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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Susan Stephens

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma ilha para amar, n.º 1804 - novembro 2019

Título original: A Diamond for Del Rio’s Housekeeper

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-803-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Isto é uma praia privada…

Rosie teve de levantar o tom voz para que o homem que estava num barco a motor preto e se dispunha a ancorar a ouvisse. O homem parou por um instante e ela interpretou que a ouvira, mas que, por algum motivo, decidira ignorá-la. Abanar os braços também não teve efeito.

– «Malditos intrusos» – teria dito a doña Ana, a falecida idosa para quem Rosie trabalhara, se algum marinheiro se atrevesse a ancorar perto da sua ilha privada. – «Não podem nadar aqui! Esta é a minha ilha!» – teria exclamado, pondo as mãos nas ancas, até os visitantes se aperceberem de que não eram bem-vindos e se irem embora em busca de águas mais tranquilas.

Rosie sempre pensara que os visitantes não podiam causar muitos danos, se a única coisa que queriam era desfrutar da água cristalina e da praia de areia branca durante uma hora ou assim.

Ao ver que o homem olhava para ela fixamente, Rosie ficou tensa. O seu corpo reagiu de uma forma estranha, como se sentisse nostalgia e a personalidade forte daquele homem a tivesse cativado. O efeito era tão poderoso que parecia que estava muito mais perto.

Imediatamente, Rosie soube que devia enfrentá-lo ou fugir. Graças ao que, no orfanato, consideravam a sua maldita teimosia, conseguiu permanecer no seu lugar. Talvez não tivesse tido o melhor dos começos na vida, mas não era uma vítima e nunca seria.

E uma promessa era uma promessa… Prometera à doña Ana que manteria a ilha a salvo e isso era sagrado. No entanto, por muito intimidante que aquele homem parecesse, ela não permitiria que se aproximasse sem saber quais eram as suas intenções.

O homem tinha outra ideia.

Rosie sentiu que o coração acelerava ao ver que o homem espreitava pelo bordo, disposto a começar a nadar. Suspeitava que, para manter a ilha a salvo, precisaria de mais do que das suas boas intenções.

O homem atirou-se para a água e nadou para a areia. O seu aspeto de homem duro e desumano fez com que ela ficasse nervosa. Normalmente, a tripulação de um barco vestia um uniforme com o nome da embarcação escrito nele. E aquele homem não tinha nada que o identificasse, só um fato de banho curto. Além disso, devia ter cerca de trinta anos ou era mais velho do que ela, em qualquer caso.

Rosie tinha vinte e poucos anos. Nem sequer tinha a certeza de qual era a sua data de nascimento. Não estava registada. Os dados da sua vida tinham desaparecido num incêndio que acontecera no orfanato onde crescera, pouco depois da sua chegada. A sua experiência de vida estava limitada ao mundo estranho e isolado das instituições e à pequena ilha do sul de Espanha.

Rosie fora sortuda porque uma associação de beneficência, que trabalhava com jovens em situação de exclusão social, lhe oferecera um trabalho em Isla del Rey. O trabalho consistia em ser a acompanhante e governanta de uma idosa que, previamente, despedira outras seis empregadas. Não era uma oportunidade prometedora, mas Rosie teria aproveitado tudo para fugir do ambiente opressivo da instituição e a ilha oferecia-lhe um refúgio face à realidade dura do mundo exterior.

Um mundo que a ameaçava novamente. Rosie preparou-se para expulsar o homem dali. A doña Ana dera-lhe muito mais do que um teto e ela devia manter a ilha a salvo.

Contra todo o prognóstico, Rosie começara a sentir carinho pela chefe, mas ninguém teria imaginado que, num último ato de generosidade, a doña Ana deixaria metade de Isla del Rey à órfã Rosie Clifton em herança.

A herança de Rosie transformara-se num escândalo internacional. Não fora bem recebida entre os latifundiários, mas rejeitada por eles. Até o advogado da doña Ana inventara desculpas para não a receber e até a carta formal refletia ressentimento. Como era possível que uma simples governanta órfã passasse a fazer parte da aristocracia espanhola? Aparentemente, ninguém compreendia que o que Rosie herdara fora a confiança e o carinho de uma idosa.

