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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Catherine Schield

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Canção para dois, n.º 1803 - novembro 2019

Título original: Little Secret, Red Hot Scandal

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-815-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Nate Tucker deitou-se no sofá que havia na sala de controlo da West Coast Records’s Los Angeles, depois de dizer ao editor de som para fazer uma pausa. Fechou os olhos e ficou a ouvir o tema que tinham acabado de gravar. Ao longo dos anos, treinara o seu ouvido para perceber cada matiz de uma interpretação e, mentalmente, ajustou as frequências, ampliou ou cortou a equalização e acrescentou um toque de reverberação para melhorar o som natural.

Contudo, nada podia emendar o que estava a ouvir na sua própria voz, uma prova de que chegara demasiado longe na parte final da sua viagem de doze meses.

Esperava que três semanas de descanso lhe permitissem recuperar as cordas vocais, mas o seu registo diminuíra e continuava a estar rouco. A cirurgia às cordas vocais que o esperava no dia seguinte era inevitável. As blasfémias reverberaram na sala. Mais outra coisa para que também não tinha tempo.

Desde que voltara a Las Vegas depois da digressão mundial com a banda, Free Fall, vira-se cheio de trabalho. Ainda bem que conseguira escrever um pouco durante as viagens, porque ficara sem espaço e sem energia para compor o seu álbum seguinte, algo que talvez, visto bem, não fosse assim tão mau. Tendo a voz fora de combate, não ia conseguir cantar em breve.

O telemóvel tocou e olhou para o ecrã antes de se endireitar no sofá. Nos últimos três dias, ligara meia dúzia de vezes a Trent Caldwell, o seu sócio e amigo. Para além de serem sócios no Clube T, o mais famoso clube noturno de Las Vegas de que ele, Trent e Kyle Tailor eram proprietários, Nate e Trent eram sócios na sua empresa discográfica, a Ugly Trout Records de Las Vegas, e da West Coast Records, a empresa que a família comprara há pouco tempo.

Silenciou a música que saía dos altifalantes e atendeu.

– Já estava na hora – replicou, sem rodeios. – Onde te tinhas metido?

– A Savannah começa a rodar na semana que vem, portanto, levei-a e ao Dylan para um hotel com spa em Washington. – Parecia mais relaxado e feliz do que nunca. Ter-se comprometido com o amor da sua vida obviamente assentara-lhe bem. – Ambos tivemos o telemóvel desligado.

Desde que reiniciara a relação com a mulher que, antes, fora a sua amante e descobrira que fora pai, o amigo era outra pessoa. Entendia a transformação depois do que acontecera com Mia. Era fácil ser cínico e desconfiado com essas coisas até lhe acontecerem.

– Incrível.

A inveja causou-lhe uma pontada. Não era próprio dele desejar o que outro homem tinha. Ele já tinha fama e dinheiro, mas não era a sua motivação principal. Nate adorava o que fazia e não se importava se o fruto do seu trabalho gerava ou não um monte de dinheiro. Era a música que o motivava.

Até ver o amigo a apaixonar-se loucamente por Savannah. Então, a música deixara de ser tudo.

– Li a tua mensagem sobre a reunião com a Ivy Bliss. Enlouqueceste?

– A que te referes? – perguntou, embora soubesse bem.

Ivy Bliss fora atriz quando era criança e, ao crescer, transformara-se numa princesa da pop com uma voz impressionante. Há cinco anos, assinara um contrato com a West Coast Records e tinham gravado dois álbuns que não tinham sido maus, mas, por causa da gestão pobre da marca, a produção não fora do melhor e as datas tinham-se atrasado tantas vezes que os fãs tinham acabado por perder o interesse.

Isso acontecera antes de Trent e Nate tomarem o controlo da empresa da família, há um mês. A sua intenção era dar a volta à empresa discográfica e fazer com que o sucesso que o novo álbum de Ivy Bliss ia colher fosse o seu ponto de partida.

Porém, não fora por isso que Nate entrara em contacto com o pai e produtor de Ivy para lhe oferecer a produção do seu novo álbum.

– Não paraste de te queixar dela durante as oito semanas que passaste na digressão com ela.

– Ah, isso.

