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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Linda Lucas Sankpill

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Entre estranhos, n.º 646 - novembro 2019

Título original: Between Strangers

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-596-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

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Capítulo Um

 

 

 

 

 

Incrível. Parecia que conduzir até à próxima estação de serviço ia levar mais de três horas.

Ou melhor, levaria esse tempo se não ficasse retido por uma tempestade de neve, e se a polícia do estado não tivesse fechado todas as estradas secundárias do mesmo modo que fizera com a inter-estatal.

Lance White Eagle Steele aumentou o aquecimento do seu recém-adquirido utilitário, desejando ter um termo de café quente. Estava convencido que aquela estrada de duas faixas seria um bom atalho, rodeando grande parte da auto-estrada cortada pela neve. Nunca pensou que podia levar seis vezes mais a percorrer essa estrada gelada através do que se transformara num autêntico nevão.

Bom, pelo menos estava a caminho de casa. Ao pensar na calidez do rancho e da gente que esperava o seu regresso, apercebeu-se que mais quatro horas ou inclusive um dia extra não importariam muito. Ainda assim teria tempo de chegar a Montana para a festa anual da véspera de natal.

Durante uns segundos de frustração, em Ou’Hare, Lance preocupara-se pensando que perderia o Natal no rancho. Escolhera o pior momento. Chegara de Nova Orleães e planeara apanhar um avião até Great Falls. Só que, assim que chegou, todos os voos foram cancelados devido à tempestade de neve.

Mas as más notícias não cessaram aí. A zona norte do Médio Oeste estava igual, e segundo a previsão meteorológica, os voos continuariam atrasados durante alguns dias. Três frentes de baixas pressões sucediam-se umas às outras, cobrindo os céus e convertendo as grandes planícies em montanhas de neve.

As pessoas em Ou’Hare tinham começado a adormecer, esperando ficar ali encurraladas durante algum tempo. Mas Lance estava decidido a chegar a casa para a festa.

Bateu suavemente no peito à altura do bolso do seu blazer e o seu coração acelerou-se ao notar a caixa do anel que levava. Tudo seria perfeito. Sabia-o. Em breve a sua vida tomaria o caminho correcto.

Não fora difícil convencer o homem do rent-a-car a vender-lhe um utilitário ligeiramente usado para poder sair do aeroporto abarrotado de gente e dirigir-se a casa. As boas referências e a sua avultada conta bancária fizeram maravilhas para convencer o homem que toda a papelada da venda poderia ser enviada por fax duas semanas depois, quando os escritórios reabrissem depois das férias.

Lance tentou olhar para lá do pára-brisas, à medida que a tempestade piorava, bloqueando a vista da estrada pobremente iluminada. Acendeu os limpa pára-brisas e esfregou o cristal denegrido. Aquela estava a ser uma das piores tempestades de neve que vira. E em dez anos de viagem com os rodeos pelo oeste americano, vira bastantes.

Com a palma da mão, voltou a esfregar o cristal denegrido. O aquecimento estava a trabalhar a toda a velocidade e Lance agradeceu, em silêncio, estar ali dentro, quente, e não fora, à intempérie, sob o vento de Dezembro.

Limpou o vidro mesmo a tempo de ver e não chocar, graças a uma guinada, contra uma figura preta que havia a um lado da estrada.

– Merda – murmurou enquanto se colocava na faixa contígua.

Quando a ultrapassou, a figura preta transformou-se num ser humano que lutava contra o vento levando um fardo envolvido numa manta. Pelo espelho retrovisor, Lance avistou um carro na berma uns poucos metros atrás e imaginou que estaria avariado.

O pobre congelar-se-ia em pouco tempo lá fora. Já era azar. Lance conduzia há seis horas por aquela estrada e não vira viva alma suficientemente estúpida para estar fora com semelhante nevão.

Apesar de ter pressa para continuar, Lance não podia deixar alguém numa estrada solitária com aquele tempo. Durante uma emergência, havia que ajudar para sobreviver. Se ele tivesse tido uma avaria, teria esperado que alguém se detivesse para ajudá-lo.

Lance tinha bastante jeito para a reparação de carros, talvez pudesse ajudar o tipo a arranjar o seu. E talvez o atrasasse de novo no seu regresso a casa.

Parou no meio da estrada e, deixando o motor aceso, abriu a porta e saiu. Uma forte rajada de vento árctico golpeou-o enquanto o gelo crepitava sob as suas botas. Agarrou o chapéu de cowboy e começou a observar através da neve enquanto lutava por retroceder os metros que o separavam do condutor em apuros.

Apesar da neve cair com muita intensidade, conseguiu ver a pessoa que se aproximava dele, e ficou assombrado ao ver que se tratava de uma mulher.

Tinha a cabeça coberta por um cachecol cinzento. E ia carregada com um fardo que cobrira com um velho cobertor do exército.

