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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Barbara Joel

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Perdido sem ti, n.º 495 - dezembro 2018

Título original: In Blackhawk’s Bed

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-320-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

BEM-VINDO A RIDGEWATER, TEXAS, POVOAÇÃO 3546. BERÇO DO MAIOR BOLO DE FRUTA DO MUNDO.

 

Seth Granger observou o cartaz de dez metros, onde uma família sorridente posava junto de um bolo de fruta tão grande como Godzilla.

Bolo de fruta?

Depois de oito anos como detective em Albuquerque pensava já ter visto de tudo. Aparentemente, não era assim.

Sacudindo a cabeça, reduziu a velocidade da sua Harley. A última coisa de que precisava era de uma multa. Depois de seis horas na auto-estrada, necessitava de encher o depósito de gasolina, comer o maior hambúrguer que encontrasse e beber uma garrafa de água gelada.

Pela noite estaria em Sweetwater e a primeira coisa a fazer seria procurar um bar. Passara o dia todo ansioso por tomar uma cerveja e quase sentia o líquido fresco de cor âmbar deslizando pela garganta.

Se acrescentasse uma pizza e uma bonita empregada, seria o cúmulo da satisfação.

Uma mulher que passeava um terrier preto ao lado da estrada olhou-o com cara de poucos amigos. O cão começou a ladrar e a puxar pela trela, furioso.

Mas que hospitalidade, pensou Seth. Muito embora ele não tivesse muito bom aspecto. Há dois dias que não fazia a barba e o cabelo caía quase até aos ombros. Teve que o deixar crescer aquando do seu último caso, que o obrigara a infiltrar-se numa organização que fabricava drogas, e ainda não o cortara. E com o capacete e óculos de motoqueiro, devia parecer um cantor de hard rock. Ou um vagabundo.

O calor da tarde queimava o asfalto quando parou numa bomba de gasolina, onde todos o olharam como se fosse um fantasma.

Perguntou-se o que faria a boa gente de Ridgewater se se pusesse a gritar. Decerto entrariam nos carros e fugiriam como se tivessem visto o diabo. A ideia fê-lo sorrir.

Mas tinha coisas mais importantes em que pensar do que nos habitantes de Ridgewater.

Coisas tão importantes como a carta que levava na mochila; uma carta do escritório de advogados Beddingham, Barnes & Stephens.

Encontrara uma pilha de cartas ao voltar a casa depois do seu último falhanço. Não tencionava inspeccionar facturas ou propaganda naquela noite. Só queria pôr um saco de gelo na cabeça e tomar um whisky.

Mas a carta estava por cima das outras e os três apelidos brilhavam como néon. Certamente, alguém o teria processado. Talvez algum barão da droga que não teria achado graça em ser preso. Ou talvez o imbecil do andar de baixo; o que batia na mulher; não tinha gostado da sua intervenção duas semanas antes.

A lista seria interminável, pensou, deixando a carta onde estava.

Enquanto punha gelo num copo, voltou a pegar-lhe. Então viu que o remetente era Wolf River County, Texas.

Wolf River?

Surpreendido, abriu o envelope com mãos trémulas.

E vinte e quatro horas depois, numa bomba de gasolina em Ridgewater, Texas, recordava-se de cada palavra. Sobretudo o segundo parágrafo, terceira linha…

 

Rand Zacharias Blackhawh e Elizabeth Marie Blackhawk, filhos de Jonathan e Norah Blackhawh de Wolf River County, Texas, não morreram no acidente em que os seus pais perderam a vida…

 

Continha mais informações, claro. O nome do advogado com quem devia contactar, o telefone do escritório, algo sobre uma herança… ainda que do pouco que Seth recordava da sua infância, o pequeno rancho dos pais não devia valer muito.

Mas isso não tinha importância. O que realmente importava era que Rand e Lizzie não tinham morrido.

Estavam vivos.

Vivos.

