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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Harlequin Books S.A.

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma beleza inalcançável, n.º 610 - julho 2019

Título original: Taming the Beastly MD

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-503-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Quem é quem

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Quem é quem

 

 

 

 

 

MATTHEW GRAYSON: Cresceu rodeado de riqueza e privilégios, mas o seu passado deixou as suas cicatrizes, algumas externas e outras bem lá no íntimo. Emana uma segurança de si mesmo, arrogante e mal-humorado mas, como é o verdadeiro Matthew Grayson?

 

RITA BARONE: Apesar do seu considerável dote, dedicou a sua vida à enfermagem. Talvez o seu admirador secreto seja capaz de trazer à luz a mulher sensual que há dentro dela.

 

EMILY BARONE: Esta jovem prima dos Barone é perita em manter escondidos os seus sentimentos mais íntimos.

Prólogo

 

 

 

 

 

Era um facto que as coisas eram mais lentas nas salas de urgência dos hospitais de Boston durante os meses de Inverno e, no entanto, Rita não podia evitar verificar com assombro como estava especialmente concorrida a sala naquela gelada manhã de Fevereiro. Havia trabalho suficiente para manter todo o pessoal ocupado. E, decididamente, suficiente para se arrepender de ter concordado em trocar de turno para ajudar as outras enfermeiras. Normalmente, Rita trabalhava na Unidade de Cuidados Coronários, que era um passeio na avenida, quando comparado com as Urgências. Porém Rita tinha começado ali sua carreira no Hospital Central de Boston, por isso, de alguma maneira, era como voltar a casa.

Em casa, no entanto, não tinha que enfrentar gripes mal curadas nem unhas encravadas. Não. Quando Rita ia a casa, à mansão de Beacon Hill na qual tinha crescido, não a casa de pedra que dividia com duas das suas irmãs, os seus pais tratavam-na como a uma princesa. Na realidade, se assim o desejasse, poderia estar naquele preciso momento a viver como uma princesa. Quando os irmãos Barone completavam vinte e um anos, era-lhes entregue um milhão de dólares. Mas Rita, por muito absurdo que isso pudesse parecer, tinha preferido ser enfermeira em vez de princesa. Agora, depois de três anos a trabalhar no Hospital Central de Boston, concluía que tinha feito a escolha certa. Porque as princesas, pelo que sabia, não tinham muitas oportunidades de salvar vidas. E, para além disso, não tinham uma cobertura médica tão boa como a que Rita tinha.

– Desculpe, mas estou à espera há mais de meia hora – disse-lhe uma jovem que se inclinava sobre o balcão das enfermeiras, como se estivesse a certificar-se de que não havia nenhum médico ali escondido. – Quanto mais é que tenho que esperar até que alguém me venha ver?

– Já não muito – respondeu Rita, sabendo que estava a ser demasiado optimista. – Esta epidemia de gripe afectou muita gente.

Para além disso, e como era lógico, eram obrigados a atender primeiro os casos mais graves. Com febre moderada, pouca tosse e nenhum familiar médico, aquela mulher ia ter que esperar ainda um bom bocado.

Por outro lado, estavam à espera de uma ambulância cuja chegada tinha sido anunciada minutos antes. Um vagabundo tinha sofrido um ataque de coração não muito longe do hospital. Rita já tinha informado a Unidade de Cuidados Coronários, aí seria encaminhado para o melhor médico, o Dr. Matthew Grayson, uma verdadeira lenda no Hospital Central.

Em abono da verdade, a sua fama não se devia exclusivamente ao seu talento como cirurgião cardiovascular. Não, parte do seu estatuto era mais de conto de fadas que de lenda. Porque o Dr. Grayson era muito parecido com um personagem de um conto. Com o monstro de «A bela e o monstro». Não era só pela sua atitude, embora fosse verdade que esta já tinha sido descrita como «monstruosa» por mais de uma enfermeira. Rita mal conhecia o Dr. Grayson, mas estava convencida de que ninguém na Unidade de Cuidados Coronários, nem no resto do hospital, conhecia verdadeiramente aquele homem.

Rita nunca tinha tido nenhum desentendimento com o Dr. Grayson, como muitas outras das suas colegas, mas compreendia porque é que os outros o consideravam uma pessoa muito difícil. Às vezes era desagradável a extremos inconcebíveis, mesmo quando estava de bom humor.