Aproximou-se mais e por fim Lance pôde ver-lhe os olhos. Eram castanhos, com um brilho excessivo para a pouca luz que havia naquela tempestade. Tinha a cara magra e os lábios apertados devido ao esforço para respirar.

A sua roupa estava coberta de neve e a cada segundo que passava estava mais molhada. Não levava maquilhagem mas tinha a pele suave, e o pouco cabelo que lhe podia ver era como um halo dourado em redor da sua cara. Parecia um anjo angustiado.

A mulher devia estar totalmente louca para estar ali com aquela tempestade. Ou talvez estivesse drogada. Lance pensou que teria de ter cuidado com ela.

– Que tem o teu carro? – gritou ele por cima do vento.

A ela ainda lhe custava respirar. O bafo desenhava-lhe os suspiros no ar frio.

– Temo que esteja avariado – disse ela. – Sei que tem gasolina de sobra, e carreguei a bateria há pouco em Minneapolis. Mas parou no meio da estrada. E, após desviar-me para o lado, o motor negou-se a funcionar. Não pega quando giro a chave. Não pega de todo.

– Entra no meu carro antes que congeles – gritou ele. – Darei uma olhadela. Dá-me as chaves.

Enquanto se aproximava, os olhos da mulher tornaram-se cautelosos e desconfiados.

– Tenho… – começou ela entregando-lhe as chaves, sustentando a carga que levava.

«Pelo amor de Deus», pensou Lance. Fosse o que fosse que levava com ela, não valeria tanto como a sua vida. Porque não pousava o fardo no chão e vinha buscá-lo depois?

Lance regressou ao carro e abriu a porta traseira.

– Pousa-o no banco traseiro e mete-te no carro já.

Ela olhou-o fixamente e negou com a cabeça.

– Tenho que mantê-la junto do meu corpo até que aqueça.

Ela retirou ligeiramente uma pequena porção da manta para mostrar-lhe a parte de cima de um gorro de lã de bebé que cobria quase totalmente uma cabeça loira.

Lance quase perdeu o equilíbrio enquanto se apressava a ajudar a mulher e a filha a sentarem-se no banco junto do aquecimento. Que teria dado àquela mulher para levar uma menina pequena com ela com semelhante tempestade?

 

 

Apesar de sentir-se um pouco assustada e indecisa em aceitar a ajuda de um desconhecido, Marcy Griffin não tinha outra opção a não ser entrar no carro daquele cowboy. Mais quinze minutos à intempérie e a bebé congelar-se-ia e apanharia uma pneumonia.

Era uma decisão terrível: arriscar-se a relacionar-se com um estranho que podia ser um maníaco, ou colocar em perigo a vida e a saúde da filha. Na verdade não havia muitas opções.

O homem com chapéu de cowboy fechou a porta e dirigiu-se ao seu carro. Marcy olhou para a filha e viu que continuava a dormir placidamente.

Seria muito melhor se Angie dormisse todo o tempo que aquilo durasse. Marcy sabia que a filha tinha fome, frio e que estava cansada, e desejava com toda a alma que as coisas pudessem ser diferentes, pelo bem da filha.

Mas pelo menos as duas continuavam vivas. E de um modo ou outro encaminhavam-se para uma vida melhor. Isso era o mais importante nesse momento.

Dez minutos depois, quando Marcy começava a sentir os dedos de novo, o cowboy abriu a porta do banco de trás e começou a instalar a cadeirinha de Angie.

– Tens razão – disse ele. – O carro avariou-se.

– Se vamos viajar contigo, podias trazer as coisas da Angie, por favor?

– Coisas?

– Fraldas, biberões, bledines… – disse Marcy. Não podia ver-lhe a expressão da cara com o chapéu, mas imaginava que estaria a pensar no seu azar ao ter parado.

– Trá-las-ei – murmurou ele. – Certifica-te que a cadeira da bebé está bem colocada e põe a tua filha nela. Volto já.

Marcy colocou sem esforço a menina, que se retorceu ligeiramente mas não chegou a abrir os olhos, na cadeira. Estava em silêncio há tanto tempo que Marcy colocou a bochecha na sua testa para assegurar-se que não tinha nada mau. Por sorte a temperatura de Angie parecia normal.

O utilitário do cowboy não era muito grande, portanto não lhe custou muito encher todo o espaço restante com as suas coisas. Uma vez que os três estavam instalados e de novo a caminho, Marcy fechou os olhos e agradeceu, em silêncio, pelo seu resgate.

Dirigiu um olhar dissimulado ao estranho que as salvara e decidiu agradecer-lhe ter sido o seu herói mas só quando estivessem sãs e salvas e ela tivesse a certeza que não era um assassino em série. Marcy estudou o seu perfil enquanto se concentrava na estrada.

