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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Maisey Yates

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Era uma vez... o desejo, n.º 95 - novembro 2019

Título original: The Prince’s Stolen Virgin

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-809-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Era uma vez…

 

Briar Harcourt avançou depressa pela rua enquanto fechava o casaco comprido de lã para se proteger da brisa de outono que soprava em Madison Avenue e que a atravessava até aos ossos.

Nesse outono estava um frio impróprio da estação, embora não importasse. Adorava a cidade nessa época do ano, apesar de experimentar sempre um sentimento estranho de perda e nostalgia, misturado com o ar frio, que era difícil de explicar.

Ficava ali, no limite da consciência, durante uns segundos, para depois desaparecer como uma folha levada pelo vento.

Sabia que tinha a ver com a vida prévia à sua chegada a Nova Iorque. Contudo, só tinha três anos quando os pais a adotaram, por isso não recordava nada da sua vida anterior. Só impressões, cheiros e sensações. E uma ansiedade estranha no estômago.

Era estranho, já que amava os pais e adorava a cidade, por isso, não deveria sentir essa ansiedade, já que não podia sentir saudades do que não recordava.

No entanto, às vezes, acontecia.

Briar parou por um instante porque sentia um ardor estranho na nuca. A multidão que havia atrás dela abriu-se durante uns segundos e viu um homem. Soube imediatamente que era o motivo da sensação de ardor. Olhava para ela. E, quando viu que ela o observava também, sorriu.

E foi como se o sol tivesse aparecido de entre as nuvens.

Era muito bonito, via-o dali. Tinha o cabelo preto puxado para trás, despenteado pelo vento. Não estava barbeado e algo na sua expressão, nos seus olhos, lhe indicou que tinha imensos segredos que ela nunca descobriria.

Era… Era um homem. Não tinha nada a ver com os rapazes com quem se relacionara na escola nem nas festas organizadas pelos pais no Natal, na casa da cidade, e no verão, nos Hamptons.

Não andaria por aí aos tropeções enquanto se gabava das suas conquistas e cheirava a cerveja. Não, nunca. Claro que não a deixariam falar com ele.

Afirmar que o doutor Robert Harcourt e Nell, a esposa, tinham sido educados à antiga não servia para o descrever. Porém, ela era filha única e tinham-na adotado tarde. Não só eram de uma geração diferente dos pais dos amigos, como sempre tinham deixado muito claro que era um bem precioso para eles, um presente inesperado.

Isso fazia-a sorrir sempre e fazia a ansiedade desaparecer.

Não se importava de fazer tudo o que pudesse por eles, de mostrar tudo o que lhe tinham oferecido ao criá-la. Sempre tentara fazer com que ficassem contentes por a terem adotado. Tentara com todas as suas forças dar o melhor de si própria, ser perfeita.

Tivera aulas de etiqueta e protocolo e fora a bailes de debutantes, embora não a atraíssem. Fora para uma universidade próxima de casa para poder passar todos os fins de semana com eles e para que não se preocupassem. Nunca tentara rebelar-se. Como podia rebelar-se contra quem a escolhera?

Mas, naquele momento, tinha vontade de o fazer e de se aproximar daquele homem que a observava com olhos travessos.

Pestanejou e o homem desapareceu tal como chegara, fundido na multidão de casacos pretos e cinzentos. Briar experimentou uma sensação inexplicável de perda, como se tivesse deixado escapar algo importante. Algo extraordinário.

«Não sabes se teria sido extraordinário. Nem sequer beijaste um homem na tua vida», pensou.

Era a contrapartida daquele excesso de proteção. Mas também não tinha vontade de beijar os rapazes idiotas que conhecia.

Os homens altos e elegantes eram outra coisa. Aparentemente.

Voltou a pestanejar e prosseguiu na direção para a qual se encaminhava ao princípio. Não tinha pressa. Estava de férias e passar os dias a deambular por casa não a entusiasmava, por isso decidira ir ao Met, cujas salas não se cansava de percorrer.

Porém, de repente, o museu e a arte pareceram-lhe carentes de beleza, pelo menos, comparados com o homem que acabara de ver.

Era ridículo.

Abanou a cabeça e acelerou o passo.

– Foges de mim?

Ela parou com o coração acelerado. Virou-se e quase chocou com o alvo dos seus desejos frustrados.

– Não – negou, com falta de ar.

– Andavas muito depressa.