O seu primeiro pensamento foi que tudo aquilo era um engano; um trágico engano. Ou pior; uma brincadeira de mau gosto. Mas ninguém sabia nada sobre o seu passado. Ninguém sabia que durante os primeiros sete anos da sua vida, até ser adoptado por Ben e Susan Granger, o apelido de Seth era Blackhawk. Apenas ele o sabia.

Seth olhou para os números da bomba de gasolina. Só tinha então sete anos. Rand, o seu irmão mais velho, tinha nove. Elizabeth, Lizzie, acabava de completar dois.

A carta tinha sido como um golpe no coração. Saber, depois de vinte e três anos, que os irmãos, que acreditava estarem mortos, viviam, era algo assombroso.

Não se lembrava quanto tempo ficou sentado no sofá, no escuro, contemplando a carta. Mas quando começou a amanhecer Seth marcou o número do escritório e deixou uma mensagem.

Depois esperou, com o telefone sobre os joelhos.

Era verdade. O advogado confirmou-o poucas horas mais tarde. Rand e Lizzie não estavam mortos. Rand tinha sido localizado, mas continuavam à procura de Lizzie.

O advogado pediu-lhe que fosse a Wolf River, o que ele aceitou de imediato.

Com o coração descompassado, as mãos trémulas, desligou o telefone, fixando-o durante quinze minutos. Depois dormiu doze horas seguidas.

O facto de o terem suspenso durante seis semanas facilitou muito as coisas. Pôs algumas roupas na mochila e fez-se à estrada. Ninguém daria pela sua falta em Albuquerque. Não tinha mulher, nem filhos… nenhum compromisso.

E isso era exactamente o que lhe convinha. Tentara viver com Julie, a sua última namorada, mas a vida de um polícia secreto não facilitava, em absoluto, a relação dos dois. Nunca sabia quando chegaria ou se chegaria a casa. Avisara-a, mas Julie pensou que se poderia acostumar.

De modo que se mudou para o seu apartamento, enchendo-o de detalhes femininos: porta-vasos, almofadas em ponto cruz, velas, fotografias emolduradas dos dois…

Seis meses depois Julie estava farta. Quando se separaram, rasgou as fotografias e atirou-as para um caixote de metal, juntamente com as velas e outras prendas, deitando-lhes fogo. No fim, tiveram que chamar os bombeiros.

Quatro semanas depois, Seth ainda era alvo de piadas na esquadra.

Por isso não voltaria a viver com ninguém, jurou a si próprio. Não queria esse tipo de complicações.

Não era parvo, sabia que no momento em que uma mulher invade uma casa começa a pensar em alianças, vestidos de noiva e crianças. Tudo isso era óptimo para qualquer outro homem, mas não para Seth.

Tinha visto a angústia estampada no rosto da sua mãe adoptiva quando os colegas do pai do corpo de polícia entraram em casa uma noite, de cabeça baixa. Al Mott e Bob Davis tinham sido o tio Al e o tio Bob para Seth durante dez anos. Depois do funeral, os dois desaconselharam-no a entrar para a polícia. Na opinião deles, devia ir para a universidade, estudar arquitectura ou advocacia.

A mãe chorou no dia em que recebeu o crachá, mas deu-lhe a sua bênção. Isso fora dez anos antes.

Havia dias em que pensava que Al e Bob tinham razão. Trabalhar das oito às três num escritório era algo que começava a soar-lhe cada vez melhor.

Particularmente depois daquele último caso, pensou Seth, suspirando.

Quando acabou de encher o depósito de gasolina, voltou a pôr o capacete. No outro lado da bomba uma senhora idosa olhava-o e ele piscou-lhe o olho. Claro que a senhora desviou de imediato o olhar.

Altos olmos e mansões vitorianas ladeavam a avenida principal de Ridgewater. Várias dessas casas tinham letreiros nas portas: um escritório, uma clínica, uma loja de antiguidades…À esquerda de cada letreiro, num canto, estava desenhado um bolo de fruta. Seth abanou a cabeça, incrédulo.

Estava quase a chegar ao final da avenida quando viu uma menina por trás de uma vedação branca.