Que tipo de homem era aquele?

Jogara o chapéu para trás para poder ver melhor através do pára-brisas. Ela lembrava-se do alto e corpulento que lhe parecera quando falaram na berma da estrada.

Nesse momento pôde comprovar que também tinha um corpo poderoso. Tinha o que podia descrever como uma presença imponente. Só com respirar parecia engolir todo o oxigénio que rodeava o seu corpo. Um homem que os demais respeitariam.

Graças a Deus. Talvez conseguissem sair a salvo da tempestade.

Olhando mais minuciosamente, observou o cabelo preto e ligeiramente comprido que assomava por baixo do chapéu, e rapidamente examinou as suas feições duras e o seu queixo forte. A iluminação não era boa, mas a pele bronzeada, as maçãs do rosto e o nariz romano indicavam que era um nativo americano.

Razão pela qual o primeiro que disse a surpreendeu muito.

– O meu nome é Lance Steele – disse ele sem olhá-la directamente. – Como devo chamar-te?

– Oh, desculpa, por favor. As coisas foram tão… – começou a dizer ela. – O meu nome é Marcy Griffin. E a minha bebé chama-se Angelina. «Angie», a maioria das vezes, salvo quando estou frustrada e quero chamar a atenção dela.

Nos nove meses de vida da filha, Marcy nunca estivera tão perto de desculpar-se simplesmente por estar viva, do modo em que o teria feito no passado.

Não tinha intenção de voltar a converter-se numa chorona de novo.

– A Angie está bem? – perguntou ele com um meio sorriso. – Não está doente, pois não?

– Está bem. Foi um dia muito longo para ela.

– Para onde vocês se dirigem? E em que diabo estavas a pensar para levar a tua filha com uma…? – começou ele, mas deteve-se e torceu a boca como se fosse dizer uma infinidade de palavrões. Teve de respirar fundo até recuperar o controlo. – Desculpa. Mas é que vocês deveriam estar num lugar quente e seco. E não fora, apanhadas por um dos piores nevões da história. Onde está o teu marido? Que dirá quando descobrir o perigo que vocês as duas correram?

A lembrança de Mike fê-la esquecer-se de ser cuidadosa antes de responder à pergunta de um cowboy que demonstrara amplamente que não era um maníaco.

– Se o meu ex-marido se importasse minimamente com o facto de ser pai, ou se alguma vez se tivesse incomodado em conhecer a bebé, tenho a certeza que não diria nada de bom do que fiz.

Cruzou os braços e olhou para a inóspita paisagem. Aquele pequeno discurso era mais do que contara a alguém em meses. E fora mais agressiva do que o necessário. Deveria utilizar um modo menos combativo de conhecer o seu salvador.

– Desculpa – disse ela com um suspiro. – Sei que não sabes nada sobre o meu divórcio. A Angie e eu estamos sós. Estou a tentar conseguir outro trabalho. É uma grande oportunidade. Mas temos de estar lá no dia um de Janeiro. Achei que tínhamos tempo de sobra mas…

– Quão longe fica esse novo trabalho? – perguntou ele.

– Não fica muito longe, em circunstâncias normais. Cheyenne, no Wyoming.

– Sim, sei onde fica. Passei muito tempo em Cheyenne.

– Vive lá? Não vais para lá agora, não?

– Não, vou para um rancho que há nos arredores de Great Falls. É a minha casa.

Proferira a palavra «casa» com tal reverência que Marcy soube que haveria alguma mulher felizarda à espera dele lá. Não pensou que fosse apropriado interrogá-lo mais, sobretudo quando estava a concentrar-se para poder encontrar o caminho para casa.

De repente ouviu-se um ruído seco que atravessou o som do vento. Lance travou e o carro parou a menos de meio metro de um enorme pinheiro caído no meio da estrada.

Os dois ficaram calados. Tudo ficou calmo durante o que pareceu uma eternidade, ainda que provavelmente só tenham passado uns segundos.

 

 

– Fica aqui. Vou tirá-lo do meio – disse Lance.

– É a árvore inteira?

– É só um ramo enorme. Cá me arranjarei – disse ele, saindo e fechando a porta.

Lance sabia que não devia descarregar as suas frustrações com uma perfeita desconhecida. Nada daquilo era culpa dela. O facto de aquele galho ter bloqueado a estrada não tinha nada a ver com ela estar no carro.

De acordo, não havia nada que desejasse mais que jamais ter visto aquela mulher com a sua bebé na estrada. Ele tinha o seu próprio horário e não tinha tempo para ocupar-se dos problemas de outra pessoa.

Mas o discurso dela sobre o ex-marido que a abandonara antes da bebé nascer enfurecera-o. Conhecera muitos tipos assim nos seus dias de rodeos. Homens que brincavam com as mulheres e depois desapareciam quando as coisas ficavam sérias.