Ah, a sua voz. Tinha um sotaque estrangeiro, espanhol ou uma coisa dessas. Era sensual, como a do homem que imaginava antes de dormir, um homem perfeito, de sonho, que provavelmente nunca conheceria.

De perto, era ainda mais bonito, deslumbrante. O seu sorriso revelava uns dentes perfeitos. Ao fechar os lábios, a sua forma era ainda mais cativante.

– Não – disse ela. – Só… – Alguém chocou com ela ao passar rapidamente ao seu lado. – Não queria estar no meio – acrescentou, enquanto apontava para a pessoa que acabara de passar como exemplo.

– Porque tinhas parado para olhar para mim – insistiu ele.

– Eras tu que olhavas para mim.

– De certeza que estás habituada a ser observada.

Não, pelo menos, não da forma que ele dava a entender. Ninguém gosta de ser diferente e ela era-o em muitos sentidos. Em primeiro lugar, era alta. Ele era mais alto do que ela, o que era reconfortante, já que não era habitual.

Contudo, ela era assim, com efeito: Alta, magra, de membros compridos… Além disso, o seu cabelo não lhe caía em ondas suaves como o das amigas. Custava-lhe imenso alisá-lo e costumava questionar-se se valia a pena. A mãe insistia que sim.

Era o contrário da típica rainha de beleza loira das escolas privadas em que estivera.

Destacava-se. E, quando se era adolescente, era a última coisa que se desejava.

Ainda que, agora que tinha vinte anos, começava a aceitar-se. De todos os modos, a sua primeira reação não era pensar que olhavam para ela porque gostavam do que viam. Não, pensava sempre que o faziam porque não estava onde lhe correspondia.

– Não especialmente – replicou, com sinceridade.

– Não acredito. És demasiado bonita para os homens não virarem a cabeça para olhar para ti.

Ela ficou corada e o coração começou a bater mais depressa.

– Não devo… Não devo falar com desconhecidos.

Ele riu-se.

– Então, devemos deixar de ser desconhecidos.

Ela hesitou.

– O meu nome é Briar.

Uma expressão estranha atravessou o rosto dele, mas foi momentânea.

– É bonito. Diferente.

– Suponho que sim. – Sabia que era. Mais outra coisa que a fazia destacar-se.

– José – disse ele, enquanto estendia a mão.

Olhou para ele durante uns segundos como se não soubesse o que ele tencionava fazer. Mas claro que sabia. Queria apertar a mão dela. Não era estranho, era o que as pessoas faziam quando se encontravam. Inalou com força e os seus dedos uniram-se aos dele.

Foi como se tivesse sido atingida por um raio. A eletricidade era tão intensa, tão espantosa, que ela se soltou imediatamente e recuou. Nunca sentira algo igual e não sabia se queria repetir a experiência.

– Tenho de ir.

– Não é verdade – contradisse ele, com insistência.

– Sim. Tenho marcação no cabeleireiro. – Uma mentira que lhe ocorreu sem dificuldade porque acabara de estar a pensar no seu cabelo. Não podia dizer-lhe que ia ao museu porque poderia oferecer-se para a acompanhar até lá. Ainda que, pensando bem, também pudesse oferecer-se para a acompanhar ao cabeleireiro.

– Ah, sim?

– Sim. Tenho de ir. – Virou-se e afastou-se depressa.

– Espera! Não sei como entrar em contacto contigo. Pelo menos, dá-me o teu número de telefone.

– Não posso. – Por muitas razões, mas, sobretudo, por causa do formigueiro que continuava a sentir na mão.

Começou novamente a andar depressa.

– Espera!

Ela não o fez. Continuou a andar. E a última coisa que viu foi um táxi amarelo que a atingia.

 

 

Sentia calor. Assaltou-a uma sensação estranha, como se estivessem a enchê-la de oxigénio. Começou a sentir um formigueiro nas extremidades. Sentia-se imaterial, como se estivesse a flutuar num espaço escuro.

No entanto, não estava assim tão escuro. Havia luz. Paredes de mármore branco com decorações douradas. Um lugar onde não estivera antes e que, apesar disso, lhe parecia que conhecia.

A pouco e pouco, muito lentamente, voltava a sentir-se ela própria.

Em primeiro lugar, mexeu a ponta dos dedos. E, depois, apercebeu-se de outras coisas, da fonte de calor que sentia.

Uns lábios estavam pousados nos seus. Estavam a beijá-la.

Abriu os olhos e, nesse mesmo instante, reconheceu a cabeça de cabelo preto que estava inclinada por cima da dela.

