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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Linda Lucas Sankpill

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Livre para fugir, n.º 544 - março 2019

Título original: The Gentrys: Cinco

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-643-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

 

 

 

Fazendeiro do Texas e esposa perdidos no mar

 

 

 

O serviço da guarda costeira de Dry Tortugas anunciou ontem à noite ter abandonado as buscas de T.A. Gentry IV e de sua esposa, Kay, proprietários do rancho Gentry no condado de Castillo. O casal desapareceu no mar há cinco dias. De acordo com o porta-voz da guarda costeira, o casal estava de férias no iate de um amigo quando rompeu uma forte tempestade. Não foram encontrados sobreviventes nem restos da embarcação apesar da intensa operação de busca. Segundo o proprietário, o iate não estava equipado com o sistema de sinais EPIRB e os serviços de resgate confirmam não ter recebido chamadas de socorro.

O casal Gentry deixa três filhos: T.A. Gentry, de dezanove anos, Callon Aaron, de 17 e Abigail Josephine, de doze.

O funeral será celebrado na capela de Gentry Wells no dia vinte e um deste mês.

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Cinco Gentry desligou o telemóvel, pensando se teria feito bem ou se ainda o aguardaria alguma outra catástrofe.

Eram seis da manhã e o seu amigo e sócio Kyle Sullivan telefonara desde San Angelo para lhe pedir um favor. Um cliente precisava de protecção no seu rancho.

Era Frosty, um antigo companheiro do exército e, ao que parecia, estava metido num grande sarilho.

Mas isso era o que ele sabia fazer melhor: segurança e protecção. Um novo cliente para a empresa era uma boa notícia, já que, ultimamente, a sua vida estava um desastre.

Em consequência da frustrante conversa que tivera com os seus irmãos na noite anterior, Cinco encontrou-se de novo perante as campas vazias dos seus pais, quando o sol começava a espreitar pelas colinas do Texas.

Praguejando em voz baixa, pisoteou umas ervas com o pé e olhou para as duas campas que nunca lhe puderam dar uma resposta.

O que daria por poder perguntar aos pais uma ou duas coisas. Como, por exemplo, onde estavam eles há tantos anos atrás, durante a trovoada, ou que raio devia ele de fazer com os seus irmãos rebeldes.

As lápides de T.A. Gentry e da sua esposa, Kay Hempstead Gentry, ali colocadas unicamente como lembrança, estavam ali a rir-se na cara de Cinco há doze anos. Em lugar de lhe dar respostas, o eco das colinas do Texas lembrava-lhe permanentemente que nunca saberia a verdade.

Num lado do cemitério, a lua escondia-se no horizonte engrandecendo as sombras as árvores e o chão coberto de orvalho. No outro lado, o sol espreitava por cima de uma colina tingindo tudo de vermelho, mas Cinco nem reparava.

Desde o desaparecimento dos seus pais, ele tomava conta do rancho e controlava os seus irmãos. Mas estava disposto a abandonar o seu papel como pai de família se pudesse devolvê-lo a seu pai. Um pai que lhe ensinara que um homem tinha obrigação de ser tudo aquilo que pudesse ser. O mesmo pai cuja morte lhe roubara todas as possibilidades de realizar os seus sonhos, obrigando-o a voltar para casa. De modo que o seu trabalho era manter o rancho e cuidar de Cal e Abby. Embora nenhum deles percebesse que a sua vida não era o rancho mas sim a segurança.

Esse era o seu mundo. A segurança, cibernética ou pessoal; a empresa que dirigia com Kyle revelou-se um grande sucesso.

Se conseguisse convencer os seus irmãos de que ele sabia o que era melhor para eles…

 

 

Uma hora mais tarde, com a máquina do café ligada, a cozinha quente e os pratos no lava-loiças, Cinco começava a duvidar se devia ter dado mais indicações a Kyle para chegar ao rancho. O seu sócio não passava por ali há vários anos e podia estar perdido.

Nervoso, pegou no chapéu e nas chaves da carrinha e saiu da cozinha. Só havia uma estrada que chegava ao rancho e estava certo que os encontraria pelo caminho.