Mas saber tudo isso não fazia com que ouvir a verdade dessa mulher fosse mais fácil. Era desprezível. A ideia de ter uma família e afastá-la do teu lado era algo que o punha furioso e dava-lhe vontade de bater em alguma coisa.

Por nada no mundo abandonaria aquelas duas pessoas na tempestade. Não sabia porque tinha sido tão azarado para encontrar-se com elas, mas parecia que o destino tinha feito das suas outra vez, mudando os seus planos. Pelo menos levá-las-ia até uma estação de serviço onde se asseguraria que estivessem a salvo.

Baixou o chapéu, envolveu-se no casaco e abandonou o calor do carro para enfrentar o frio polar. A temperatura devia ter descido vinte graus na última hora.

Tratou de não respirar muito profundamente, sabendo o muito que lhe arderiam os pulmões se o fizesse. Não se podia ser um rancheiro no norte de Montana sem estar ao corrente dos perigos dos longos e duros invernos da zona.

Ao chegar ao capô gelou-se-lhe o sangue ao comprovar que o ramo estava estendido ao longo das duas faixas, de modo que o carro não podia continuar. Além disso era um ramo pesado cheio de neve.

Não havia outra opção que afastá-lo do caminho, mas após um par de empurrões Lance percebeu que não poderia fazê-lo com as mãos.

– Posso ajudar? – disse Marcy.

– Disse-te para ficares dentro. A temperatura desceu muito. Volta para o carro.

– Nunca conseguirás mover algo tão pesado sozinho – disse ela. – Podemos utilizar o utilitário para empurrá-lo e tirá-lo do meio?

– Não – disse ele, mas a pergunta dera-lhe uma ideia.

Antes de comprar o carro, enquanto revia o compartimento onde se guardava a roda sobresselente ficara surpreendido ao ver uns cabos, uma pá, uma corda e um cobertor. O homem da agência dissera-lhe que era um equipamento standard que levavam todos os carros para o caso de emergência no inverno.

– Isso funcionará – murmurou para si mesmo.

Quando tirou a corda do porta-bagagens, Marcy voltara a colocar-se ao seu lado.

– Que vais fazer?

– Não podemos empurrar o ramo. Mas talvez possamos rebocá-lo o suficiente para poder prosseguir viagem – disse ele.

Como a maioria dos carros e camionetas novos, aquele não tinha um pára-choques de aço em condições. Mas tinha um gancho instalado sob o pára-choques traseiro.

Lance olhou para Marcy e observou o calafrio que percorreu o seu corpo. Não levava roupa adequada para aquele clima. O casaco que vestia estava gasto.

Era evidente qual dos dois faria aquilo.

– Achas que podes dar a volta ao carro para que fique virado para o outro sentido? Eu atarei a corda e assegurar-me-ei que se segure.

– Sim, sim, com certeza – disse ela.

Quando ela finalmente se instalou no banco do condutor, ele pôde relaxar-se. Pelo menos, os seus pés não correriam perigo de congelação enquanto estivesse dentro.

Ele desviou-se para um lado e guiou-a com movimentos de mão até ao ponto que considerou apropriado para mover o ramo. Após certificar-se que a corda estava bem atada ao carro e ao ramo, fez-lhe gestos para que avançasse. Ela desceu ligeiramente o vidro do co-piloto para poder ouvi-lo.

Tentou fazer avançar o carro mas as rodas patinaram no gelo. Não conseguiu que se mexesse nada.

– Deixa-me tentar – disse ele.

Em vez de passar por cima das mudanças, Marcy abriu a porta e saiu para dar a volta pela frente do capô até chegar ao banco do co-piloto. Levantou as mãos para tapar a boca do frio e pela primeira vez ele reparou nas suas luvas.

Ou melhor, na ausência de umas luvas adequadas. No início parecera-lhe que usava luvas de lã sem dedos. Mas de repente ficou surpreendido ao ver que havia buracos à volta dos dedos. Congelar-se-ia de certeza.

Marcy entrou no carro pela outra porta e ele colocou-se no banco do condutor. Levou mais cinco minutos a conseguir que o carro avançasse e tirasse o ramo da faixa. Dois minutos depois a corda já estava desatada e de volta ao porta-bagagens. Depois colocou o carro na direcção correcta para poder seguir o seu caminho.

Após passar o ramo, estacionou o carro. Virou-se para olhar para ela e disse:

– Marcy, dá-me as tuas mãos.

– O quê? – perguntou ela com estranheza ante tal petição.

Lance esticou as mãos e colocou as palmas para cima. Ela colocou as suas mãos lentamente sobre as dele, mas parecia indecisa e confusa. Foi tudo o que Lance pôde fazer para não se derrubar e rogar-lhe que fizesse o que lhe pedia com rapidez. Não queria assustá-la, mas aquilo era muito importante.