O homem da rua.

A rua. Estava a atravessar a rua.

Continuava ali? Não recordava ter-se ido embora, mas sentia-se… presa.

Abriu mais os olhos e olhou à volta. Havia uma luz fluorescente por cima dela e monitores de lado. E estava amarrada a alguma coisa.

Cerrou o punho e sentiu uma pontada.

Olhou para o braço e viu que tinha uma agulha na veia.

Depois, voltou a concentrar-se no facto de estarem a beijá-la. Supôs que numa cama de hospital.

Levantou a mão e tocou na face do homem, o que fez com que se afastasse dela.

– Querida, acordaste. – Parecia muito aliviado, como se não fosse um desconhecido. Além disso, beijara-a, o que também não era próprio de um desconhecido.

– Sim. Quanto tempo…? Durante quanto tempo dormi? – perguntou à enfermeira que estava atrás do homem. Era estranho que a tivesse beijado. E voltaria a pensar nisso imediatamente, mas, primeiro, tentou orientar-se.

– Esteve inconsciente durante uma hora, mais ou menos.

– Ah… – Tentou sentar-se na cama.

– Tem cuidado – avisou ele. – Talvez tenhas um traumatismo.

– O que se passou?

– Atravessaste a rua quando vinha um táxi. Não consegui deter-te.

Recordou vagamente que a chamara e que ela continuara a andar, um pouco desesperada. Sabia que os pais a protegiam demasiado, que tinham tentado inculcar-lhe o medo pelos desconhecidos, mas ela aceitara-o, apesar de lhe parecer um pouco exagerado.

Tinham-lhe dito que devia ter muito cuidado porque Robert era um médico famoso que costumava atender políticos e contribuía para redigir leis sobre o sistema de saúde, o que o transformava num alvo. Por isso, ela devia estar muito atenta. Além disso, eram ricos.

Quando era criança, tudo isso a levara a ver o bicho papão em cada desconhecido simpático da rua, mas supunha que aquilo a mantivera a salvo. Até que conhecera aquele homem, correra e fora atropelada por um carro.

Os pais! Interrogou-se se lhes tinham ligado. Só esperavam que voltasse ao fim da tarde.

– Desculpe… – Mas a enfermeira saíra depressa do quarto, provavelmente, para ir chamar um médico. Não entendia porque não podia verificar os seus sinais vitais.

– O meu pai é médico – disse, olhando para José. Fora assim que lhe dissera que se chamava.

– É bom saber.

– Se ainda não lhe ligaram, deviam fazê-lo. Quererá saber como estão a tratar-me.

– Lamento – desculpou-se José, erguendo-se.

De repente, o seu rosto parecia diferente, mais aguçado e duro. Um calafrio leve de medo percorreu-a de cima a baixo.

– O que lamentas?

– O teu pai não vai receber informação sobre o teu tratamento porque vais ser transferida.

– Ah, sim?

– Sim. Parece que estás estável. A minha enfermeira confirmou-o.

– A tua enfermeira?

Ele deixou escapar um suspiro profundo e consultou o seu relógio. Depois, ajustou o punho da camisa com um movimento seco.

– Sim, a minha enfermeira – confirmou, num tom exasperado, como se estivesse a explicar alguma coisa a uma criança. – Não tens de te preocupar. O meu médico vai tratar de ti quando chegarmos a Santa Milagro.

– Onde é isso? Não entendo.

– Não sabes onde é Santa Milagro? Bom, é motivo para julgar o sistema educativo dos Estados Unidos. É uma desgraça que te tenham educado aqui, Talia.

Algo estranho inquietou-a, algo tão profundo como esse sentimento de nostalgia que experimentava quando o ar começava a arrefecer.

– Não me chamo Talia.

– Está bem. Briar. – O seu sorriso era irónico. – Peço desculpa pelo erro.

– O facto de não saber onde é Santa Milagro não é o maior problema que temos. O maior problema é que não vou ver o teu médico. És um perturbado que encontrei na rua. Suponho que tenhas roubado esse casaco, que é muito bonito, e que sejas um vagabundo transtornado.

– Um vagabundo? Não. Louco? É discutível, não vou negá-lo.

– José…

– Não me chamo assim. Sou o príncipe Felipe Carrión de la Viña Cortez. E tu, minha querida Briar, pertences-me por direito. Passei muitos anos à tua procura e, finalmente, encontrei-te. E virás comigo.