Mas quando saiu para o alpendre viu uma nuvem de fumo e, pouco depois, um Jaguar verde escuro que parava frente à casa. Ver um Jaguar no Texas era tão estranho como ver um cowboy encima de um elefante.

O rancho dos Gentry era um dos mais modernos do estado, mas não sabia que impressão podia dar a um rapaz da cidade como era o tal de Frosty. Cinco tentava distinguir a sua silhueta entre a nuvem de pó que o carro levantara, mas só pôde ver Kyle a abrir a porta e o passageiro de costas, tentando tirar qualquer coisa do banco de trás.

Tinha umas calças de cor caqui… mas não era um homem. Não podia ser um homem porque tinha o traseiro mais redondo e mais bonito que vira na sua vida. Que raio…?

Quando se aproximou, a dona do traseiro espreguiçava-se. Era uma mulher alta, de pele clara, com uns óculos de aviador que lhe tapavam parcialmente o rosto.

Ela era Frosty Powell? Uma mulher? Não podia ser. Não podia ficar no rancho. Então, Kyle aproximou-se e deu-lhe uma palmadinha nas costas.

– Fico contente por te ver, Gentry.

Cinco continuava a olhar para a jovem, que estava vestida com um blusão de aviador. Alta, com pelo menos um metro e setenta e cinco, a jovem tirou os óculos para observar a casa e as instalações que estavam à volta, antes de se virar para o olhar de cima abaixo.

Absurdamente, Cinco teve de resistir o impulso de limpar as botas nas calças de ganga. Nunca vira uma mulher como aquela. Parecia a rainha virgem. Era loura, com o cabelo preso numa trança que caía sobre o ombro esquerdo roçando os seus peitos, e uns olhos azuis cheios de energia que, naquele momento, brilhavam de irritação. O seu aspecto deixava claro que sabia cuidar de si.

– Frosty, apresento-te Cinco Gentry. Cinco, esta é a minha antiga…

– Frosty Powell? – interrompeu ele.

– Capitão Meredith Powell, Força Aérea Norte-Americana – disse a jovem, apertando-lhe a mão. – Muito prazer, senhor Gentry. E esqueça isso de Frosty. Kyle e eu conhecemo-nos há tanto tempo que, por vezes, ele até se esquece do meu verdadeiro nome.

Cinco apertou-lhe a mão, de boca aberta. A voz da tal Frosty era suave, musical, cheia de conotações secretas. Quando pronunciou o seu nome foi envolvido por uma surpreendente onda de desejo. E não gostava nada desse sentimento.

Apertava a mão com força, quase como um homem. Sem dúvida, a capitão Meredith Powell sabia o que queria.

Não se parecia com nenhuma outra mulher que tivesse conhecido antes. Então, lembrou o amor da sua vida, Ellen, a mulher que quis amar e cuidar para sempre. Morena, de cabelo comprido, os vestidos simples e femininos eram mais o seu estilo. A loura alta que tinha à sua frente não se parecia em nada.

Cinco tossiu um pouco para limpar o pó da garganta.

– Bom, vamos tomar um café.

– Espera, vou tirar a mala de Frosty – sorriu Kyle.

– Vamos para dentro – insistiu Cinco, agarrando-o pelo braço. – E depois tu e eu temos de conversar.

 

 

Quando Meredith entrou na casa sentiu-se como Alice no País das Maravilhas. Durante a sua carreira no exército fora destacada para muitos países e chegou a passar meses em bases do Terceiro Mundo. Mas aquilo… era como se alguém a tivesse posto num cenário de um filme do Oeste.

Com Cinco Gentry no papel do cowboy.

Kyle não lhe dissera que aquela zona do Texas era tão… autêntica. E Cinco, com esse nome tão estranho, também não era o que esperava. Com os seus jeans e o chapéu preto ligeiramente colocado para trás, era a viva imagem do protagonista de um filme de cowboys.

Tinha os olhos castanho-claro, mas quanto mais os olhava, mais escuros e inteligentes lhe pareciam. E essa era uma das razões pelas quais não podia ficar naquele rancho.

– Dá-me o teu casaco – disse ele, quando estava a guardar os óculos no bolso.

Pendurou-o junto com o de Kyle num cabide de madeira, sob o qual havia vários pares de botas, colocados como sentinelas.