– Ah, isso – imitou-o. – Um segundo – pediu. Ouvia-se a voz de um bebé. – Dylan, o papá está a falar ao telefone com o tio Nate. Queres cantar-lhe a canção nova?

Não pôde evitar sentir uma pontada no peito ao ouvir Dylan a balbuciar uma canção com o pai. Desde que decidira fazer carreira na música, toda a sua energia fora usada para compor, atuar e produzir. Agora, desfrutava do dinheiro que tudo isso lhe dera, no entanto, havia algo que o consumia por dentro.

– Que bom – felicitou-o, quando acabou a canção.

– Não te desconcentres. Vamos falar da Ivy. Porque queres produzir o novo álbum dela?

Nate suspirou.

– Não tenho de te recordar que essa rapariga tem talento e está pronta para triunfar. Só precisa de um bom álbum.

– É um pesadelo com vinte e cinco anos. Isso é o que é.

– Sim… Bom, nem tanto.

Há sete anos, quando tinha dezassete e atuava num musical da Broadway, Ivy ficara com o número de Nate e, durante quatro meses, enviara-lhe mensagens apaixonadas de texto e fotografias de si própria em trajes insinuantes. Ao princípio, respondera educadamente. Depois, passara para o silêncio. No fim, tivera de entrar em contacto com o pai dela e avisá-lo de que aquilo não ia parecer bem se alguém descobrisse. O contacto cessara.

– É um pouco parva e muito mimada – admitiu –, mas as superestrelas são assim, às vezes.

– Porque não recomendas que contacte o Savan ou o Blanco?

Trent conhecia perfeitamente a reputação de «difícil» que Ivy tinha nos estúdios de gravação. Não aceitava sugestões e as críticas deixavam-na histérica. Nenhum dos produtores que Trent mencionara quereria voltar a trabalhar com ela.

– Faço-o pela West Coast Records.

Outra mentira. Havia outra dúzia de pessoas que podia produzi-la e gravar um álbum que a levaria ao topo das listas.

– Não acredito nisso. – Trent não conseguira fazer com que todas as suas uniões profissionais fossem um sucesso sendo tolo. – Um momento… Não estás apaixonado por ela, pois não? Bolas! É de loucos, mas a minha irmã disse-me que te tinhas apaixonado por alguém na digressão. Nunca me teria ocorrido pensar que era a Ivy Bliss!

– Não é. – Decidiu mudar de assunto antes de Trent insistir. – A outra razão por que te liguei é porque vão operar-me amanhã.

– Operar? O que se passa? – inquietou-se.

– Os pólipos nas cordas vocais – disse, tirando-lhe importância. A situação era séria, mas não queria preocupá-lo. – Preciso que mos tirem.

– Parece feio.

– É uma cirurgia sem hospitalização. Algumas horas, no máximo. Só queria que soubesses que vou estar fora de jogo durante uns dias.

– Queres que te acompanhe?

– Para quê? Para me dar a mão? Vá lá…

– Está bem. Mas, se precisares de alguma coisa, diz-me.

– Claro.

 

 

Uma hora depois de desligar, Nate entrava na sala de conferências para ter a sua reunião com Ivy Bliss, mas não encontrou Ivy e o pai, encontrou Mia Navarro, a irmã gémea e assistente pessoal de Ivy. O coração acelerou por ela e quis aproximar-se, mas parou. O que raios ia fazer? Abraçá-la contra o seu peito? Dizer-lhe que aquelas três últimas semanas tinham sido um inferno sem ela? Que desejava ouvir a sua voz e que o dia sem o seu sorriso se tornava cinzento?

Ela já fizera a sua escolha e o sortudo não fora ele.

– Como está tudo? – perguntou, procurando algum rasto de sofrimento: Olheiras, tristeza na expressão… Não parecia alegre, mas tentou disfarçar.

– Otimamente. A Ivy apareceu no The Tonight Show e no Ellen. Também lhe pediram para participar no American Music Awards e é claro que está muito entusiasmada com a hipótese de trabalhar contigo.

Nate teve de controlar a impaciência. Não era possível que voltassem a estar na casinha da partida! Passara semanas a conversar com ela na digressão, receando que, se pressionasse um pouco mais, voltasse a retirar-se para o papel de assistente pessoal de Ivy Bliss. Muitas vezes, questionara-se porque se empenhava desse modo em chamar a atenção de alguém que queria passar despercebido, mas, depois, sorria e o dia brilhava.

