

– O que tomou? – a sua voz era profunda com alguma pronúncia e Sophie ficou um pouco preocupada com o tom. – Diga-me!

Com muita dificuldade deu-se conta de que estava a falar com ela.

– Digo-lhe o quê? – estava ainda um pouco confusa. As náuseas estavam a desaparecer, mas continuava tudo a ser muito vago.

Apenas o seu ombro e a forma como a segurava pela cintura, a mantinham ancorada à realidade. Sentiu a boca dele na orelha, a sua respiração na pele.

– O que tomou? – a sua voz era lenta e paciente, mas cortante. – Drogas? Comprimidos?

Comprimidos. Isso, sim, tomara dois. Ou teriam sido três? Tinha a certeza de que lhe tinham dito que era só dois.

– Comprimidos – disse ela, assentindo. – Comprimidos para dormir.

Outra ronda de palavrões. Aquele tipo tinha realmente um problema com o seu temperamento. Revolveu-se entre os braços, tentando libertar-se. De repente, sentiu-se mais ameaçada do que protegida pela sua força.

– Consegue segurar-se sozinha? – perguntou.

– Claro – mas quando a largou, Sophie teve de se agarrar ao lavatório para não cair.

Sentiu que ele se afastava um pouco e sentiu-se aliviada. Ajudara-a quando precisara, mas era um completo estranho. Assim que conseguisse reunir forças, faria com que se fosse embora. Agarrou-se com mais força ao lavatório, enquanto tentava endireitar-se mais.

A água estava a correr? Virou-se e desejou não o ter feito quando uma tontura quase a fez cair. Era difícil manter-se de pé, mesmo apoiada no lavatório.

Eram as mãos dele a agarrá-la na roupa o que lhe provocava tonturas. O toque dos seus nós dos dedos, enquanto lhe desabotoava a blusa. Tentou agarrar-lhe as mãos, mas era demasiado rápido. A blusa estava pendurada desabotoada, enquanto se dispunha a tirar-lhe a saia.

Com a força do pânico, empurrou-o com as duas mãos, mas só conseguiu descobrir que não tinha nada vestido, sentiu apenas os contornos quentes de um peito masculino sólido.

Uma neblina impedia-a de ver os seus músculos e as suas mãos bronzeadas. Voltou a empurrar e sentiu a suavidade dos seus pêlos do peito, o que provocou uma sensação de prazer que a percorreu de cima a baixo. Mas o que conseguia era o mesmo que se empurrasse uma parede de tijolo. Era um peito impressionante. Estava assustada. A sua respiração transformou-se num gemido de desespero, enquanto tentava desesperadamente afastá-lo dela.

– Deixe-me em paz! – exclamou quase sem voz. – Saia daqui já ou chamo a polícia.

Ignorou-a por completo, enquanto se inclinava para lhe tirar as meias. A sua pressão insistente num tornozelo e depois no outro permitiu-lhe tirar-lhe as meias. Se ela tivesse sido capaz de coordenar só um pouco mais os seus movimentos, teria conseguido oferecer resistência.

– Não vou magoá-la – disse com um gemido quando ela pretendeu bater-lhe e o que fez foi tocar-lhe na face. Olhou para ela com tanto desgosto, que ela quase acreditou.

Voltou a levantar o punho quando a levantou do chão e deitou-a ao ombro, fazendo com que ficasse sem respiração. Ficou em cima dele completamente desorientada, pele contra pele. A divisão andava às voltas, provocava-lhe tantas tonturas como o poderoso cheiro masculino da sua pele nua. Reparou no calor, na dureza dos ossos e nos músculos, no toque do seu cabelo contra as suas costas, enquanto dava a volta. Então, sem avisar, baixou-a e colocou-a sob um jorro de água do duche. Toda a força da água caiu-lhe sobre as costas, depois sobre a cabeça.

– O que...?

O cabelo molhado caía-lhe sobre a cara, fazendo com que quase não conseguisse ver. A força da água era tal, que quase a magoava. O que a mantinha ali era a força das mãos dele sobre os ombros, obrigando-a a estar de pé e longe dele. Balançou e apertou as mãos, mas manteve os braços esticados.

A expressão dos seus olhos escuros era indecifrável. Brilhavam com um fogo interior. O seu rosto era duro, o queixo parecia de pedra. Era um rosto que Sophie, naquele momento, não tinha força para enfrentar. Deixou-se cair ao sentir que os joelhos cediam, enquanto a água fazia com que o corpo cansado voltasse a sentir-se vivo. Caiu-lhe a cabeça para a frente com o peso da água e da consciência que começava a recuperar.