– Obrigado.

– Vamos para a cozinha. Penso que o café já deve estar feito.

– Muito bem – tentou sorrir Meredith.

Por fora, aquele lugar parecera-lhe estranho, com vários edifícios de alturas diferentes. E por dentro era mais estranho ainda. Os móveis da cozinha pareciam feitos à mão e os electrodomésticos eram de aço, novos e muito limpos.

Uma das paredes estava completamente ocupada por uma lareira de pedra, com um buraco no qual cabia um homem de dois metros. No outro lado do quarto, janelas enormes que iam desde a bancada até ao tecto, com vasos que bloqueavam parcialmente as vistas. Uma cozinha moderna, naquele lugar esquecido pela mão de Deus, parecendo uma daquelas que se vêem nas revistas de decoração.

– Bonito rancho, não é? – perguntou Kyle.

Quando Meredith levantou a cabeça, viu que havia focos de halogéneo nas velhas vigas de madeira. Aquela mistura de modernidade e classicismo, ao mais puro estilo do Oeste, parecia-lhe incongruente.

– É… interessante. Mas é indiferente. Não preciso ficar aqui.

– Não vamos discutir outra vez, Powelll. A decisão está tomada.

– O que se passa? – perguntou, então, Cinco. – Qual é o problema?

– Não há problema nenhum. Frosty pensa que pode continuar a viver como se nada acontecesse quando há um psicopata à sua procura por todo o país. É só isso.

– Não penso continuar a viver como se nada fosse – replicou Meredith. Além disso, ia mudar de vida de qualquer maneira.

Ela e Kyle haviam discutido tantas vezes aquele assunto nos últimos dias que já estava farta. Mas talvez conseguisse convencer aquele cowboy, pensou.

– Olha Cinco, o dia em que aquele louco disparou contra o general na escadaria do Capitólio, à minha frente, era o meu último dia no exército. Já me havia retirado oficialmente porque acabava de aceitar um posto de piloto na companhia aérea Transcon Air. Mas agora a polícia perdeu o rasto ao psicopata e a empresa só aceitou conservar o meu lugar durante umas semanas – explicou, com um suspiro. – Portanto, diz-me: como é que o louco de Richard Rourke vai saber onde eu estou se vou estar a voar de um lado para o outro?

– Rourke é doido, mas não é parvo – contestou Kyle. – O FBI pensa que tem contactos com vários grupos terroristas e esses grupos têm acesso a informação confidencial. Como é que vais evitar que te encontrem? De certeza que até deste o teu número de segurança social à companhia.

Meredith abriu a boca para protestar, mas Kyle interrompeu-a com um gesto.

– Cinco, tu achas que uma mulher como ela seria capaz de se esconder em Washington sem que ninguém a visse?

Cinco olhou-a sem dizer nada. Mas aquele olhar fez com que ficasse nervosa, coisa que não acontecia com frequência.

– Espera um minuto, Kyle. Quem é que tu pensas que és para…

– Tu és a testemunha que pode identificar Richard Rourke como o assassino do general Van Derring? – interrompeu Cinco.

– Assim parece – suspirou ela.

– Todo o exército está à procura desse homem e tu és a única pessoa que o pode identificar. E não me parece que Rourke seja, de todo, parvo.

– Queriam incluí-la no plano de testemunhas protegidas – explicou Kyle. – Mas eu convenci o FBI de que conhecia um homem que poderia velar pela sua segurança tão bem quanto eles… mas com menos restrições.

Cinco assentiu, como se estivesse certo de que o seu rancho era uma fortaleza inexpugnável, e Meredith soltou um longo suspiro. Só tinha duas opções: uma prisão federal ou aquele rancho. Era claro onde ia ficar, mas não achava piada nenhuma.

O cowboy sorriu, então, pela primeira vez, mas a covinha que aparecia na sua bochecha esquerda não aliviou o seu mau humor.

– Estarás muito mais segura e mais feliz aqui, querida – disse-lhe, com o sotaque mais sulista que alguma vez ouvira.

– Sim, claro.

Embora não fosse assim tão claro. Certamente, estaria melhor numa prisão federal do que confinada a um rancho com um autêntico «cowboy solitário» como guarda.