Se conseguisse convencê-la a deixar a irmã… Tinha muito mais para oferecer ao mundo do que o papel de assistente de Ivy Bliss. Para começar, tinha um talento tremendo para escrever canções. Quando descobrira que era ela que compunha todos os temas da irmã, mas que, depois, não aparecia nos créditos, quase fora ao quarto de Ivy para exigir o devido reconhecimento.

– Não me referia à tua irmã com a pergunta, mas a ti.

– Estou bem. Nunca estive melhor.

Mia conseguia passar horas a falar de Ivy, mas, quando se tratava de falar de si própria, a sua eloquência ficava reduzida a duas palavras.

– Diz-me a verdade.

Estava a perguntar pelo seu bem-estar, mas, na verdade, o que queria saber era se sentira a falta dele. Era uma loucura que se tivessem conhecido há apenas três meses e já fosse para ele como o ar para respirar.

– Estou muito bem. A sério.

– O que fizeste desde que a digressão acabou?

– O mesmo de sempre – respondeu, encolhendo os ombros.

Quer dizer, que só importava o que Ivy fazia. Sendo a sua assistente pessoal, vivia e respirava Ivy Bliss, a princesa da pop.

– Espero que tenhas tido um pouco de tempo livre.

– Convidaram a Ivy para um evento com fins humanitários em South Beach e ficámos mais alguns dias lá sobretudo para desfrutar da praia.

Ivy exigia toda a energia e tempo de Mia. O facto de terem conseguido passar algum tempo a sós durante as oito semanas que a digressão durara fora quase um milagre, mas tinham tido de o fazer às escondidas, como adolescentes.

Durante um tempo, interrogara-se se se sentira atraído por Mia porque desejava salvá-la das garras da irmã. Quando estava com a irmã, era como um ratinho quieto num canto, levando-lhe um chá, tendo preparado o seu aperitivo favorito ou relaxando a sua tensão com uma massagem suave nos ombros. E incomodara-o que Ivy a tratasse como se fosse uma empregada e não a irmã. Nunca parecia apreciar como o seu comportamento amável e atencioso ia mais além do papel de assistente pessoal.

– Não gosto de como as coisas ficaram entre nós – declarou, finalmente, dando um passo para ela.

Mia fez o mesmo, mas para trás.

– Pediste-me uma coisa que não podia dar-te.

– Pedi-te para vires a Las Vegas porque queria ter a possibilidade de te conhecer melhor.

– Está tudo a acontecer demasiado depressa. Mal nos conhecíamos. – Fora a mesma desculpa que usara há três semanas e parecera-lhe tão má na altura como naquele momento. – E não posso deixar a Ivy sozinha.

– Poderia procurar outra assistente.

Também fora o mesmo que ele dissera na manhã depois da última atuação. A manhã depois da noite que tinham passado juntos até amanhecer.

A última paragem fora Sidney e Nate certificara-se de que deixava Ivy ocupada enquanto fugia com Mia para um quarto de hotel romântico com vista para a baía. Lá, tinham feito amor pela primeira vez. Porém, assim que o sol iluminara o quarto, Mia entrara no avião de Ivy, desfazendo-se em desculpas por ter demorado tanto.

– Não sou apenas a assistente dela. Sou a irmã – declarara então e repetia naquele momento. – Precisa de mim.

«Eu também preciso.»

Não ia repetir essas palavras. Não serviria de nada. Continuaria a escolher a obrigação para com a irmã acima de ser feliz com ele. E não era capaz de compreender porquê.

– A tua irmã é uma menina malcriada. – A frustração estava a ganhar o jogo. – A única razão por que acedi a trabalhar com ela no seu novo álbum foi porque estaria contigo.

Os olhos lindos e cor de chocolate de Mia esbugalharam-se e, embora separasse os lábios, não disse uma palavra.

O telemóvel tocou.

– É a Ivy – adivinhou, quase aliviada. – Vou atender. – E pôs em alta voz. – Olá, Ivy. Estou com o Nate. Ambos estamos a ouvir.

Depois de uma breve pausa, a voz de soprano de Ivy saiu do telemóvel.