Aquele estranho de rosto severo devia ter pensado que estaria com uma overdose, senão o que faziam os dois no duche em roupa interior? Noutro momento, noutra vida, teria achado aquela cena engraçada e embaraçosa. Inclusive provocadora. Ela em cuecas e sutiã de renda branca. O deus grego de olhos inescrutáveis e corpo magnífico, de boxers pretos.

Mas naquele dia, não. Era sábado, percebeu, sentindo que a sua mente se esclarecia, enquanto a dor das lembranças a começava a invadir. Não se perguntava porque é que se sentia tão mal. O dia anterior fora o pior da sua vida.

– Já estou bem – murmurou. – Pode deixar-me.

Silêncio.

– Já lhe disse que estou bem – disse, levantando a cara e olhando para ele.

– Não parece – disse ele com brutalidade. – Parece que precisa de cuidados médicos. Vou levá-la ao hospital e poderão...

– O quê? Fazer-me uma lavagem ao estômago? – inquiriu, enquanto olhava para ele através da água e do cabelo colado ao rosto. Imóvel excepto o tremor nas pernas. – Olhe, tomei alguns comprimidos para dormir e, evidentemente, não me caíram bem. Só isso.

– Quantos é que tomou exactamente?

– Dois – disse ela. – Se calhar três. Não estava muito concentrada, mas não foram muitos para uma overdose, se é isso que está a pensar.

– E o que é que tomou mais com os comprimidos? – a sua voz era cortante, acusadora.

– Nada. Não tomo drogas – Sophie lutava para que a soltasse e, daquela vez, largou-a, mas nem se mexeu, continuou ali, impedindo-lhe a passagem. A sua expressão era ainda mais dura, o que a fez estremecer.

Balançou-se para poder apoiar-se. Continuava a sentir as marcas dos seus dedos nos braços e perguntou-se se depois ficaria com nódoas negras. Contou até dez, depois, quando conseguiu reunir alguma força, virou-se e fechou as torneiras. No silêncio repentino, conseguiu ouvir a respiração dele e o som dos seus próprios batimentos nos ouvidos.

– Não tomei mais nada – repetiu. – Nem drogas nem álcool. Foi só uma reacção aos comprimidos.

E ao stress implacável das últimas semanas.

Devagar, virou-se para ficar de frente para ele. Olhava para ela como se fosse Ares, o deus da guerra, com o seu olhar gélido e a sua postura de pronto para a batalha.

– Lamento que tenha ficado preocupado – disse, enquanto afastava o cabelo da cara e se via ao espelho por cima do ombro dele. Qualquer coisa para não olhar para aquela cara tensa cujo cheiro almiscarado enchia o ar. – Agradeço a sua ajuda, a sério, mas estou bem – dentro da medida do possível.

Por um momento pensou que não acreditara. Aqueles olhos penetrantes inspeccionaram-na devagar, clinicamente. Se tivesse sido capaz de sentir vergonha, ter-se-ia sentido envergonhada com aquele olhar.

Mas, naquele momento, sentia-se estranhamente indiferente, era tudo indiferente, excepto a dor profunda no seu interior. Finalmente, ele assentiu e saiu do duche. Imediatamente ela afrouxou os seus músculos esgotados. Ele foi até ao armário e tirou umas toalhas.

Sophie observou-o sem dizer nada, enquanto o seu cérebro processava as imagens sucessivas. A proeminência arrogante do seu queixo. Os ombros largos e costas elegantes brilhantes devido à humidade. A curva das suas nádegas sob os boxers colados como uma segunda pele. As coxas musculadas e poderosas. Sentiu um calafrio e suspirou. Ele virou-se, pegou na sua roupa e deu-lhe uma toalha.

– Vou vestir-me noutra divisão – disse com a sua voz profunda, desprovida de qualquer emoção.

Havia alguma coisa agradável naquele homem? Olhou para ele, enquanto atravessava a porta a passos largos. Não, pensou. Era tudo rudeza. Desde o seu corpo até ao rosto e aos olhos frios.

Bom, tivera a humanidade suficiente para a ajudar quando tinha pensado que precisava. Fora bastante atencioso, de facto, mas não por amabilidade, ou companheirismo, soubera por instinto. Simplesmente achara que era necessário. Fazia o que pensava que era preciso fazer: mantê-la consciente antes de chamar a assistência médica.

Tremeu com a toalha contra o peito. O tremor transformou-se num calafrio e, apesar da sua pele irritada e do vapor da casa de banho, aquele frio até aos ossos invadiu-a mais uma vez. Saiu do duche a cambalear, embrulhou-se numa toalha, pôs outra no cabelo e fugiu para o seu quarto. Dez minutos depois, vestida com umas calças de ganga e uma camisa confortável, saiu à procura do estranho que invadira a sua casa.