As cicatrizes que tinha na cara e no pescoço, no lado esquerdo, contribuíam para a sua aparência de monstro. Rita não sabia como é que as tinha feito. O Dr. Grayson nunca falava delas, e os que o rodeavam também não puxavam o assunto. De qualquer modo, aquelas cicatrizes tinham-no deixado definitivamente marcado. Era óbvio que se tinha submetido a mais do que uma operação, mas nem sequer os cirurgiões plásticos eram capazes de fazer milagres. Rita estava convencida de que o Dr. Grayson estava marcado para sempre.

Mas não podia ter a certeza de que fosse realmente um monstro. Era verdade que intimidava bastante, mas também era um profissional dedicado que salvava muitas vidas. Rita admirava e respeitava a sua capacidade como cirurgião e imaginava que, provavelmente, teria as suas razões para ser sempre tão desagradável. Fosse como fosse, nunca tinha mostrado essa atitude para com ela. Na realidade, até evitava cruzar-se no seu caminho, o que para Rita parecia perfeito.

Fosse como fosse, era preciso muito mais do que uma cara marcada e um carácter difícil para intimidar Rita Barone. Era a penúltima dos oito irmãos de uma conhecida família de Boston, por isso, não teve outra alternativa senão aprender depressa a tomar conta de si mesma e a não permitir que as coisas a afectassem. Tinha crescido com quatro irmãos mais velhos que se tinham comportado como autênticas bestas, sobretudo quando alcançaram a puberdade.

Como se lhe tivesse lido o pensamento, o Dr. Matthew Grayson apareceu então em frente ao balcão das enfermeiras, com a bata branca a flutuar atrás de si sobre umas calças escuras. Usava também uma camisa branca e uma gravata discreta em tons de azul.

– Ainda não chegou o paciente do enfarte? – perguntou de repente, sem sequer a cumprimentar antes, quando se deteve em frente de Rita.

– Deve estar a chegar a qualquer momento – respondeu ela.

Rita pensou que, se não fosse pelas cicatrizes na cara, seria um homem extremamente atraente. Media cerca de um metro e oitenta e cinco, bastante mais do que ela, que, com o seu metro e setenta e sete, não estava habituada a que a ultrapassassem. Se a aquela altura se acrescentava a sua constituição atlética, uns olhos verdes sonhadores, um cabelo cor de avelã com reflexos dourados e os fatos caros de marca pelos quais costumava optar, reuniam-se todos os ingredientes para ser uma estrela de Hollywood. Apenas as cicatrizes estragavam a sua perfeição.

E no entanto, pensou Rita, de alguma maneira, aquelas marcas tinham algum charme. Conseguiam que a sua beleza não fosse demasiado perfeita, e faziam-no parecer mais humano.

Embora naquele momento parecesse mais um deus, com aquela altura. Rita lutou contra a tentação de se pôr de pé, e ficou sentada onde estava, como se a sua presença não a afectasse. E não a afectava, a não ser pelo ritmo do seu coração que se tinha multiplicado por quatro desde o momento em que o viu dirigir-se a ela.

Mas, que outra coisa podia o seu coração ter feito? Esperavam um homem com um enfarte a qualquer momento, e o Dr. Grayson estava preparado para a acção, e era lógico que a ela lhe acontecesse o mesmo, e isso não tinha nada a ver com o poder de atracção do médico. Quando ouviu a sirene que anunciava desde o exterior a chegada da ambulância, Rita levantou-se da cadeira e contornou o balcão com o Dr. Grayson sempre no seu encalço.

Os paramédicos entraram aos gritos e em grande agitação, transportando um homem de idade que se queixava de dores enquanto agitava os braços. Rita apercebeu-se de que estava muito sujo quando se aproximou para conduzir a equipa para a sala de observação. E também assustado. Colocou-se ao seu lado e, instintivamente, agarrou a mão do homem, arrependendo-se um pouco quando ele apertou a sua com todas as suas forças.

– Não se preocupe – disse Rita quando chegaram a uma sala pequena. – Vai ficar bom – garantiu, embora não tivesse muita certeza disso. – Aqui temos tudo o que é preciso para o ajudar. Vamos tratá-lo muito bem.

O homem deixou então de tentar fugir dos enfermeiros e deixou também de gritar. Quando se voltou para olhar para Rita, tinha a respiração agitada e os olhos cheios de medo.

– Quem… quem é a menina? – murmurou, antes de se contorcer de dores.

– Chamo-me Rita – respondeu ela, colocando a sua outra mão sobre a que o homem tinha bem agarrada.

Com toda a discrição de que foi capaz, tomou-lhe o pulso. Não queria que se voltasse a assustar. Não estava tão acelerado como tinha imaginado, dadas as circunstâncias, mas continuava a ser muito rápido.

– A menina é… médica? – perguntou o homem com dificuldade.