– Olá, Nate. A Mia pediu-te desculpas por não ter podido ir à reunião? Gostaria que bebêssemos alguma coisa mais tarde para conversar sobre o álbum.

Mia não olhou para ele.

– Ainda não.

– Então, digo-te eu – redarguiu, usando um tom sedutor. – Por favor, passa pela minha casa às oito.

O significado do convite era claro como a água para ele.

– Se querias falar do álbum, devias ter vindo.

«Não a zangues», disse Mia em língua gestual. Durante a digressão, tinham descoberto que ambos a conheciam e Nate usara-a para que vencesse a timidez.

– A Mia não te contou que tive um problema de agenda? Tive de me reunir com um representante da Mayfair Cosmetics. Ainda não há nada acordado, mas estão à procura de uma cara nova para a sua linha de beleza.

«Podes ficar para jantar?», perguntou-lhe Mia e Nate teve de conter o seu temperamento recordando-se que acedera a trabalhar com Ivy para poder estar perto de Mia e convencê-la a escolhê-lo em detrimento da irmã daquela vez.

– Posso fazer uma reserva para jantar – sugeriu.

– Perfeito.

– Vou dar os detalhes à Mia e, desta vez, é bom que apareças.

E enquanto Mia olhava para ele, horrorizada, Nate desligou a chamada.

– Reservar tempo no estúdio custa dinheiro. Estou a trabalhar com uma dúzia de artistas neste momento e se a Ivy não vai aparecer disposta a trabalhar, é melhor procurar outro produtor.

– Não, por favor! Espera trabalhar contigo – rogou, com ansiedade. – Vou certificar-me de que está onde tem de estar quando tu pedires.

– Prometes?

E esticou a mão. Queria verificar se continuava a sentir o mesmo por ela. Desde o começo, atraíra-o. Era uma mulher natural e competente, enquanto Ivy era artificial e inconstante, mas era a eletricidade que circulava entre eles quando se tocavam que queria voltar a experimentar.

– Prometo – confirmou ela, olhando para ele com seriedade enquanto lhe apertava a mão.

Mia esperava que não percebesse que lhe tremia a mão. Naqueles segundos maravilhosos, a irmã apagou-se do seu pensamento, deixando apenas aquele homem alto e carismático com os olhos da cor das nuvens de tempestade.

Ela sempre fora invisível. Quem ia reparar numa menina comum que se escondia por trás da irmã linda e carismática? Essa diferença entre as gémeas aumentara quando lhe deram um papel numa série de televisão e foi para Broadway para começar a sua carreira musical, de modo que ela ficara presa na sombra.

Contudo, então, conhecera Nate. Nem num milhão de anos teria imaginado que um homem do talento e do carisma de Nate, a voz do grupo Free Fall, ia reparar na sua existência e muito menos sentir-se atraído por ela. Era a primeira pessoa que a via como uma pessoa independente da irmã, com os seus próprios interesses e objetivos, portanto, como podia não se apaixonar por ele? Que mulher de sangue quente não o teria feito?

Mas a digressão acabara, levando com ela a fantasia em que vivera durante quase dois meses. Como é que alguém com dois Grammys e seis nominações nos seus trinta e um anos de vida poderia reparar numa insignificância como ela? Só podia ser uma distração para ele, portanto, não tivera outro remédio senão rejeitar a oferta de o acompanhar a Las Vegas.

– Estás bem? – perguntou ele.

Continuavam com as mãos unidas e Mia corou.

– Desculpa – disse, soltando-se. – Fiquei a pensar na sorte que a Ivy tem por trabalhar contigo.

– Mia, sobre o que aconteceu em Sidney…

– Não tens de falar disso. A digressão foi uma loucura. Divertimo-nos muito! Nunca o esquecerei.

– Não é a isso que me refiro e tu sabes.

– Por favor, Nate… – Como desejava render-se àquele olhar e correr para os seus braços… – Tens de te concentrar na Ivy. E eu também. Está assustada com a nova direção que a sua carreira está a seguir. Disse-lhe que eras o melhor produtor do setor e que chegaria a platina contigo.

– Não me importo com a tua irmã ou com o álbum. Faço isto para poder passar mais tempo contigo.

As suas palavras afetaram-na, mas abanou a cabeça.