O legado generoso da doña Ana transformara-se numa espada de dois gumes. Rosie começara a amar a ilha, mas não tinha um cêntimo em seu nome e não tinha uma fonte de receitas, portanto, mal conseguia sobreviver e também não poderia ajudar os ilhéus a comercializar os seus produtos ecológicos na península, tal como prometera que faria.

O homem chegara à areia. Tinha o peito nu e a água do mar realçava a sua pele bronzeada. Era uma imagem espetacular e Rosie pensava que não estava ali para lhe oferecer um empréstimo.

Rosie fracassara nesse aspeto. A única resposta que recebera para todas as cartas que enviara a possíveis investidores para a ilha fora o silêncio ou a brincadeira: «Quem era ela para além de uma simples governanta cuja experiência se reduzia à vida num orfanato?» Nem sequer podia argumentar contra aquilo, pois era verdade.

Olhou para ela fixamente e ela apercebeu-se de que era um homem capaz de abrir qualquer porta. Embora não aquela. Rosie cumpriria a promessa que fizera à doña Ana e continuaria a lutar para conservar a ilha. Na linguagem da doña Ana, isso significava que não entrassem visitantes e muito menos um homem que olhava para Rosie como se fosse um pedaço de lixo arrastado pelo mar. Mandá-lo-ia embora, tal como a doña Ana teria feito. Bom, talvez não da mesma forma, Rosie era mais persuasiva do que agressiva.

Ao ver que ele se aproximava, o coração de Rosie acelerou. Estava sozinha e sentia-se vulnerável. Ele escolhera o melhor momento do dia para lhe fazer a surpresa. Rosie costumava ir tomar banho de manhã, antes de os outros se levantarem. A doña Ana encorajara-a a adquirir esse costume e costumava dizer que Rosie devia apanhar um pouco de ar fresco antes de passar todo o dia em casa.

Agarrou na toalha da rocha onde a estendera para que secasse e tapou-se. Apesar disso, não estava vestida para receber visitas. A casa era a um quilómetro de distância por uma colina íngreme e ninguém a ouviria se pedisse ajuda…

Não precisaria de pedir ajuda. Era a doña de cinquenta por cento da ilha e os outros cinquenta por cento pertenciam a um «Grande de Espanha» que sempre estivera ausente.

Don Xavier del Río era o sobrinho da doña Ana, mas, visto que não se incomodara em visitar a tia durante o tempo que Rosie estivera na ilha e nem sequer fora ao enterro, Rosie duvidava que se incomodasse em fazê-lo depois. Conforme a doña Ana lhe dissera, ele era um playboy que vivia a vida ao máximo. E, para Rosie, era um homem sem coração que não merecia uma tia tão encantadora.

Aparentemente, no que dizia respeito aos negócios, era um homem de sucesso, mas, mesmo que fosse milionário, Rosie considerava que devia ter feito o esforço de visitar a doña Ana… Ou talvez fosse demasiado importante para se preocupar com os outros.

 

 

Não conseguia acreditar no que se passava. A rapariga que estava na praia estava a tratá-lo como um intruso.

– Tens razão – respondeu ele. – Esta praia é privada. Então, o que raios estás a fazer aqui?

– Eu sou… Quero dizer, vivo na ilha – informou-o, erguendo o queixo para tentar olhar para ele nos olhos.

Inclinou-se sobre ela. Era uma mulher bela, jovem e ágil, com o cabelo ruivo e uma expressão aparentemente cândida, mas, sem dúvida, desafiante e decidida. Estava pálida, mas mantinha a compostura. Sabia quem ela era. O advogado avisara-o de que não devia deixar-se enganar pelo seu aspeto de mulher inocente.

– O advogado enviou-te? – desafiou-o ela.

– Ninguém me enviou – respondeu ele, sem parar de olhar para ela.

– Então, porque vieste?

Os punhos cerrados eram o único sinal de que estava nervosa. Tinha coragem de o enfrentar, mas ele não era um perseguidor e ela era uma rapariga jovem e estava sozinha na praia, portanto, tentou manter a calma.

– Vim ver-te.

– A mim? – Pôs a mão no peito, mesmo por cima da toalha.

Nesse momento, uma brisa suave despenteou-lhe o cabelo e ele sentiu um desejo forte de lhe segurar o cabelo, de lhe deitar a cabeça para trás e de a beijar no pescoço.