Surpreendido, reduziu um pouco a velocidade e o seu coração parou ao ver uma outra criança pendurada numa árvore. Estava a vários metros do chão, com as calças presas num dos ramos.

Há momentos em que quase não se pensa, simplesmente age.

Seth atravessou a vedação com a mota e saltou dela praticamente sem parar, tirando o capacete a toda a velocidade.

– Não te mechas!

A criança olhou-o, aterrorizada. O tecido das calças estava quase a rasgar-se…

– Não te mechas. Não respires.

– Maddie!

Seth ignorou o grito feminino enquanto subia cuidadosamente pelos ramos.

– Já está! – suspirou, prendendo a menina pela cintura.

A mulher que tinha gritado, uma loura de cabelo encaracolado que devia ser a mãe, estava debaixo da árvore com os braços estendidos.

Seth entregou-lhe a criança com uma mão enquanto se segurava no tronco com a outra.

– Mamã!

– Já passou, minha querida.

Ele deixou escapar um suspiro de alívio. Tivera muita sorte. Se não tivesse passado por ali, a criança poderia…

Então o ramo em que se encontrava sentado começou a estalar. Tentou apoiar-se noutro, mas não conseguiu e…

E de repente, tudo ficou negro.

 

 

Hannah Michaels viu, horrorizada, como o homem se estatelava no chão. Com Maddie nos braços, inclinou-se para tentar ajudá-lo. Estava de costas, muito quieto, as pernas estendidas. Mas não conseguia saber se respirava.

«Ai, meu Deus, está morto», pensou.

Pousou-lhe uma mão sobre o coração… felizmente continuava a bater.

– Madeline Nicole – disse, soltando a menina. – Fica ao pé da tua irmã e não te mechas nem um centímetro, estás a ouvir?

Com os lábios trémulos, a criança aproximou-se de Missy, que observava a cena, horrorizada. As gémeas deram as mãos, assustadas.

– Hannah Michaels, que diabo se está a passar aqui? – gritou a senhora Peterson, sua vizinha. – Isso que está defronte da tua casa é uma moto?

– Por favor, chame o doutor Lansky. Diga-lhe que é uma emergência – gritou Hannah.

– Uma emergência? Que tipo de emergência?

– Por favor, senhora Peterson. Está um homem ferido.

– Ferido? Então será melhor chamá-lo agora mesmo. Embora seja terça-feira e talvez o doutor Lansky esteja na clínica ou à pesca com o neto no lago Brightman…

– Senhora Peterson, por favor!

– Ah, sim, sim, desculpa. Vou chamá-lo agora mesmo.

A vizinha virou-se e entrou a correr em casa.

Hannah tocou na testa do homem. Felizmente, estava quente. Tinha um corte sobre a sobrancelha esquerda e um alto na cabeça.

– Não se mecha – disse, quando viu que tentava levantar-se. – O médico chegará em breve.

Ele respondeu com um gemido. A sua camisa preta rasgara-se do colarinho até ao ombro e não via nenhuma ferida, só uns arranhões. Parecia ser um homem bastante robusto, mas poderia ter alguma ferida interna ou uma lesão cerebral.

Hannah meteu a mão no bolso das suas calças para tirar um lenço de papel, mas lembrou-se que já o tinha usado para limpar a cara de Missy pouco antes. Então puxou pela sua camisola rosa e limpou o sangue como pode.

Quem seria?, questionou-se. Ela nascera em Ridgewater e vivia há vinte e seis anos na povoação. Conhecia toda a gente e nunca o vira por ali. Então olhou para a moto caída sobre a relva. Tinha matrícula do Novo México.

Continuava sem saber o que se tinha passado. Uns minutos antes Missy e Maddie brincavam na sala com as bonecas enquanto ela falava ao telefone com a sua tia Martha… ou melhor, enquanto escutava a mesma lengalenga de sempre.

– Não está certo, Hannah Louise. Uma mulher sozinha, criando duas filhas numa povoação perdida no Texas… As crianças precisam de cultura, de uma família e de uma educação decente. Tens que esquecer essa ideia ridícula de abrir uma estalagem em Ridgewater. Venderemos a casa e vireis viver comigo para Boston.

