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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 2000 Penny Jordan Partnership

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma noite perfeita, n.º 594 - novembro 2019

Título original: A Perfect Night

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-581-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Assim que Sebastian Cooke ultrapassou a placa da estrada que dizia «Haslewich. Conduza com cuidado», um misto de remorso e autocrítica toldou-lhe o raciocínio, apagando a sensação de triunfo que acompanhava o seu regresso à sua cidade natal.

Tinha trinta e oito anos e acabava de ser contratado por uma multinacional da indústria química para chefiar o departamento de pesquisa de novos remédios, instalado nas proximidades. Não era pouco para quem, na juventude, fora estigmatizado por um dos seus professores como «mais um produto inútil da família Cooke».

Graças a muito trabalho árduo e investimentos felizes, Sebastian acumulara uma quantia substancial no banco, e agora encontrava-se no topo da carreira profissional como cientista e investigador. Só por isso, imaginou, os aristocráticos Crighton, que dominavam a sociedade local, teriam de o receber bem, embora não os visse há muitos anos.

Na verdade, precisava de ser bem sucedido para compensar os aspectos negativos da sua existência.

– Que aspectos negativos? – perguntara-lhe o seu primo Guy Cooke, quando discutiam o motivo do seu iminente regresso a Haslewich.

– Para começar, um casamento prematuro, seguido do previsível divórcio.

Com o sobrolho franzido, Guy argumentara:

– O divórcio não é pecado, Sebastian, sobretudo no nosso meio. Pelo que me contaste, a tua ex-mulher casou-se de novo e é feliz. Vocês até se saíram bem.

– Ah, sim! Tanto do ponto de vista de Sandra como do meu, o divórcio foi a melhor coisa que podia ter-nos acontecido. Não lamento ter-me casado cedo e pelas razões erradas, mas Sandra começou a acusar-me de ser egoísta e desqualificado para ser marido e pai, quando tudo o que eu fazia era trabalhar para garantir o conforto dela.

Guy e a mulher, Chrissie, tinham trocado olhares cúmplices, típicos de um casal que se ama. Deviam pensar que Sebastian era mesmo um egoísta ao empenhar-se além do normal nas suas pesquisas químicas, a ponto de perder contacto com a própria filha, Charlotte, depois da separação.

Eles tinham testemunhado o processo de derrocada daquele casamento, assim como Sebastian vira, com uma ponta de compreensível inveja, a felicidade do primo crescer de dia para dia, sobretudo depois de Chrissie lhe ter dado um filho.

Esse era o maior orgulho de Guy. Sebastian, no entanto, fora incapaz de vibrar com o nascimento de Charlotte e participar da educação da menina.

– Pelo menos agora, tu e Charlotte são muito unidos – comentara Chrissie, amável.

– Sim, mas mais graças à maturidade dela do que às minhas qualidades como pai. A minha filha podia ter-se negado a receber-me, quando lhe escrevi a propor visitas regulares. George, o segundo marido de Sandra, exerceu muitíssimo bem o papel de pai.

– Talvez sim, na prática – replicara Guy. – Mas tu és o pai biológico, e basta olhar para Charlotte para ninguém duvidar disso.

– Bem, acho que os meus genes prevaleceram na aparência dela.

– E no cérebro, também – afirmara Chrissie, a rir.

– Vocês sabem que conheci Sandra na universidade, por isso, sempre pensei que Charlotte tinha herdado um pouco da inteligência dos dois. Fiquei surpreendido quando ela optou por seguir a mesma carreira que eu.

– E agora que está a estudar em Manchester, perto daqui, poderás vê-la com mais frequência.

– Assim espero, Guy. Aos dezoito anos, Charlotte é quase uma adulta, independente e com amigos próprios. Mas ainda precisa de apoio e orientação, sobretudo agora que Sandra e George decidiram ir para o estrangeiro.

– Gostaríamos de hospedar Charlotte aqui, nos feriados – declarara o primo, sob o olhar aprovador da mulher. – Mas desconfio que ela ficará um bocado assustada com a fama da família Cooke.