Era uma mulher atraente, mas qualquer pessoa que fosse capaz de convencer a tia a deixar-lhe um lugar como aquele em herança devia ser mais conspiradora do que ela parecia.

– Temos de falar de negócios. – Olhou para a casa na colina.

– Só podes ser uma pessoa – concluiu ela. – Os advogados não mostraram nenhum interesse em mim, nem na ilha. Estão dispostos a permitir que a Isla del Rey vá para o inferno e eu com ela. Fecharam-me cada porta da cidade na cara, mas suponho que já saibas isso… don Xavier.

Ele permaneceu impassível. No dia em que fora lido o testamento que a tia deixara, os seus advogados tinham-no contactado para lhe prometer completa fidelidade. O gabinete trabalhara para a família Del Río durante anos e os advogados tinham-lhe assegurado que havia motivos para reclamar a herança, sem dúvida, esfregando as mãos ao pensar que receberiam mais honorários ao fazê-lo. Xavier rejeitara a proposta, decidindo que se encarregaria daquela situação e daquela rapariga.

– És o responsável por me terem fechado todas as portas da cidade? – perguntou a rapariga.

– Não – disse ele, com sinceridade. A tia sempre fora uma mulher maquiavélica e notava-se na forma como redigira a herança. Depois de conhecer a rapariga com que partilhava a ilha, suspeitava que a doña Ana devia ter desfrutado muito de lhe pôr obstáculos no caminho para reclamar uma ilha que devia pertencer-lhe por direito. – Está claro que os homens com dinheiro pensam como eu, que a responsabilidade de Isla del Rey não pode recair nas mãos de uma jovenzinha.

– Suponho que não estejas interessado na minha opinião – respondeu ela.

Ele pensou que lha daria de todas as formas. E acertou.

– Qualquer pessoa que tenha a sorte de ter parentes devia cuidar deles e não abandoná-los, por muito difíceis que sejam.

– Estás a meter-te comigo? – perguntou ele, divertido. – Sugeres que tenho tão pouco direito a reclamar a ilha como tu?

– Tens o nome e a fama. Porque é que a tua tia haveria de deixar a ilha que adorava mais do que qualquer outra coisa no mundo a um homem tão famoso como tu?

A franqueza do seu comentário fez com que ele ficasse em silêncio por um instante. Tanta franqueza era espantosa, mas também agradável. Supunha que o seu caráter cortante se tivesse forjado devido a uma infância difícil. Ela tivera de procurar uma forma de sobreviver e escolhera a lógica e a teimosia em vez da conformidade e da autocompaixão. Era valente. Não havia muitas pessoas dispostas a enfrentá-lo.

– Não vais responder?

Ele arqueou uma sobrancelha, mas o que ela dissera era verdade. A sua reputação pendia de um fio. Vivia depressa e com o estilo de vida que um negócio bem-sucedido lhe permitia. Não estava interessado no amor nem no carinho. Só lhe tinham causado desilusão no passado e já não tinha tempo para essas coisas. Esse era o motivo por que evitara a tia e a ilha. Não se sentia orgulhoso de admitir que a ideia de reavivar os sentimentos que experimentara por aquela mulher idosa quando era criança o mantivera afastado. Os pais tinham conseguido fazer com que odiasse tudo o que se relacionava com o amor. E ele fizera o que a doña Ana lhe pedira, ganhar dinheiro para fundar as empresas de que ela se teria sentido orgulhosa e isso devia bastar.

No entanto, a sua tia maquiavélica acrescentara uma cláusula no seu testamento que dificultava que pudesse reclamar a herança.

– Imagino que tenhas vindo até aqui por causa das condições que a tua tia impôs no testamento – comentou a rapariga.

– Suponho que ambos estejamos aqui pelo mesmo motivo – redarguiu ele. – Para resolver as condições do legado.

– Eu vivo aqui, tu não – disse ela, com um sorriso desafiante.

Estava a reclamar a sua propriedade? Se lera o testamento, saberia que ele poderia perder a herança se não tivesse um herdeiro no prazo de dois anos.

– Suponho que te sintas sob pressão – comentou a rapariga.