Por muito que lhe dissesse que as crianças e ela eram felizes em Ridgewater, na casa que fora dos avós, não conseguia fazê-la entender. E para piorar as coisas, depois de ouvir o grito de Missy, Hannah desligou sem se despedir.

Depois se preocuparia com a tia Martha. Naquele momento tinha coisas mais importantes para resolver. Sobretudo, o que fazer com o motoqueiro que jazia inconsciente no seu jardim.

O homem moveu a cabeça de um lado para o outro e Hannah pousou-lhe a mão no braço.

– Não se mecha, por favor.

Então, de repente, ele voltou a si e agarrou-a pelos ombros.

– Onde está Vinnie?

– Vinnie?

– Estava atrás de mim, maldita seja… Onde raios está?

– Eu não sei do que…

– Disparam contra nós! Diz-lhe que espere.

Hannah pôs as mãos sobre o peito do homem, tentando voltar a deitá-lo sobre a relva, mas era como empurrar um muro de cimento.

– Não se preocupe, eu dir-lhe-ei para esperar. Mas deite-se…

O homem olhava-a, mas sabia que não a via. Parecia perdido, confuso.

– Que diabos…? Quem é você? – perguntou então.

– Hannah Michaels. Por favor, não se mecha até que chegue o médico.

– A menina que estava na árvore… aconteceu-lhe alguma coisa?

– Não, está bem. Graças a si.

Ele, contudo, não tivera tanta sorte.

– A minha moto – disse, voltando a cabeça.

E então começou a dizer palavrões. Palavrões como Hannah nunca tinha ouvido em toda a sua vida.

– Maddie e Missy, para casa agora mesmo! As pequenas correram para a soleira, assustadas.

– Sinto muito o que aconteceu à sua moto. Eu pagarei o arranjo, não se preocupe.

Não sabia como o iria conseguir, mas preocupar-se-ia com isso mais tarde.

– Esqueça – disse ele. – Estou bem.

– Você não está nada bem. Deite-se, por favor.

Seth não queria deitar-se. Queria subir para a moto e ir-se embora daquele lugar antes que acontecesse outro desastre. Mas no era tonto ao ponto de pensar que era o chão que se movia; era a sua cabeça que andava ás voltas.

Só precisava de um minuto, disse, para recuperar o equilíbrio.

Olhou então para a mulher que estava ao seu lado. Era esbelta, alta, com o cabelo louro encaracolado e uma pele de porcelana. E os seus olhos eram tão azuis como o céu.

Observou então a boca dela. De lábios generosos, convidativos…

E depois olhou mais para baixo, para a camisola rosa manchada de sangue.

– É meu?

– Fez um corte na testa. Por favor, não se mecha até que chegue o médico.

– Não preciso de médico – disse Seth, tentando levantar-se.

Mas as pernas fraquejaram-lhe.

– Deita-se novamente ou terei que me zangar? – ralhou ela, agarrando-o pela cintura.

Se não lhe doesse tanto a perna, teria soltado uma gargalhada. Devia pesar metade do que ele pesava e media vinte centímetros menos, de maneira que não conseguia imaginar o que lhe poderia fazer.

Mas quando sentiu o toque dos seus peitos começou a imaginar outras coisas… O seu corpo correspondia à proximidade feminina e ao seu suave perfume. Estava ferido, mas não estava morto.

– Realmente penso que deveria deitar-se. Noutra situação, com os dois na cama, desnudos, aquilo teria soado como música celestial.

Mas não era o caso. Infelizmente, só queria recuperar o equilíbrio e ir-se dali a toda a velocidade.

Seth deu um passo em frente. A roda da moto estava torcida num ângulo esquisito… mau sinal.

Ao ouvir um rosnar, voltou a cabeça e sentiu-se novamente tonto.

Muito mau sinal.

Um pastor alemão do tamanho de um pónei corria na sua direcção com cara de poucos amigos.