A família Cooke! Como Sebastian odiara o peso daquela reputação, em criança! Claro, não estava sozinho nesse sentimento. Guy também tivera a sua parte de sofrimento, dividido entre as suas necessidades interiores e as expectativas dos outros. Mais tarde, com a sorte de ter encontrado uma companheira como Chrissie, conseguira reconciliar-se com a sua história familiar.

Sebastian sabia que, sem o incentivo de ter a filha por perto, não se daria ao trabalho de voltar à sua terra natal, uma pequena e histórica cidade do condado de Cheshire, na qual a árvore genealógica dos Cooke fora plantada há séculos atrás, a partir da sedução de uma camponesa local por um soldado romano.

De geração em geração, os frutos dessa união construíram a sua fama, nem sempre do lado correcto da lei e dos bons costumes. Houvera épocas em que «Cooke» se tornara um apelido pejorativo, sinónimo de facínora ou criminoso.

Porém, esses dias já iam longe. Pelo que Sebastian sabia, os seus parentes actuais faziam parte da linha de frente dos cidadãos honestos de Inglaterra. Por meio de uma teia de casamentos, integravam-se em muitas camadas respeitáveis da sociedade e já não eram vistos como arrivistas ou perigosos.

Ainda assim, a depravação de alguns ancestrais marcara a consciência colectiva de Haslewich. Os homens de sobrenome Cooke conservavam a fama de seduzir e engravidar as jovens incautas da região. As mães benziam-se ao cruzarem-se com eles na rua.

Esse fora um dos motivos que tinham levado Sebastian a mudar-se de Haslewich para a cidade grande assim que lhe fora possível. Dono de uma personalidade forte desde criança, não aceitava o mau agouro que o seu apelido carregava. Estimulado pelo avô, um farmacêutico que cultivava plantas medicinais, optara pela profissão de químico e investigador.

A universidade libertara-o das limitações de um lugar provinciano, mas, ao concentrar-se na carreira, desenvolvera o seu lado egocêntrico, em detrimento das relações familiares e pessoais.

Dera-se conta disso ao ouvir os comentários de duas colegas de trabalho, no laboratório adjacente ao seu:

– Acreditas que ele não vê a própria filha há cerca de dez anos?

– Isso acontece. Em geral, os homens divorciados perdem o contacto com os filhos, que costumam ficar a cargo das mães.

– Eu sei, mas Sebastian parece não se incomodar com isso. Será que não tem sentimentos?

Naquela noite, chocado, ele analisara aquela conversa mentalmente, no apartamento onde vivia sozinho. Fizera a mesma pergunta a si mesmo e a resposta afligira-o.

Sim, possuía um coração e preocupava-se com a filha, ainda mais depois de constatar que Charlotte era a sua imagem feminina em miniatura.

Charlotte não só tinha traços semelhantes aos seus, como também possuía o mesmo temperamento e estrutura emocional. Estava a crescer para se transformar numa mulher forte, independente, cheia de personalidade e determinação.

Não fora fácil, contudo, restabelecer os laços de afecto com ela. Charlotte mostrara-se gentil e amistosa desde a primeira visita, mas parecia temê-lo, como que a proteger-se de qualquer desgosto eventual. Era impossível culpá-la.

Entretanto, tinham passado três anos. A rapariga tornara-se uma parte importante da sua vida e, mesmo assim, Sebastian notava algumas reservas nela. Tinha consciência de que nenhuma amabilidade, nenhum remorso que demonstrasse, poderia apagar todo o passado.

Sandra, a sua ex-mulher, tivera dois filhos com George, e Charlotte estava muito bem integrada numa família amorosa. Mas continuava a ser sua filha e, como tal, uma Cooke.

– São tantos parentes, papá! – exclamara Charlotte, maravilhada, ao ouvir as histórias que Sebastian lhe contara, numa das suas visitas. – Parece que temos laços de sangue com metade da população de Haslewich!

– No mínimo – concordara Sebastian, com óbvio exagero. Ao contrário de Charlotte, ele mostrava-se incomodado com a sua herança de sangue.

As coisas ali tinham mudado muito, segundo Guy. A cidade crescera e expandira-se, para abrigar um novo fluxo de habitantes. O centro histórico, foco de turismo interno, fora cercado de casas amplas e modernas. E, apesar da miscigenação, as mulheres remanescentes dos Cooke ainda marcavam presença por ali, participando da Câmara Municipal, gerindo lojas e ensinando crianças nas escolas.