– Não, sou enfermeira – respondeu Rita, enquanto se apercebia da actividade que se desencadeava à sua volta. – Mas o médico está aqui. O senhor está numa sala de urgências do hospital central de Boston, e teve um enfarte. Agora vou medir-lhe a tensão. Não vai doer – apressou-se a dizer quando o homem abriu a boca com intenção de voltar a gritar. – Garanto-lhe. Mas tem que nos deixar examinar o seu estado de saúde.

– Já o estabilizámos – afirmou um membro da equipa de paramédicos. – Mas ainda não está fora de perigo. Nem pouco mais ou menos.

Rita dirigiu ao rapaz um olhar de censura. A última coisa de que aquele homem precisava era de ouvir que ainda estava em perigo.

– Vou… vou morrer? – perguntou o homem num murmúrio.

– Não – respondeu Rita, apertando os dentes sem tirar os olhos do rapaz da equipa de paramédicos, que se limitou a encolher os ombros. – Vai ficar bom. Como é que se chama?

– Joe – respondeu o homem após uns segundos, ainda morto de medo.

– Tem família, Joe? – perguntou Rita, enquanto os outros o ligavam a um monitor e lhe colocavam uma máscara ligada a uma garrafa de oxigénio. – A quem é que podemos telefonar para que fique mais acompanhado?

O homem sacudiu a cabeça enquanto aspirava o ar da máscara.

– A ninguém. Não tenho família – respondeu com uma voz ainda mais fraca do que antes. – Mas… mas a menina faz que… faz com que me sinta melhor – conseguiu dizer a muito custo.

– Muito bem, Joe – disse então Rita com um sorriso. – Então, eu fico aqui ao seu lado. O que é que acha?

– Isso seria muito bom – afirmou ele, assentindo levemente. – Não… não se vá embora.

– Não me vou embora – prometeu Rita.

O homem esboçou um sorriso de agradecimento, mas estava claramente a ficar sem forças. Rita rezou em silêncio para que se pusesse bem. Não sabia nada dele, excepto que não tinha casa nem família e que o seu nome era Joe. E também sabia que era um lutador, um sobrevivente, e não lhe restava outra alternativa senão admirá-lo por isso. Se Deus quisesse, sobreviveria agora também.

– Este é o Dr. Grayson – disse Rita, indicando com a cabeça o cirurgião que estava do outro lado da sala. – Já o vem ver. É muito bom. É o melhor.

Rita levantou a vista e apercebeu-se de que o Dr. Grayson a estava a observar atentamente, como se quisesse perguntar-lhe alguma coisa. Ela abriu a boca para lhe perguntar o que queria mas, nesse momento, Joe começou a gritar e a agitar-se de novo. Pensando que as dores tinham regressado, Rita voltou-se para o atender, mas não eram as dores que tinham provocado aquela reacção. Joe olhava directamente para o Dr. Grayson e tinha reunido forças para levantar o braço e apontar para as cicatrizes da cara do outro homem.

– Não o deixe… não o deixe aproximar-se de mim – disse Joe, muito agitado. – Não é… não é humano. É um monstro.

O Dr. Grayson ignorou aquele comentário e aproximou-se dele. Mas antes de que lhe pudesse tocar, Joe começou a esbracejar.

– Vá-se embora! Vá-se embora!

– Joe, por favor… – Rita tentava acalmá-lo.

– É uma delas! – exclamou o vagabundo, apontando para o médico. É uma das gárgulas de Saint Michael! Às vezes… às vezes perseguem-me… em sonhos… para me levar para o inferno. São monstros! Vá-se embora!

– Acalme-se, Joe – disse Rita, agarrando-lhe os braços com firmeza. – O Dr. Grayson está aqui para o ajudar. É um excelente cirurgião e um homem maravilhoso. Ninguém lhe vai fazer mal. – Garantiu, agarrando-o ainda com mais força. – Prometo. Eu estou aqui ao seu lado, e não deixo que ninguém lhe faça mal.

As suas promessas pareceram tranquilizá-lo. Ou talvez estivesse demasiado cansado e demasiado dorido para continuar a debater-se. Rita renunciou a comportar-se como uma enfermeira e deixou que outra colega se encarregasse das necessidades médicas de Joe. Ela voltou a pegar-lhe na mão e apertou-a com força enquanto lhe murmurava palavras tranquilizadoras, garantindo-lhe que ia ficar bom, agora que o Dr. Matthew Grayson se ia ocupar dele.

E Rita tinha a certeza de que ele se ia recuperar, precisamente por essa razão.

Quem é que não se curaria com os cuidados de um homem assim?