Costas estava de pé na cozinha a beber um café. Qualquer coisa para voltar à normalidade depois do encontro com aquela rapariga que era tão parecida com Fotini. Ao princípio a semelhança fora espantosa. Continuava a ser apesar das diferenças óbvias. A rapariga era mais leve, um pouco mais magra. A cara era menos redonda e os ossos das faces mais pronunciados.

Olhou para o pátio das traseiras, enquanto bebia outro gole de café. Concentrou-se nas imagens que davam voltas na sua mente. Primeiro, a visão dela a abrir a porta, tão parecida com Fotini, que ficara imóvel. Segundo, a imagem dela nos seus braços, percorrida pela água que acentuava as suas curvas sedutoras. Ficou com a boca seca ao recordar como a sua cintura era estreita e as suas ancas redondas. O sutiã e as cuecas de renda molhados não tinham deixado quase nada para a sua imaginação, nem os seios arrepiados, nem o convite dos mamilos. Nem a sombra evocadora e feminina que se adivinhava entre as pernas.

Segurara-a com as suas mãos e imediatamente gostara, desejara-a com tal intensidade, que o recordara de quanto tempo passara desde que não estava com uma mulher. Apenas a sensação da pele flexível e suave em contacto com a sua fizera-o desejar compulsivamente tê-la nua debaixo dele.

Permanecera ali, inconsciente à água do duche e desejara que as circunstâncias tivessem sido completamente diferentes apenas durante algumas horas. O tempo suficiente para sucumbir àquela doce tentação. Para esquecer as suas responsabilidades e preocupações com a felicidade que sabia que poderia encontrar naquele corpo de sereia.

Bebeu outro gole do café e tentou ignorar a tensão que sentia. A sua missão era demasiado urgente. Não importava quão deliciosa fosse a tentação, nada podia distraí-lo do seu propósito.

O som de uns pés que se arrastavam fez com que se virasse. Ela estava de pé à porta, aparentemente estável. Com a roupa que usava parecia que tinha dezasseis anos. Mas os olhos e as olheiras demonstravam que não era assim.

Costas franziu o sobrolho ao recordar uma imagem dela praticamente nua com aquela roupa interior tão sexy. A camisa folgada parecia simples camuflagem. Tirara-lhe a roupa, tocara na sua pele nua. A experiência estava registada na sua memória de modo indelével.

– Há café – disse de repente, apontando para a chávena fumegante que estava em cima da mesa.

Não olhou para ele nos olhos, sentou-se devagar numa cadeira e agarrou na chávena com as duas mãos.

– Obrigada – disse ela.

A sua voz era fria, sem ânimo.

– Preciso de falar com Christina Liakos – disse ele outra vez, disfarçando a sua impaciência com um autocontrolo férreo. – Como posso contactar com ela?

– Não pode – daquela vez a sua voz mostrou alguma entoação. – Além de que já não se chama Liakos – acrescentou bruscamente, – agora é Paterson.

Os seus olhares encontraram-se e Costas teve de se sobrepor mais uma vez ao desejo que despertava nele.

– Quem é você? – perguntou ela.

– O meu nome é Costas Palamidis – fez uma pausa, esperando a reacção dela, mas o seu rosto permaneceu impassível. – Tenho uma coisa para falar com a senhora Paterson.

– Palamidis – murmurou ela. – Conheço esse nome – franziu a testa.

– Acabo de chegar de um avião proveniente de Atenas. É imprescindível que fale com a senhora Paterson imediatamente – conteve-se de dizer que era um assunto de vida ou morte. Isso era demasiado pessoal para dizer a uma estranha.

– Atenas? – entreabriu os olhos. – Era você ao telefone – olhou para ele com perplexidade, enquanto pousava a chávena na mesa. – Deixou mensagens no atendedor de chamadas.

Costas assentiu.

– Mensagens que nunca foram respondidas...

– Canalha – sussurrou, levantando-se tão depressa, que a cadeira caiu ao chão. – Agora já sei quem é! Saia daqui já. Fora!

Costas não se moveu. A rapariga estava histérica. Tinha um olhar selvagem e os seus dedos cravavam-se na mesa, mas era a única que sabia onde estava Christina Liakos. E teria falado até com o diabo para encontrar aquela mulher. Apoiou-se na beira da bancada e cruzou as pernas.

– Não vou a lado nenhum. Vim falar com ela e não me vou embora até conseguir.

Fascinado, olhou para as emoções que se adivinhavam no rosto da rapariga. De repente, deu uma gargalhada histérica que o fez ter um mau pressentimento.

– Bom, a menos que seja vidente, vai esperar muito, Palamidis. A minha mãe foi enterrada ontem.