Ao ver o brilho do seu olhar, Xavier supôs que ela estava a desfrutar tanto daquela situação como a tia teria desfrutado. Conseguia imaginá-las juntas. E, é claro, a rapariga podia rir-se, visto que era a proprietária de cinquenta por cento da ilha. A única coisa que tinha de fazer era esperar e confiar que ele não tivesse um herdeiro. Então, toda a ilha passaria a ser dela. O facto de ela não ter dinheiro para se sustentar fazia com que tudo fosse incerto.

– Então, conheces as condições do testamento da minha tia? – perguntou ele, olhando para ela de cima a baixo.

– Sim – confirmou ela –, embora o advogado da tua tia me tenha tornado as coisas difíceis e, ao princípio, não tenha querido mostrar-me nada, insisti.

«Tenho a certeza disso», pensou ele.

– Não pôde negar-se. Para ser sincera, só queria ver o testamento com os meus próprios olhos para me certificar de que tinha herdado metade de Isla del Rey, mas então… – Mordeu o lábio inferior e olhou para outro lado.

– Sim? – perguntou ele, percebendo que, apesar do seu aspeto calmo, sentia preocupação. O pior erro que podia cometer era não levar aquela mulher a sério.

– Então, li a parte que se referia a ti – explicou ela, olhando para ele diretamente. – Portanto compreendo, que te sintas sob pressão. – Não pôde evitar sorrir antes de acrescentar: – Sempre soube que a doña Ana tinha um sentido de humor estranho, mas tenho de admitir que, desta vez, abusou. Talvez se não a tivesses ignorado durante tanto tempo…

– Fui castigado – declarou ele, num tom cortante. Não queria falar da tia com ninguém e muito menos com aquela jovem.

– O que é confuso – disse ela –, é isto. Sempre pensei que a doña Ana acreditava na família. Pelo menos, era a impressão que me dava, mas, agora, vejo que era um castigo. – Semicerrou os olhos ao pensar nisso.

«Tem uns olhos lindos», pensou Xavier.

– Um castigo para mim, não para ti – indicou ele.

– Mesmo assim… – Olhou para ele com interesse durante uns minutos. – Deves tê-la zangado muito. Bom, claro, mantendo-te afastado durante tanto tempo.

Ela não tinha medo de expressar os seus pensamentos. Quanto mais a conhecia, mais o intrigava. A sua primeira intenção fora expulsá-la da ilha a navegar numa balsa feita de dinheiro, no entanto, depois de a conhecer, duvidava que aceitasse uma coisa dessas. Era inteligente, desafiante e extremamente atraente. Algo que poderia intrometer-se no seu caminho. E Xavier não podia permitir que uma coisa dessas o distraísse. Tinha razão a respeito de aquele testamento poder causar o caos. Tinha a certeza de que a doña Ana conhecia as suas limitações. Ele era capaz de ganhar muito dinheiro, mas seria um pai terrível. Que necessidade havia de uma criança ter um pai incapaz de sentir?

– Será melhor irmos até à casa – sugeriu ele, virando-se para lá.

– O quê? Não – respondeu ela.

– Desculpa? – Virou-se para olhar para ela e viu que afundava os dedos do pé na areia.

– Devias ter contactado comigo da forma habitual e marcado uma reunião que não significasse um encontro na praia ao amanhecer – explicou, franzindo o sobrolho.

Ele inclinou a cabeça para esconder o seu sorriso. As pessoas costumavam tentar subornar a sua secretária pessoal para conseguir uns minutos do seu tempo e, no entanto, a única coisa que Rosie Clifton não fizera fora abanar a bengala da tia à frente da sua cara para tentar expulsá-lo da ilha.

– Disse que não! – exclamou ela, tentando bloquear-lhe o caminho. – Não é conveniente – insistiu.

Não era conveniente visitar a casa na sua própria ilha?

Talvez tivessem aberto imensas portas a Rosie Clifton num passado recente, mas nunca lhe tinham fechado uma porta na cara. Visitaria a casa e a ilha. E, depois, decidiria o que fazer com aquela rapariga.

– Talvez noutro momento? – perguntou ela, ao ver a expressão de Xavier. – Mais logo? – sugeriu, com um sorriso.

– Agora é o momento – insistiu ele e passou junto dela.