– Parte dos descendentes de Ruth Crighton são Cooke por parte de pai – explicara Guy, – mas a maioria das raparigas vai para a universidade e segue carreira longe daqui.

Sebastian sabia a quem o primo se referia. Quem, em Haslewich, não conhecia os Crighton? Assim como os Cooke, eles também tinham sido pioneiros, embora tivessem chegado mais tarde. Chrissie era aparentada com eles, facto que só viera à tona quando se envolvera com Guy.

Sebastian não encontrara a casa que desejava, por isso optara por viver temporariamente numa das casas que a empresa cedia aos seus altos funcionários. Desse modo, ganharia tempo para procurar melhor.

– As rendas são caras em Haslewich – alertara-o Guy. – Por culpa do laboratório farmacêutico Becker, para o qual tu trabalhas. Trouxe prosperidade à região, ao instalar-se aqui, mas inflacionou os preços de tudo. E já temos vários ambientalistas a protestar contra a poluição química.

Sebastian estava a par desse perigo, mas preferia o progresso.

 

 

Ao entrar na zona urbana, Sebastian diminuiu a velocidade. Programara-se para fortalecer a sua relação com Charlotte, porque assim afastaria o resto de culpa por ter sido um pai ausente, mas o regresso trazia-lhe lembranças dolorosas.

Distraído, quase atropelou uma mulher que atravessou a rua deserta, à frente do automóvel. Travou e impressionou-se com a expressão assustada da vítima, que arregalou os olhos. A figura esguia e bonita vestia roupas leves de Verão e os braços nus ergueram-se no ar, primeiro na defensiva, depois em sinal de protesto.

Maldição! O que é que se passava com aquela rapariga para se materializar assim, de repente, diante do seu Mercedes? Se os travões não estivessem em condições, podia ter havido um acidente grave.

Sebastian estremeceu de susto, mais do que a pedestre, antes de sentir um assomo de raiva e soltar uma imprecação em voz alta.

Engatou a primeira e distanciou-se dali.

 

 

Katie Crighton censurava-se pela imprudência de caminhar distraída pelas ruas centrais de Haslewich, a observar as lojas e construções antigas, mas não podia evitá-lo. O passeio não aliviava a sua infelicidade por estar a cumprir a intimação do pai e do irmão para se instalar ali, no velho território familiar. Além disso, um conflito sentimental ocupava-lhe o íntimo.

Tinha vinte e quatro anos, era saudável, estava no início da sua carreira de advogada e cedera aos argumentos para ajudar o pai, Jon, que se encontrava sufocado de serviço. O seu irmão mais velho, Max, avisara-a que Jon ficaria muito desapontado, caso tivesse de contratar ou oferecer sociedade no escritório a um estranho.

– Se fores trabalhar com Jon e Olívia, além de dares uma grande alegria ao nosso pai, ganharás uma experiência preciosa para garantires o teu futuro na profissão.

– Concordo, Max, mas todos parecem esquecer que já tenho emprego.

– Eu sei disso, Katie, mas não sou cego. Alguma coisa anda mal contigo. Não te perguntarei nada, porque, mesmo sendo o teu irmão mais velho, não tenho o direito de te aconselhar. Mas preocupo-me contigo desde que Louise se casou com Gareth e te deixou sozinha.

Katie ressentira-se desse comentário. Por temperamento, era mais inclinada à solidão do que a irmã gémea, Louise, casada com o garboso professor Gareth, a quem Katie amava.

Sentia-se grata por ninguém conhecer o seu segredo vergonhoso. Não importava que já gostasse de Gareth à distância muito antes da irmã ter começado a namorar com ele. Louise merecia toda a felicidade do mundo.

Com estoicismo, Katie aceitara a frustração. Mergulhara no trabalho, no departamento jurídico de uma associação de caridade, sem imaginar que o destino lhe preparava outro golpe.

O seu chefe, que a escolhera entre os recém-formados da faculdade, reformou-se e o seu substituto, além de jovem e competente, era um homem bastante sedutor.

De olhos fechados, recordou por um instante a figura de Jeremy Sttaford.

Um dia, depois de lhe pedir para trabalhar até mais tarde, a fim de actualizar relatórios urgentes, Jeremy convidara-a para jantar, sob o pretexto de retribuir o esforço. Como fora ingénua ao aceitar!

Pelo que Jeremy contava da esposa e dos filhos, Katie presumira que ele tinha um casamento bem sucedido. Nunca lhe passara pela cabeça que imaginasse sequer quebrar os votos de fidelidade.

Naquela noite, porém, descobrira que se enganara. Durante o jantar, Jeremy não só se insinuara para ela além dos limites da cortesia, como também, à saída do restaurante, a enlaçara pelos ombros e tentara beijá-la.

Com um empurrão, Katie afastara-o, mas, para sua surpresa, ele não se desculpara, dizendo que se sentia atraído por ela e que isso era culpa dela, por tê-lo provocado. E, se era provocação admirar, numa pausa do expediente, as belas feições do chefe, então Jeremy tinha razão.

Diante dessa acusação, Katie retraíra-se no trabalho e passara a medir todos os seus gestos e palavras. O clima tornara-se pesado. O seu desempenho piorara e começara a ponderar a sério sobre uma mudança de emprego.

Contudo, não tencionava revelar nada disso a Max Crighton. Depois de dissipar a juventude em aventuras, que culminaram numa temporada na Jamaica a pretexto de procurar David Crighton, o desaparecido irmão gémeo de Jon, Max não só se convertera em marido e pai exemplar como também protegia com todo o amor os outros membros da família. Se soubesse que a irmã fora assediada, sem dúvida iria atrás de Jeremy para tomar satisfações.

No entanto, nem Katie nem o irmão eram crianças a disputar jogos no parque. Ela devia saber lidar com os seus próprios problemas, como mulher adulta e independente que era. A sua tristeza não decorria propriamente da solidão, mas do facto de ter de trocar o emprego que adorava, no qual se sentia útil à sociedade, por um posto vitalício na firma dos Crighton, em Haslewich.

Katie foi tirada destas divagações pelo ruído agudo dos travões de um veículo, que parou a dois metros das suas pernas. Paralisada de espanto, não protestou, reconhecendo que atravessara a rua distraída, sem ouvir o som do motor do Mercedes.

Pouco entendia de automóveis, mas podia avaliar o esforço do motorista para parar um carro tão potente. Por isso, murmurou um agradecimento inaudível, enquanto o ouvia a praguejar.

Mesmo com as feições alteradas pela raiva, o motorista era simpático e bem-parecido, notou. O fato escuro acentuava-lhe o cinzento dos olhos. A boca sensual era o ponto alto do seu rosto viril.

No entanto, nada disso compensava o susto que apanhara. Podia ter-se magoado de verdade. E era estranho que o homem, impaciente, desse continuidade à viagem assim que ela recuou para o passeio, sem ver se precisava de ajuda. Um canalha sensual ao volante, mas, ainda assim, um canalha!

 

 

Foi assim que começou o primeiro dia oficial de Katie em Haslewich.

Sofrera bastante ao deixar o seu emprego, apesar do mal-estar reinante entre ela e o chefe. Não estava segura de ter tomado a decisão certa, ao ir trabalhar para o interior, com os parentes.

-se a garantir-lhe que nada de grave acontecera.

– A Câmara Municipal devia ampliar a área proibida ao trânsito, mas…

– Mas? – Katie ergueu as sobrancelhas, à espera da explicação.

As ruas sinuosas e estreitas do centro urbano datavam da Idade Média e não comportavam veículos motorizados.

– Para não ferir os interesses comerciais, os vereadores têm vindo a adiar a aprovação da nova lei de trânsito. Propuseram uma espécie de eixo rodoviário, de custos altíssimos – explicou o advogado, indignado.

– Bem, isso deixaria os motoristas imprudentes e sensuais fora das ruas.

– Imprudentes e quê?

Katie corou de leve. Não devia ter usado um termo tão espontâneo e revelador.

– Nada, nada… – voltou a atenção para as pastas que o pai acabava de colocar na sua mesa.